O perfil de Chiquinho Brazão e um protocolo antirracista para escolas
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🔸 Preso sob suspeita de ser um dos mandantes do caso Marielle, o delegado Rivaldo Barbosa era professor de Direito da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, desde 2003. Em 2022, passou a dar aulas no campus de Copacabana. Na primeira aula, avisou aos alunos que não poderiam gravar suas aulas, que um carro da polícia o acompanhava na universidade, por ser ameaçado de morte, e deixou ver que carregava um revólver na cintura, coberto pelo paletó. “A essa altura, o professor já despertava reações distintas da turma, de simpatia e repulsa”, narram os repórteres Pedro Tavares e Tallys Braga, na revista piauí. O mal-estar só fez crescer com as suspeitas de que o delegado teria acobertado as investigações da execução da vereadora Marielle Franco, em 2018. “Os alunos evitavam dar detalhes de onde moravam e o que faziam, com receio de se expor diante de um delegado cuja conduta era colocada sob suspeitas tão graves”, conta a reportagem.
🔸 Pioneiro no estudo das milícias do Rio, José Cláudio Souza Alves se diz contrariado com a afirmação do ministro Ricardo Lewandowski de que o caso Marielle está encerrado. “Conseguimos, pegamos uns cinco ou seis desses assassinos, desses canalhas. Mas eu sei o tamanho de tudo isso”, diz o professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em entrevista à Ponte. Ele comemora a prisão de Barbosa e dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, acusados de mandar matar a vereadora, mas lembra que isso é “uma gota d‘água num oceano gigantesco, que está se movimentando nas direções políticas, eleitorais, deste ano e futuras”. Alves afirma ter poucas ilusões sobre o impacto do caso no cenário das milícias: “As estruturas criminosas com que eu já convivo há tanto tempo aqui e conheço não foram arranhadas, elas vão seguir funcionando”.
🔸 A propósito: os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão deixaram o presídio federal da Papuda rumo a outras duas prisões federais de segurança máxima. Chiquinho, o mais velho dos dois, foi expulso do União Brasil, partido pelo qual era deputado federal, e também da Frente Parlamentar da Agropecuária, a bancada ruralista. A Agência Pública perfila o parlamentar que teria mandado matar Marielle, resgata sua trajetória como vereador do Rio e lembra que ele se tornou deputado seis meses depois do assassinato da vereadora. Em Brasília, Chiquinho Brazão apoiou projetos como a flexibilização das regras para o registro de agrotóxicos e a regularização de ocupações indevidas de terras públicas.
🔸 O número de casamentos LGBTQIA+ alcançou o maior patamar da história, em 2022. Foram 11 mil registros, recorde desde a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2013 que garantiu o direito ao casamento civil à população LGBTQIA+. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Notícia Preta informa ainda que os casamentos entre mulheres representam 60% do total. Se o número total de casamentos no Brasil cresceu 4%, é também verdade que os divórcios aumentaram mais, levando-se em conta todas as configurações de casal. Só em 2022, 420 mil casais se separaram.
🔸 O Senado completa 200 anos – uma história majoritariamente de homens brancos. A representatividade de pessoas negras na Casa Legislativa segue baixa. A Alma Preta lembra que, nas últimas três eleições, apenas 24 das 108 vagas disputadas foram ocupadas por pessoas que se declararam negras. É o equivalente a apenas 22% das cadeiras do Senado. Mas as estatísticas só existem a partir de 2014, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) passou a considerar o quesito “cor/raça” na inscrição dos candidatos.
📮 Outras histórias
No Rio Grande do Norte, uma organização social trabalha por uma lei para cuidar de pessoas que cuidam. O Instituto Jacintas foi criado por Barbara de Melo Ribeiro Dantas e funciona desde 2020 em Natal. Segundo a Saiba Mais, ela idealizou o instituto como um espaço de acolhimento para cuidadores informais, e, agora, a equipe da organização prepara um projeto de lei para reconhecer os direitos de quem cuida. “O Instituto Jacintas é uma necessidade oriunda da ausência do Estado. A ideia surgiu quando eu comecei a estudar e entender o que estava acontecendo com a minha vida, diante do adoecimento da minha mãe”, conta.
