A mobilização das mulheres negras e os abrigos da Operação Acolhida
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🔸 “O Julho das Pretas é um dos exemplos de como os movimentos de mulheres negras brasileiras permanecem atuando em resposta aos desafios de uma conjuntura política cada vez mais letal para as comunidades negras e elaborando gramáticas políticas próprias de sobrevivência e combate às opressões”, escreve Ana Luísa Machado de Castro, em artigo na Gênero e Número. No Dia da Internacional Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado ontem, ela resgata a história da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver de 2015, que reuniu 50 mil mulheres negras em Brasília. “Já àquela época, a marcha apontava para a proposta de construção de um novo pacto civilizatório, ancorado na utopia da construção de um mundo de todos(as) e para todos(as)”, afirma a doutoranda em Ciência Polícia.
🔸 A histórica marcha de 2015 terá sua segunda edição no ano que vem. A expectativa, dez anos depois, é reunir ainda mais mulheres. “A consequência [da marcha de 2015] foi a criação de vários coletivos e organizações novas. Por isso, em 2025 acreditamos que vamos levar um milhão de mulheres para Brasília com toda certeza, porque agora estamos muito mais organizadas”, afirma Alaerte Martins, integrante da Rede de Mulheres Negras do Paraná. A partir de conversas com lideranças de todo o país, a revista Afirmativa conta como está a mobilização e os motivos pelos quais as mulheres vão marchar no ano que vem. “Marchamos por reparação econômica, histórica e geográfica, pelos mais de 380 anos de escravização colonial, pelo bem viver, para garantir a vida das mulheres e da população negra e que a população originária esteja de pé, pelo direito à vida em toda a sua humanidade”, explica Cleusa Silva, paulista, coordenadora da Casa Laudelina de Campos Melo.
🔸A propósito: 25 de julho é também o Dia Nacional Tereza de Benguela. “Com sua articulação, gestão e poder político, ela comandou um quilombo que dependia da sua capacidade de ver o mundo, da sua intelectualidade em relação à agricultura, em relação à forma de se manter vivo e se manter viva”, afirma Halda Regina, coordenadora da Ayabás – Instituto da Mulheres Negras do Piauí. O Portal Catarinas resgata a história de Tereza, cuja forma de estar no mundo instiga ainda hoje outros formatos de organização social do povo preto e quilombola.
🔸 Em áudio: as Olimpíadas de Paris têm abertura oficial hoje. O Brasil volta aos jogos depois de ter tido seu melhor desempenho na história em Tóquio, em 2021, com 21 medalhas. Nesta edição, pela primeira vez, a festa vai acontecer fora de um estádio esportivo: o evento será em embarcações que vão atravessar o rio Sena na capital francesa. O “Durma com Essa”, podcast do Nexo, traz alguns dos destaques do Brasil nos jogos, mostra os investimentos do país nas modalidades olímpicas e lembra que, até 1989, as políticas para o esporte no Brasil foram conduzidas pelo Ministério da Educação.
🔸 Uma lista: composta em sua maioria por mulheres, a delegação brasileira tem boas chances em diversas modalidades, de ginástica e levantamento de peso ao judô e ao badminton. A Alma Preta destaca dez atletas negros para acompanhar nesta edição das Olimpíadas e traz os dias em que vão competir.
📮 Outras histórias
Em vídeo: bioma exclusivo brasileiro, a Caatinga também foi devastada pelas ações do homem. Mas há ainda grandes porções preservadas. É o caso da Reserva Natural Serra das Almas, que tem quase 6,3 mil hectares entre Buriti dos Montes, no Piauí, e Crateús, no Ceará. A Marco Zero visitou o trecho no sertão dos Crateús ainda no período das chuvas, quando a vegetação se mostra exuberante e verde. Na área totalmente conservada, são quase 800 espécies de plantas catalogadas, mais de 40 tipos de mamíferos e mais de 200 pássaros. A reportagem conversa com quem trabalha pela conservação do bioma dentro e fora da reserva.
