O casamento homoafetivo na Câmara e as crianças negras na literatura
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🔸 Um projeto de lei para proibir o casamento homoafetivo no Brasil avança na Câmara dos Deputados. O relatório do deputado Pastor Eurico (PL-PE) foi aprovado ontem pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família. O Congresso em Foco informa que, no texto, o parlamentar citou Deus três vezes e associou a homossexualidade a uma doença em cinco oportunidades. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já classificou o projeto como inconstitucional e discriminatório, “um desperdício de tempo e dinheiro de contribuintes”. Em 2011, a Suprema Corte reconheceu a constitucionalidade do casamento LGBTQIA+.
🔸 Nove em cada dez casos de homicídio no Rio de Janeiro seguem sem responsabilização após cinco anos. E a chance de elucidar o crime depois de dois anos é quase nula, segundo estudo do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ). “Por que nossa sociedade aceita a impunidade de um crime tão grave? As respostas são várias. No Brasil, três em cada quatro vítimas de homicídios são negros e, em geral, pobres, um perfil de vítima que, num país racista e marcado por desigualdades profundas, costuma gerar pouca comoção social”, explicam ex-pesquisadores do MP-RJ em artigo a revista piauí. Para os autores, um primeiro passo para rever esse cenário seria considerar que toda morte violenta intencional merece atenção, criando um grupo com membros das polícias, do MP e do Executivo para analisar casos recentes.
🔸 Brancos são quase cinco vezes mais representados do que não brancos em anúncios publicitários desde 1968 até 2017. As pessoas brancas são 90% dos modelos nas propagandas do período. Para chegar a esses dados, o Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa) analisou mais de 24 mil anúncios publicados na revista Veja nesses 50 anos. A Gênero e Número explora a pesquisa segundo a qual houve um aumento gradual na representação de não brancos ao longo das décadas – 7% em 1968 e 18% em 2017. É muito pouco: mais da metade da população brasileira é formada por não brancos.
🔸 Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) desembarcou em Brasília trazendo 211 pessoas que estavam em Israel. O grupo pediu ajuda do governo brasileiro depois da intensificação dos conflitos entre israelenses e palestinos no último fim de semana. Segundo o Metrópoles, a Embaixada do Brasil em Tel Aviv estima que há 14 mil brasileiros residentes em Israel e 6 mil na Palestina. A maioria está fora da área afetada pelos ataques.
🔸 Em áudio: a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou nota em que afirma existirem evidências claras de crimes de guerra cometidos tanto por Israel quanto pelo Hamas. Os bloqueios israelenses por terra, mar e ar contra os mais de 2 milhões de palestinos que vivem em Gaza ocorrem desde 2007. Há quase duas décadas, essa população está num regime comparável a um apartheid, segundo a Humans Rights Watch. O “Durma com Essa”, podcast do Nexo, sintetiza os últimos conflitos na região que, ontem, já contabilizavam 1.870 mortos.
📮 Outras histórias
As brincadeiras preferidas das crianças no Morro do Adeus, na zona norte do Rio de Janeiro. “Eu gosto de futebol de salão e de pula-pula”, respondeu Estevão, 6 anos. O amigo Matheus, 8 anos, logo replica: “Que nada. Tu só sabe de celular”. A mãe de Estevão, por sua vez, diz que deixa o filho brincar na rua para controlar o tempo que o garoto fica nas telas. “No meu tempo tinha queimada, pipa, brincava de elástico, pulava corda…”, conta Diva Pimentel Duarte, de 42 anos. O Voz das Comunidades conversa com crianças na comunidade para ouvir as brincadeiras favoritas de hoje.
📌 Investigação
Com área recorde de queimadas no Amazonas em setembro, o fogo se propagou pela BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), e estradas secundárias, os ramais, conectadas à rodovia. Segundo a InfoAmazonia, quatro ramais tiveram impacto sobre 35 terras indígenas e 24 unidades de conservação. A Terra Indígena Barreira da Missão, onde vivem os povos Kaixana, Kambeba, Miranha, Ticuna e Witoto, no município de Tefé (AM), é a área protegida do estado com a maior porcentagem de área queimada: mais de 50% da TI foi consumida pelo fogo entre 1 de janeiro e 26 de setembro deste ano, de acordo com os dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
🍂 Meio ambiente
Território de conservação ambiental do Nordeste, a Reserva Mato da Onça, no Baixo São Francisco, é uma das iniciativas que estará presente no Fórum de Paris sobre a Paz. “A Reserva Mato da Onça deve ser padrão de referência para comparação em monitoramentos das condições do Baixo São Francisco com outros trechos que vêm sendo estudados por um grupo de trabalho com foco na parte navegável do rio”, explica Igor da Mata, professor de Engenharia da Pesca da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). A Eco Nordeste lembra que o evento, lançado em 2017 pelo governo francês, reúne cerca de 60 a 80 iniciativas de todo o mundo para abordar desafios globais, além de oferecer oportunidades de captação de recursos.
O primeiro balanço global do Acordo de Paris, firmado em 2015, será apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP28, que acontece entre 30 de novembro a 12 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. No evento, será feita uma avaliação do desempenho de cada estado-parte. O Le Monde Diplomatique Brasil analisa a situação do Brasil nesse cenário: em 2022, ainda sob o governo Bolsonaro, o país foi responsável por 43% do desmatamento global, e até 2026, de acordo com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de Lula, 61% dos investimentos em energia ainda serão destinados a petróleo e gás.
📙 Cultura
Escritores negros têm se movimentado para levar crianças negras ao protagonismo na literatura, para que se sintam representadas e incluídas desde a infância. Rodrigo França, autor de “O Pequeno Príncipe Preto”, resgata a representatividade do baobá na cultura africana e, no livro, o protagonista tem a árvore ancestral como a sua única companheira. Já na obra original, “O Pequeno Príncipe”, do francês Antoine de Saint-Exupéry, o baobá é visto como uma erva daninha que teria poder para destruir o planeta. “Leio e escuto de crianças que ‘O Pequeno Príncipe Preto’ é um grande amigo, ou seja, possivelmente, para algumas crianças é o lugar da solidão quando você pensa, principalmente, em escolas de classe média e escolas privadas. A estrutura perversa do negro único ainda está na infância e ter esse livro faz com que esse personagem seja um grande companheiro”, afirma França. A Alma Preta explica a importância da literatura negra para as crianças e lista dez livros infantis com representatividade racial.
🎧 Podcast
“A inclusão é uma necessidade de todos. A fase da adolescência traz essa necessidade, as pessoas com deficiência ainda mais”, conta Olinda Maria, professora de uma escola no Piauí, que atua no atendimento educacional especializado. A série “Educar para incluir: desafios e estratégias de ensino em escolas do Piauí”, do podcast “E-coar”, produção do Coar Notícias, narra histórias de acolhimento, aprendizagem e inclusão para crianças e adolescentes piauienses que possuem algum tipo de deficiência.
🧑🏽⚕️ Saúde
Semelhante a um plano de parto, o plano de abortamento envolve garantir procedimentos seguros, orientações sobre direitos e prevenção a possíveis violências institucionais. A revista AzMina destrincha um passo a passo com 15 tópicos de como elaborar esse planejamento para a realização de um aborto legal, desde buscar o serviço de saúde que realiza a interrupção da gravidez até quais os sintomas são ou não aceitáveis após o procedimento.
Correção: Em nota na edição de segunda-feira (09/10) sobre o podcast “Economia do Futuro”, da Rádio Guarda-Chuva, o link foi publicado erroneamente. Para ouvir a produção que trata sobre créditos de carbono, o link correto está aqui.