O voto de Cármen Lúcia no TSE e a moda das modelos ultramagras
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🔸 O futuro político de Jair Bolsonaro (PL) pode ser decidido hoje. O julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está em 3 a 1 pela inelegibilidade do ex-presidente, acusado de abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação, por atacar o sistema eleitoral em reunião com embaixadores, em julho de 2022. Ontem, votaram a favor da inelegibilidade os ministros Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares. O ministro Raul Araújo votou contra. Segundo ele, “não houve gravidade” na conduta adotada por Bolsonaro na reunião. Ele, no entanto, reconheceu que o discurso do ex-mandatário “foi permeado por excessos verbais”, mas completou que qualquer cidadão pode defender um modelo diferente de voto no país. A Lupa detalha os votos dos magistrados e ressalta que, se algum deles fizer um pedido de vista, o processo pode ser paralisado.
🔸 O voto da ministra Cármen Lúcia, que abre o julgamento hoje, poderá dar maioria pela inelegibilidade do ex-presidente. Primeira mulher a assumir a presidência do TSE, ela chegou à Corte em 2006, indicada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O Congresso em Foco conta quem é a ministra, “discreta e de poucas palavras”, e lembra que, além dela, votam hoje Kássio Nunes Marques e o presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes. Esta será a última sessão do TSE antes do recesso do Judiciário.
🔸 Em tempo: o ministro que votou contra a inelegibilidade de Bolsonaro é o mesmo que, a pedido do PL, tentou censurar o Lollapalooza, em março de 2022. Raul Araújo determinou uma multa de R$ 50 mil aos organizadores do festival de música para cada vez que um artista se manifestasse em relação aos pré-candidatos. A decisão ocorreu num sábado, dia seguinte ao da apresentação da cantora Pabllo Vittar, que andou pela plateia com uma toalha vermelha estampada com o rosto de Lula. O Nexo lembra que o tiro saiu pela culatra: no dia seguinte, vários artistas enfrentaram a tentativa de censura.
🔸 “Se o senhor entrar [no acampamento], haverá um banho de sangue.” Assim disse o general Gustavo Dutra, comandante do Comando Militar do Planalto (CMP), na noite de 8 de janeiro ao interventor do Distrito Federal, Ricardo Cappelli. Este, por sua vez, questionou: “Banho de sangue por quê, general? Por acaso tem manifestante armado dentro do acampamento, sendo protegido pelo Exército?”. O diálogo está na revista piauí, em reportagem de Ana Clara Costa, que conta como os militares contribuíram para os atos golpistas de janeiro. O banho de sangue a que o general se referia então “seria a tropa do Exército investindo contra os policiais, e não contra os manifestantes”, como escreve a repórter.
🔸 A Suprema Corte americana proibiu universidades de terem ações afirmativas para minorias raciais em seus processos de admissão. São ações que buscam combater a discriminação ao aumentar o número de estudantes negros, hispânicos e outros grupos historicamente oprimidos nas universidades. O Notícia Preta destaca que a Corte tem maioria conservadora desde as indicações do ex-presidente Donald Trump. A decisão ocorre um ano depois de outro retrocesso – em junho de 2022, o tribunal derrubou a garantia do direito ao aborto.
🔸 Em vídeo: na América Latina, oito países permitem o casamento igualitário entre pessoas LGBTQIA+. O primeiro a puxar a fila foi a Argentina, que, em 2010, aprovou uma lei que alterou o código civil no país. No Brasil, a mudança veio do Judiciário: em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, por unanimidade, a união estável entre casais do mesmo gênero. A Gênero e Número mostra como foi o processo em cada país latino-americano.
📮 Outras histórias
Polêmica no São João de Maceió. Os contratos do palco principal do evento organizado pela prefeitura da cidade são direcionados a nomes do sertanejo universitário e até do axé, enquanto grupos de forró são relegados a palcos menores, com menos estrutura. “Foi tudo feito para jogar o verdadeiro forró para as cucuias”, afirma o forrozeiro Zé Lessa. A Mídia Caeté lembra que a lógica se repete em outras cidades nordestinas, com contratos milionários destinados aos artistas do sertanejo universitário, que espremem cada vez mais as identidades culturais locais. A Prefeitura de Maceió pagou R$ 980 mil pelo show de Gustavo Lima, por exemplo.
📌 Investigação
Links para grupos de pornografia infantil são facilmente encontrados no Google e no Bing, página de busca da Microsoft. O meio de veiculação do conteúdo é o ICQ, um dos serviços pioneiros de mensagens instantâneas. Após monitorar o acesso a esses canais pelo Facebook, o Núcleo identificou que eles também são indexados nos dois principais mecanismos de busca online. A partir de simples pesquisas por termos já conhecidos envolvendo pornografia infantil, os links para esses grupos são encontrados nos primeiros resultados das ferramentas. No caso do Bing, o algoritmo de recomendação de conteúdo chega a sugerir “explorar mais” links de grupos de exploração sexual de menores de idade considerados populares.