📌 Investigação
Crianças indígenas com desnutrição, comidas com insetos, doenças e habitações sem climatização. São alguns dos problemas apontados pela população venezuelana refugiada, ex-trabalhadores humanitários e pesquisadores, com relação à estrutura da Operação Acolhida, em Roraima. A Agência Pública visitou alguns dos abrigos e ouviu as principais denúncias, a maioria relacionada à alimentação. Segundo María Carmen (nome fictício), as pessoas têm ficado doentes devido ao modo como os alimentos são armazenados e distribuídos para a população. “A comida é muito triste! As crianças têm problema de desnutrição, por não a comerem”, diz. Atualmente, a Operação Acolhida tem sete abrigos, dos quais três são voltados para indígenas refugiados. A administração é feita pela Agência da ONU para Refugiados, a Acnur. Já a segurança, zeladoria e distribuição das refeições ficam a cargo do Exército Brasileiro.
🍂 Meio ambiente
Em meio ao avanço das plantações de soja, milho e algodão, mulheres do município de Balsas (MA) tomaram a frente para consolidar redes extrativistas que incentivam o empoderamento feminino no campo. Elas vivem no Matopiba, fronteira agrícola que inclui 337 municípios nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A Eco Nordeste conta como as mulheres do Sul do Maranhão são protagonistas de iniciativas que geram renda e valorizam as riquezas do Cerrado. “A mulher sempre tem uma carga de trabalho maior. Ela cuida da horta, do quintal, da casa, da cozinha, das crianças, muitas vezes com pouca capacitação e assistência técnica. Os projetos vieram exatamente para potencializar esse trabalho”, diz Raimunda Francisca Paz, ativista social de Balsas.
📙 Cultura
“Enquanto a gente não devolver as memórias a quem elas pertencem, aos povos tradicionais, aos povos negros, a gente não vai ter paz”, afirma José Eduardo Ferreira Santos, professor, pesquisador e co-fundador do Acervo da Laje, criado em meados de 2010 para reunir objetos artísticos da população Subúrbio Ferroviário de Salvador, na Bahia. Segundo o Nonada, a organização é uma entre dezenas de coletivos e instituições do Brasil voltadas a salvaguardar e preservar bens culturais e históricos da memória negra. A Rede de Acervos Afro-brasileiros, coordenada pela Associação Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, contabiliza 63 organizações em 16 estados.
🎧 Podcast
Por meio de roteiros turísticos e educativos, a guia de turismo Augusta França conta histórias sobre os quilombos, o engenho e as memórias da população negra que construiu a cidade de Santos (SP). O “Juicysantos Podcast”, produção do Juicy Santos, recebe Augusta, criadora do Mochilando Afroculturas, projeto que dá visibilidade para os nomes e as narrativas negras da região. “Fui participar de alguns roteiros [de afroturismo] em São Paulo e começou uma inquietação porque pensava ‘alguém tem que fazer isso em Santos’. Tem tanta história que as pessoas desconhecem totalmente, que apenas quem está no ativismo negro e militando pela temática racial que acaba conhecendo”, afirma.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Cuido da minha saúde sexual prestando atenção em mim”, afirma a pesquisadora social e aposentada, Mapy Barbosa. Moradora da Vila Sílvia, na zona leste de São Paulo, Mapy, de 67 anos, fala sobre como a sua sexualidade se mantém importante nessa fase da vida e que está relacionada ao que considera bem-estar, saúde, autoestima e autocuidado. “Eu descobri a minha sexualidade me tocando mesmo, fui descobrindo que em alguns lugares do corpo causava sensações interessantes e gostosas. E assim foi seguindo”, conta ela, em entrevista à Periferia em Movimento. Por meio de seu exemplo, Mapy busca quebrar estereótipos sobre o envelhecimento e o desejo sexual depois dos 60 anos.
Correção: Em nota na edição de ontem, sobre a reportagem “Leia que eu te escuto”, da revista Quatro Cinco Um, o link foi publicado erroneamente. O link correto está aqui.