O voto pró-Bolsonaro de Fux e o que adolescentes esperam da escola
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🔸 O ministro Luiz Fux votou pela absolvição de Jair Bolsonaro (PL) no julgamento da trama golpista, ontem, no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele divergiu do relator, Alexandre de Moraes, e do ministro Flávio Dino, que já haviam se manifestado para condená-lo. Agora, o placar do julgamento está em 2 a 1 pela condenação do ex-presidente. O Jota detalha o voto do ministro, que começou pela manhã e continuou noite adentro. Fux afirmou não haver provas suficientes para responsabilizar Bolsonaro por tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado e organização criminosa. Disse ainda que a minuta do golpe não passou de “mera cogitação” e que não há vínculo entre discursos do ex-presidente e os atos de 8 de janeiro de 2023. Também afastou ilegalidades na atuação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia Rodoviária Federal. Segundo Fux, as responsabilidades em ambos os casos cabe a outros ex-integrantes do governo.
🔸Em mais de dez horas de sessão, Fux relativizou a ocorrência de golpe de Estado, minimizou os acampamentos diante de quartéis e suavizou os embates de Bolsonaro com as instituições, como o STF. A Lupa destaca as principais contradições do ministro – a começar pelo principal ponto de divergência apontado por ele: a incompetência da Corte para julgar Bolsonaro e outros réus sem foro. Fux mesmo já votou de forma oposta em casos como o Mensalão e o próprio 8 de Janeiro. Outra contradição: ele condenou Mauro Cid pelo crime de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, mas relativizou a gravidade da conduta de outros réus. E, se em outros momentos repudiou os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e à democracia, ontem, Fux os amenizou.
🔸 O voto foi “incoerente com o histórico de decisões do próprio ministro e do Supremo”. A avaliação é do advogado criminalista Augusto de Arruda Botelho, ex-secretário Nacional de Justiça do governo Lula e fundador do Instituto de Defesa do Direito de Defesa. Em entrevista à Agência Pública, ele explica que a tese da incompetência do STF, por exemplo, já havia sido apresentada e rejeitada no início da ação. “Ele esticou demais a corda”, afirma o advogado. Segundo ele, dificilmente outro ministro acompanhará Fux. Se isso se confirmar, seu voto terá impacto jurídico nulo, já que, no Supremo, um placar de 5 a 0 ou de 4 a 1 é equivalente. Botelho conclui: “Apesar de ter uma roupagem técnica, [o voto de Fux] não é técnico. Por ser tão incoerente, ele acaba se tornando um voto político”.
🔸 Como um ministro indicado pelo PT se tornou a esperança de bolsonaristas? A CartaCapital lembra que Fux tentou três vezes uma indicação ao STF e fez diversas articulações para viabilizar o próprio nome, inclusive adaptando posicionamentos e decisões para agradar a diferentes grupos e facilitar sua candidatura. Foi enfim indicado pela presidenta Dilma Rousseff em 2011. Agora, suas divergências podem abrir brechas jurídicas para beneficiar Bolsonaro. A expressão “In Fux we trust” (“Em Fux nós confiamos”) – usada por Deltan Dallagnol em 2016, em mensagens da Operação Lava Jato, num indicativo de confiança no ministro – viralizou logo depois do início do voto do ministro no STF. Durante sua presidência na Corte (2020-2022), ele exaltou a Lava Jato, mesmo depois de revelações da Vaza Jato, e criticou ataques ao Judiciário, muitos vindos do próprio Bolsonaro.
🔸 Nas redes, políticos bolsonaristas agiram em conjunto para impulsionar trechos do voto de Fux. Em menos de quatro horas, segundo o Aos Fatos, vídeos com cortes do ministro no STF já somavam 1,2 milhão de interações em plataformas como X, Facebook e Instagram. Numa ação coordenada, nomes como Nikolas Ferreira (PL-MG), Zucco (PL-RS) e Carlos Jordy (PL-RJ) publicaram vídeos quase em tempo real. Parte dos conteúdos distorceu a fala de Fux ao afirmar que ele teria “anulado todo o processo” contra Bolsonaro. Na realidade, o ministro defendeu que a ação seja anulada ou julgada pelo plenário do STF, mas, sozinho, ele não tem poder para invalidar o caso. Ainda assim, a narrativa “anulou a p… toda” se espalhou e chegou a 50 mil menções no X.