🍂 Meio ambiente
O grupo francês Casino Guichard-Perrachon, que controla Pão de Açúcar, Assaí e Extra Hiper, responde a um processo judicial na França desde 2021, por abastecer suas prateleiras com carne de fornecedores ligados diretamente ao desmatamento ilegal na Amazônia, inclusive dentro da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. Apesar de ter declarado à Justiça francesa que mantém rigoroso sistema de controle da cadeia, o grupo continua vendendo produtos com origem em áreas protegidas, como revela a InfoAmazonia. Foram analisados registros sobre a movimentação de animais na área de influência de dois frigoríficos da JBS que comprovadamente receberam gado desses territórios, entre 2018 e 2022, e fornecem carne para as marcas do Casino. A reportagem também localizou no mês passado produtos de lotes dessas plantas da multinacional brasileira.
Para garantir o conhecimento de comunidades tradicionais aos termos ambientais usados por governos e empresas, o projeto ArvoreAgua, em parceria com a Plataforma Latinoamericana de Justiça Climática e campanha “Que Os Grandes Poluidores Paguem”, produziu um guia com 43 expressões – como BECCS, REDD e Net Zero – ilustradas em versão trilíngue (português, espanhol e inglês). A Agência Envolverde conta que um dos objetivos é ajudar movimentos sociais e lideranças comunitárias a se apropriarem do vocabulário técnico usado nos grandes eventos internacionais para não serem enganados, principalmente à medida que a COP30 – que será sediada em Belém (PA) em 2025 – se aproxima.
📙 Cultura
“Estar em uma ball é como se sentir pertencente a algo, independentemente se você está ali para performar ou simplesmente apreciar as demais participantes.” Fênix da Silva Leite é bailarine e moradore do Jardim Romano, na zona leste de São Paulo, e tem visto a cultura ballroom se expandir nas periferias brasileiras. A Agência Mural explica que esse é um movimento que se originou na década de 1970 nos Estados Unidos e une a dança, a moda e a performance como espaço de acolhimento e pertencimento a pessoas racializadas e LGBTQIA+, construindo relações entre comunidades excluídas e marginalizadas socialmente. “Cada ação narra uma história de luta, e fazer parte desse movimento, conhecer pessoas com as mesmas lutas que as minhas, me fizeram validar a minha verdade”, diz a multiartista Yki Custódio, moradora de Itaquera, na zona leste da capital paulista.
Precursor na difusão da música nordestina por todo o Brasil, João Teixeira Guimarães, o João Pernambucano, ficou conhecido como o “poeta do violão” por seus poemas carregados de uma melodia harmônica. Nascido em Bebedouro de Jatobá, no sertão de Pernambuco, em 1883, sua memória passou anos no esquecimento. Segundo a Marco Zero, para fazer um retorno inédito do legado do artista e comemorar os 140 anos de seu nascimento, o jornalista José Leal lança o livro “Raízes e Frutos da Arte de João Pernambuco – Uma Infinita Viagem”. Fundador do Instituto de Arte Popular João Pernambuco, o autor conta que a obra integra o projeto “João Pernambuco – Coração de Violão”, que vai percorrer a partir de novembro seis cidades do sertão pernambucano e o Recife, reconstruindo a trajetória do músico.
🎧 Podcast
“Temos tentado hackear a forma de democratizar a informação sobre Aids através da cultura”, afirma Ezio Rosa, fundador da BixaNagô, iniciativa LGBTQIA+ que pauta HIV com recortes de raça, classe e território. O “Cena Rápida”, produção do Desenrola E Não Me Enrola, conversa com Ezio e também com Marcia Marci, produtora sociocultural e idealizadora do coletiva Travas da Sul, para abordar a intersecção entre cultura, saúde pública nas periferias e a luta contra a estigmatização de pessoas soropositivas. “A sociedade enxerga as pessoas com HIV e Aids no lugar de irresponsabilidade. ‘A pessoa transou sem camisinha e pegou Aids.’ Não necessariamente. Existem inúmeras formas de contraí-la”, explica Ezio.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Em vídeo: após duas décadas de luta e debate sobre corpos livres, reais e diversos, a magreza excessiva parece ter voltado a ser considerada acessório de luxo, predominando novamente nas principais semanas de moda internacionais deste ano. A revista AzMina reflete como o retorno da moda dos anos 2000, com cintura baixa, cabelo alisado e barriga negativa, principalmente pela geração Z no TikTok, está contra-atacando o movimento “body positive” dos últimos anos. Os remédios para emagrecer também voltaram a ser febre. A realidade, no entanto, é uma confirmação de que a magreza nunca saiu de moda.