A privacidade do brasileiro no Whatsapp e a queda de multas na Amazônia
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Um possível ataque hacker levou o governo a acionar a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na manhã de ontem. O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos informou que o Sistema Eletrônico de Informações sofreu um “incidente de segurança cibernética”, segundo a CartaCapital. Trata-se da plataforma onde caminham processos administrativos de nove ministérios e de dois outros órgãos.
🔸 No Whatsapp, a privacidade do brasileiro tem menos valor que a do europeu. Por aqui, o serviço de mensagens tem acesso aos horários e endereços onde esteve o usuário, aos links em que ele clica, entre outras informações, todas compartilhadas com a Meta. Se não concordar com isso, não é possível usar o app. Embora as leis de proteção de dados do Brasil sejam semelhantes às da Europa, há diferenças na interpretação e no risco assumido pelas empresas – lá, a fiscalização é mais efetiva, e as consequências, mais severas. A Agência Pública revela que o Ministério Público Federal (MPF) foi à Justiça para questionar as políticas de privacidade menos rigorosas no Brasil do que na União Europeia. O MPF quer que o Whatsapp pague multa de R$ 1,73 bilhão por impor alterações nas políticas em 2021.
🔸 Pela primeira vez em 33 edições, as Olimpíadas terão o mesmo número de homens e mulheres competindo: 5.250 atletas de cada gênero disputam os jogos em Paris neste ano. A classificação binária, no entanto, deixa de fora atletas trans, como Quinn, atleta da Seleção Feminina de Futebol do Canadá, atual campeã no futebol feminino. Na delegação brasileira, as mulheres são maioria, com 153 atletas ante 124 homens. A revista AzMina traz uma lista de apostas de medalhas para as brasileiras em diferentes modalidades. O país tem chances de trazer o ouro, por exemplo, no futebol, no vôlei e no skate.
🔸 A propósito: o rio Sena, que atravessa Paris, foi despoluído para as Olimpíadas. A proposta da edição francesa é que esta seja a edição mais sustentável da história, com 95% das instalações criadas a partir de estruturas anteriormente existentes. A limpeza do Sena, impróprio para banho desde 1923, foi um dos principais investimentos. O Nexo mostra como foi feita a despoluição e como o projeto pode ser transposto para os rios Pinheiros e Tietê, em São Paulo. “São Paulo é quase 15 vezes maior em extensão territorial e tem uma população quase seis vezes maior que a de Paris. Apesar de o rio Tietê ser maior em comprimento, por exemplo, o Sena tem mais volume hídrico. Em resumo, há dificuldades para os dois lados, mas um projeto como o de Paris em São Paulo seria de uma magnitude bem maior”, afirma Jacques Paes, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas.
📮 Outras histórias
Em vídeo: um dos bairros mais populosos da zona sul de São Paulo, o Campo Limpo tinha uma praça sem manutenção, com brinquedos quebrados, o que inviabilizava o uso pela crianças. “A gente sempre vai para o Parque Augusta, o Parque Higienópolis, e a gente via lá o capricho nessas áreas ditas nobres, né? Mas a periferia também é nobre”, conta o morador Thiago Vinicius, que reuniu voluntários para revitalizar a praça. A Agência Mural mostra que a mobilização dos moradores fez renascer o espaço como um parque, com brinquedos inclusivos, como um balanço para crianças cadeirantes.
📌 Investigação
A aplicação de multas por crimes ambientais na Amazônia caiu 67,3% nos primeiros seis meses deste ano em relação ao mesmo período de 2023. A partir de análise de dados de alerta de desmatamento e de registros de infrações, a InfoAmazonia aponta que a queda coincide com a greve de servidores ambientais, que negociam melhores condições de trabalho com o governo federal desde o ano passado. Neste mês, a paralisação alcançou 24 estados. Apesar da redução no desmatamento da Amazônia Legal, os municípios mais afetados pela destruição foram aqueles em que a aplicação de multas ambientais caiu, um efeito colateral da greve dos servidores. Para Márcio Santilli, sócio-fundador Instituto Socioambiental (ISA) e ex-presidente da Funai, a falta de acordo do governo com a categoria pode prejudicar os indicadores.
🍂 Meio ambiente
As árvores em montanhas na Mata Atlântica estão migrando para pontos mais altos. Elas buscam temperaturas mais amenas para sobreviver. É o que revela um estudo pioneiro publicado na revista científica “Journal of Vegetation Science”. Segundo O Eco, a mudança das árvores é um alerta de como a crise climática pode alterar a composição de floras nativas. “O preocupante é que espécies adaptadas às temperaturas mais frias correm risco de extinção à medida que o mundo continua a aquecer”, afirma Rodrigo Bergamin, principal autor do estudo. Há ainda um mistério a ser decifrado: se a maioria das árvores escala as montanhas, nas florestas de baixa altitude, elas descem. “Nossa hipótese é que essa migração esteja sendo causada por mudanças na competição entre espécies”, diz o pesquisador.
📙 Cultura
“Gostei mais do Pedro lendo ‘Cem Anos de Solidão’ para mim do que quando li sozinha.” A frase é de Ruth Rocha, a celebrada autora de obras infantis, hoje com 93 anos de idade. Pedro, 25, é seu neto. Ele e a irmã de Ruth lêem livros em voz alta para a escritora, cuja vista começou a fraquejar. Já foram 55 títulos, e a obra da vez é “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves, de quase mil páginas. “Enfeita minha velhice, eu que não posso fazer muita coisa”, afirma Ruth. A revista Quatro Cinco Um conta a história de casais, amigos, avós e netos que lêem em voz alta uns para os outros.
🎧 Podcast
Pouco antes do recesso parlamentar, o Congresso aprovou a primeira parte da reforma tributária, com alguns pontos que não apareciam no texto original. O principal deles é a inclusão das carnes na cesta básica, sujeitas a uma alíquota zero. No “PodTax”, produção do Jota, a editora de Tributos da plataforma, Bárbara Mengardo, conversa com a tributarista Maria Carolina Gontijo. “Quando a gente pensa na inclusão das proteínas na cesta básica e sua isenção, o que terminamos por fazer é beneficiar as pessoas que mais consomem esse produto de uma maneira ampla, que são as famílias numa condição financeira melhor, ou seja, estamos de novo favorecendo quem, teoricamente, não precisaria”, afirma Gontijo.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
No primeiro semestre deste ano, o Brasil registrou quase cinco feminicídios por dia. Mais de 81% das vítimas eram mulheres que nunca antes haviam registrado um boletim de ocorrência ou obtido medida de proteção contra seus agressores. Os dados são do relatório do Monitor de Feminicídios no Brasil, elaborado pelo Laboratório de Feminicídios no Brasil (LESFEM). A Ponte detalha o documento e mostra que na maioria dos casos o agressor é íntimo da vítima. Em quase 18% dos registros, os filhos estavam presentes e viram a morte da mãe. A pesquisa também se debruça sobre os feminicídios não consumados – de janeiro a junho, foram em média seis tentativas por dia no país. Para a socióloga Silvana Mariano, coordenadora do LESFEM, é urgente falar das tentativas e das sobreviventes, a fim de criar políticas públicas para ampará-las.