📮 Outras histórias
Figura central na construção de Embu das Artes, a ceramista e escultora Antônia Aparecida Gonzaga começou a trajetória ainda menina, aos 9 anos. Nascida em São Paulo em 1950, foi em Embu que ela se descobriu artista e construiu um legado. Não à toa, ficou mais conhecida pelo apelido de Tônia do Embu, conta a Agência Mural. Seu primeiro contato com o barro foi ali, no ateliê de Mestre Sakai (1914-1981), um dos mais importantes terracotistas do Brasil. “O Embu é a minha vida, não tenho como fugir disso”, disse ela, em 2024. Professor de artes pela rede pública Alex Bilo, 34 anos, tinha apenas 14 quando Tônia o chamou para dentro e lhe deu um pedaço de barro. “A partir dessas vivências que tive com a Tônia eu fui despertando um olhar diferente para o mundo, para a arte. Tudo o que sou devo a ela”, afirma o discípulo. Tônia morreu no último dia 3, aos 75 anos, em decorrência de um câncer no Pronto Socorro Central de Embu das Artes, na Grande São Paulo.
📌 Investigação
Ao mesmo tempo em que a cobertura vacinal da BCG caiu 7% no Nordeste nos últimos dez anos, a incidência de tuberculose cresceu 58,4% entre crianças de 0 a 4 anos – público alvo da vacina – no período. Os novos casos da doença saltaram de 250 em 2014 para 396 em 2024. A Agência Tatu analisa os dados de cobertura vacinal na região: as maiores quedas foram registradas no Maranhão e na Bahia. No ano passado, ambos os estados ficaram fora da meta estabelecida pelo Ministério da Saúde. Segundo o pesquisador Jesem Orellana, epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a redução da abrangência de imunização é um fenômeno mundial. “Há muitos problemas que explicam essa lamentável queda, mas a recusa vacinal e o crescente movimento negacionista à ciência parecem estar entre os principais motivos. Há também problemas como o registro dessas doses aplicadas em maternidades que pode explicar parte dessa queda.”
🍂 Meio ambiente
No Semiárido, casas e bancos comunitários de sementes crioulas formam uma rede silenciosa de resistência às mudanças climáticas. São estruturas que carregam história, saber e biodiversidade. De acordo com um levantamento da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), responsável pelo Programa Sementes do Semiárido, existem 875 casas e bancos de sementes em 29 territórios, que beneficiam diretamente mais de 15 mil famílias. Ao todo, foram identificadas 262 variedades de feijão, 108 de milho, 75 de fava e dezenas de hortaliças, frutíferas e espécies florestais nativas. A Eco Nordeste explica o papel dos bancos de sementes como instrumentos estratégicos para ações de restauração ambiental e combate à desertificação e a necessidade de políticas públicas contínuas para fortalecer essas iniciativas.
📙 Cultura
Os cachês pagos por prefeituras a shows da cantora sertaneja Ana Castela levantam suspeitas de sobrepreço. O Tribunal de Justiça de Mato Grosso determinou que a Prefeitura de Sapezal explique o cachê de R$ 950 mil pago por uma apresentação da artista contratada para o dia 18 de setembro deste ano. A exemplo do que aconteceu com Gusttavo Lima, chama a atenção a discrepância entre as estruturas econômicas das cidades que contratam os shows e os valores pagos. O Farofafá apurou quanto têm custado os shows de Ana Castela – todos apoiados no princípio de inexigibilidade de licitação. A Prefeitura de Moeda (MG), por exemplo, tem 5 mil habitantes e contratou a artista por R$ 750 mil. Já o município de Pires Ferreira (CE) pagou R$ 930 mil à cantora.
🎧 Podcast
“Foi libertador pensar que meus pais também não sabiam o que estavam fazendo”, afirma o ator e escritor Gregório Duvivier. Quando se encontrou com a paternidade, ele decidiu ler os diários de seus pais e descobriu histórias que desconstruíram o mito de suas memórias da infância. O “Isso Não É Uma Sessão de Psicanálise”, produção da Trovão Mídia, conversa com o artista, que retoma a relação com a família em que cresceu, com os irmãos e os pais separados, para analisar a que está construindo com a companheira e as duas filhas. “É a coisa mais vertiginosa do mundo esse sentimento de estar criando pessoas, e cada uma traz coisas inesperadas.”
👩🏽🏫 Educação
Para entender as percepções e desejos de adolescentes do Ensino Fundamental 2 sobre currículo, inovação, convivência e participação, o Ministério da Educação ouviu cerca de 2,3 milhões de estudantes de 21 mil escolas públicas. O Porvir esmiúça os dados da pesquisa, inédita no país: a sistematização dos resultados em todo o Brasil mostra que os adolescentes mais novos – 6º e 7º anos – avaliam a escola de forma mais positiva em comparação com os do 8º e 9º anos. Quando pensam no que gostariam de ter no ambiente escolar, as disciplinas tradicionais seguem como eixo central, mas a pesquisa também mostra o interesse por outros aprendizados, como esportes, bem-estar, autoconhecimento, autocuidado e saúde mental. Em escolas com maior presença de alunos negros, por exemplo, o interesse em aprender sobre direitos e combate à discriminação é mais alto.