A volta de Donald Trump e o conflito por terras na Usina de Itaipu
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🔸 Donald Trump retorna à Presidência dos Estados Unidos com a promessa de implementar o maior programa de deportação da história do país, por meio da Alien Enemies Act (Lei dos Inimigos Estrangeiros, em português). Trata-se de um um estatuto de 1798 que concede ao presidente o poder de deter imigrantes em tempos de guerra. Segundo especialistas, Trump não teria de realizar operações nas ruas para prender pessoas. Em artigo na Agência Pública, os jornalistas Uriel J. García e Alejandro Serrano, do Texas Tribune, explicam que o presidente poderia apenas focar nos 11 milhões de imigrantes indocumentados nos EUA com o aparato atual de deportação já utilizado por polícias locais. Os jornalistas detalham como funcionam as deportações no país e afirmam que o Texas pode servir de modelo, já que investiu bilhões na repressão a imigrantes e fortaleceu leis estaduais para facilitar prisões e remoções
🔸 A posse de Trump, aliás, é um evento de quatro dias que começou no último sábado. Hoje, às 14h (no horário de Brasília), ocorre a cerimônia oficial no Capitólio e, em seguida, o presidente vai ao Congresso para as primeiras ordens executivas do governo – a promessa é assinar cem decretos logo no primeiro dia. O Nexo detalha os eventos em torno da volta de Trump para o segundo mandato e conta que ele convidou alguns líderes estrangeiros e políticos populistas de extrema direita. Javier Milei, presidente da Argentina, e Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, estão na lista. Jair Bolsonaro (PL) afirma ter sido convidado, mas teve a viagem barrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que alegou risco de fuga. Uma comitiva com cerca de 20 deputados bolsonaristas, liderada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), viajou aos EUA.
🔸 Em menos de 12 horas, um vídeo de Erika Hilton (PSOL-RJ) sobre o Pix ganhou mais de 80 milhões de visualizações. No sábado, a deputada desmentiu notícias falsas sobre a taxação das transações via Pix. As ameaças e ataques transfóbicos da extrema direita vieram em seguida. Ontem, segundo o Congresso em Foco, os advogados dela protocolaram um pedido de abertura de inquérito na Polícia Federal para identificar os autores dos crimes. Em alguns perfis, os usuários chegaram a incitar que ela fosse fuzilada ou que pistoleiros deveriam ser “contratados para ficar em sua cola”.
🔸 A propósito: o vídeo de Hilton é uma resposta ao conteúdo de Nikolas Ferreira (PL-MG), responsável por disseminar a informação falsa segundo a qual o governo poderia taxar o Pix. A gravação teve quase 300 milhões de visualizações em dois dias. O Aos Fatos mostra como o vídeo do deputado bolsonarista ganhou as redes. O momento escolhido para a publicação do vídeo, o formato e as mudanças na política da Meta ajudam a explicar por que o conteúdo viralizou.
🔸 O início do ano em Porto Alegre trouxe de volta os problemas das chuvas que devastaram a cidade em maio de 2024. Um rápido temporal na última quinta-feira provocou alagamentos, bloqueio de ruas, pane em semáforos e quedas de energia na capital gaúcha, conta o Matinal. Para o professor Fernando Dornelles, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o fato de o temporal ter causado alagamentos expõe as falhas estruturais do sistema de escoamento das chuvas na cidade.
📮 Outras histórias
Jéssica Martins passa boa parte dos dias e noites no Shopping Feira da Madrugada, localizado no Brás, região central de São Paulo (SP). Fica lá o maior polo de confecção de roupas do Brasil. Na Feira da Madrugada, centro de comércio popular de vestuário que funciona a partir da meia noite, a empreendedora tem um box de roupas desde 2022. O Nós, Mulheres da Periferia acompanha a rotina de Jéssica: ela acorda às 22h, sai de casa em Sapopemba, zona leste, e chega ao Brás por volta de 23h. É a hora em que monta sua banca na rua, onde realiza as vendas até 5h20 do dia seguinte.
📌 Investigação
Apesar de pouco lembrada, a colonização holandesa em Pernambuco durou 24 anos e não foi um período de “benevolência”, como diz a historiografia tradicional. O especial “Pecados Abaixo do Equador”, produção da Marco Zero, reexamina a ocupação holandesa (1630-1654) para desconstruir mitos, conectando locais históricos no Brasil, na Holanda e em outros países. Assim como nos séculos da colonização portuguesa, o período de domínio holandês também foi marcado por exploração econômica, tráfico de pessoas escravizadas e violência estrutural.
🍂 Meio ambiente
Com locais sagrados inundados na década de 1990 para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, os indígenas Avá Guarani vivem conflito com fazendeiros no noroeste do Paraná no processo de retomada das áreas que não foram submersas. Há cerca de um ano, a Itaipu apresentou uma proposta de aquisição de terras de particulares, a serem doadas para a União e, posteriormente, demarcadas, como “compensação” para os indígenas. A Rede Lume explica que, em meio à escalada de violência, as lideranças se dividem sobre receber terras compradas pela usina e consideram a demarcação insuficiente para solucionar o conflito fundiário.
📙 Cultura
“Ao ler ‘O Auto da Compadecida’ (1955), de Ariano Suassuna, fui inevitavelmente transportado para um espaço muito próximo ao meu, ainda que ficcional: Taperoá, na Paraíba. Ali, os cenários e os personagens pareciam falar diretamente às minhas memórias, às vivências de quem conhece as nuances do sertão nordestino, seus dilemas e suas belezas”, escreve o pesquisador Bruno Fabricio Alcebino da Silva, em artigo no Le Monde Diplomatique Brasil. Bacharel em Ciências e Humanidade, ele analisa a obra de Suassuna, sua adaptação para o cinema no ano 2000 e o novo filme, lançado no final de dezembro. Para o pesquisador, a linguagem da produção é um ato de resistência cultural diante da marginalização da região Nordeste no imaginário nacional.
🎧 Podcast
Com mais de 600 mil empresas e 30 milhões de pessoas registradas, o Reclame Aqui é um dos sites mais conhecidos para consumidores que desejam investigar uma empresa ou produto antes de comprar ou mesmo para aqueles que estão insatisfeitos com o que receberam. A “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha nas relações entre vendedores e consumidores – ainda muito desigual, mesmo com a existência do Código de Defesa do Consumidor. O episódio revela ainda as estratégias usadas para burlar esses direitos e como funciona a pressão política feita por empresas e empresários no Congresso para obter vantagens.
✊🏽 Direitos humanos
Apesar de um avanço para a sociedade, o fim da escala 6x1 tem suas limitações, sobretudo para a população LGBTQIA+, cuja maioria vive no mercado autônomo e informal por não conseguir acessar empregos formais e estáveis. A Agência Diadorim mostra como essa população recorre ao trabalho autônomo sem proteção social devido à sobreposição de vulnerabilidades sociais e econômicas, que afasta pessoas LGBTQIA+ dos dos direitos trabalhistas. “É comum que essas pessoas enfrentem situações de assédio moral, discriminação e até demissões arbitrárias”, afirma advogada Karina Haladjian.