📌 Investigação
Em áudio: com a qualificação da obesidade como doença, veio a patologização do corpo gordo, uma prática que desassocia da questão fatores sociais. É no contexto de combate a esse tipo de corpo que o mercado ganha. Por exemplo, são vendidos remédios para emagrecimento como o Ozempic, medicamentos psiquiátricos devido aos transtornos alimentares, linhas light e diet de ultraprocessados e processos cirúrgicos. O episódio especial do “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, traz conversas com especialistas e uma apuração de pesquisas para destrinchar os discursos em torno da obesidade e o conceito de saúde em uma sociedade neoliberal.
🍂 Meio ambiente
Sem a embarcação adequada, três servidores do ICMBio e dois policiais militares saíram do município de Cutias (AP) no dia 7 de março para uma ação de fiscalização no interior da Reserva Biológica do Lago Piratuba. Com o mar revolto na costa amapaense, o capitão perdeu o controle do barco e só conseguiram se salvar porque a maré baixou e a embarcação encalhou. “Tivemos muita sorte. Mas não é de sorte que quero precisar quando deixo minha família para me dedicar às unidades de conservação”, relata um servidor. O Eco destaca que o ICMBio tem um orçamento de apenas R$ 23 milhões para as ações de fiscalização neste ano. Com uma área de mais de 172 milhões de hectares para monitorar, o órgão conta com cerca de R$ 0,13 por hectare a ser fiscalizado.
📙 Cultura
“A maneira com que o Brasil olha para a vida não mudou desde o projeto dos militares nos anos 60”, afirma o diretor de cinema Jorge Bodanzky, que atuou para registrar imagens que a ditadura queria esconder. Entre fotografias e vídeos, seu trabalho está em exposição no Instituto Moreira Salles de São Paulo para mostrar “uma imagem de um Brasil que não tinha imagem” nos 60 anos do golpe de 1964. O Le Monde Diplomatique Brasil detalha a mostra e lembra que o longa de estreia de Bodanzky, “Iracema: Uma Transa Amazônica” (1974), codirigido com Orlando Senna, foi censurado no Brasil até 1981.
🎧 Podcast
“O território me formou artista”, afirma Jeynis Dhara, artista visual e designer nascida e criada na zona sul de São Paulo. No Manda Notícias, Dhara e a também artista visual Brandy, da mesma região da capital paulista, falam sobre seus processos criativos, seus estilos e como suas expressões artísticas estão ligadas às vivências nas periferias onde cresceram. “Minhas referências estão aqui, eu caminho com elas, elas fazem parte do território, elas movimentam a zona sul. É um outro tipo de relação”, relata Dhara.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Integrantes do Coletivo Antonieta de Barros, que reúne professoras, coordenadoras, pesquisadoras e bibliotecárias ligadas à rede municipal de São Paulo, defendem a criação de uma protocolo antirracista nas escolas. Atualmente, não existe um procedimento padrão para casos de racismo. Cada unidade adota as próprias medidas de combate e conscientização. Segundo a Periferia em Movimento, o coletivo entrou em contato com a deputada estadual Ediane Maria (PSOL), que convocou uma audiência pública sobre o tema na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A iniciativa é importante porque a escola é apontada por 64% da população brasileira entre 16 e 24 anos como o lugar onde mais sofrem racismo, de acordo com pesquisa feita pelo Ipec, pelo Instituto de Referência Negra Peregum e pelo Projeto SETA.
Correção: a edição publicada ontem (27/03) atribuiu erroneamente a reportagem sobre uma fake news antiga retomada por Jair Bolsonaro ao veículo Aos Fatos. Na verdade, a produção é da Agência Lupa.