A volta do fogo no Pantanal e o uso de IA nas escolas do país
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🔸 Depois de duas semanas de trégua, o Pantanal voltou a queimar. Com o fim da frente fria que chegou ao Mato Grosso do Sul no início de julho, a temperatura subiu, e os focos de incêndio retornaram com intensidade no último fim de semana. O Correio do Estado informa que o bioma no sul-mato-grossense está recebendo bombeiros dos estados de Goiás, Paraná e São Paulo para ajudar no combate às chamas. Atualmente, há seis focos ativos de incêndios nas regiões do Rabicho, Porto da Manga, Paiaguás e Maracangalha. No Rabicho, próximo ao Rio Paraguai, os bombeiros trabalham há mais de 120 horas e precisaram recuar na segunda-feira, por causa da falta de visibilidade e rápida propagação das chamas.
🔸 Os indígenas que vivem no bioma também lutam para combater o fogo. Brigadistas voluntários, foram os primeiros a enfrentar os incêndios. O Colabora narra o trabalho de grupos como o que atua perto da Terra Indígena (TI) Cachoeirinha, em Miranda (MS). Lá, há pelo menos quatro anos, o chefe da brigada comunitária indígena Mãe Terra, Caleomar Fonseca Victor, lidera os voluntários que trabalham para impedir que o fogo se alastre até a chegada do Corpo de Bombeiros e de agentes do Ibama. “Minha confiança é que se formem mais equipes de brigadistas voluntários, assim evitaremos grandes incêndios. A falta de transporte para nos levar até o fogo prejudica o trabalho; quando é nas redondezas, conseguimos ir a pé; caso contrário, torcemos para conseguir carona com os companheiros que possuem carro ou moto”, afirma Alencar Leoncio Rodrigues, à frente de outra brigada – formada por sua própria família.
🔸 Um estudo da Nasa inclui regiões do Brasil entre as que serão inabitáveis em 50 anos. Segundo os pesquisadores, o calor pode tornar a sobrevivência humana impossível no Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sudeste do país. A Alma Preta detalha o estudo, publicado na revista científica “Science Advances”. Colin Raymond, coordenador da pesquisa, destaca que os níveis extremos de estresse térmico, uma das principais causas de mortes relacionadas ao clima, dobraram nos últimos 40 anos. Além do Brasil, o Leste da China e partes do Sudeste Asiático podem ser afetados por volta do ano 2070.
🔸 Em meio ao aumento da violência contra indígenas, os povos Avá Guarani, no Paraná, denunciam que estão sob ataque de ruralistas ao menos desde o início de julho, no oeste do estado. A ofensiva coincide com o movimento de expansão das aldeias pelos Guarani, que também tentam retomar áreas dentro da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, delimitada pela Funai ainda em 2018. Segundo a Rede Lume, o Ministério dos Povos Indígenas anunciou a criação de um grupo de trabalho para buscar conciliação na região.
📮 Outras histórias
Carolina Maria de Jesus, Sonia Guajajara e Conceição Evaristo. Em 2023, as três tiveram suas biografias narradas a crianças do Complexo do Alemão, pelo projeto “Liberte a História de uma Mulher Incrível”. A iniciativa entrou na segunda fase neste ano: agora, as crianças são estimuladas a tecer histórias de protagonismo feminino, valorizando mulheres da própria comunidade, na zona norte do Rio de Janeiro. O Nós, Mulheres da Periferia conversa com as idealizadoras do projeto e indica como apoiá-lo. A proposta da segunda fase é fechar o ano com um livro a partir das histórias construídas pelas crianças que participam da iniciativa.
📌 Investigação
Nos grandes frigoríficos do país, doenças relacionadas ao trabalho, acidentes, desconforto térmico, horas extras e falta das pausas obrigatórias são parte da rotina dos trabalhadores, revela a Repórter Brasil no relatório “Fábrica de acidentes”, produzido em parceria com a organização dos Países Baixos SOMO. Foram ouvidos 63 empregados e ex-empregados do setor. “Eu não aguentava puxar as peças da esteira. A enfermeira dava paracetamol, cataflan, e mandava de volta para o trabalho”, relata um trabalhador, sob condição de anonimato. Em 2019, os empregados da indústria da carne no Brasil sofreram quatro vezes mais acidentes de trabalho e tiveram dez vezes mais doenças profissionais do que a média do trabalhador brasileiro.
🍂 Meio ambiente
Uma lei estadual de Pernambuco proíbe a entrada de automóveis movidos à combustão a partir de 2025 em Fernando de Noronha, substituindo-os por carros elétricos. Apesar da proposta de descarbonização, a energia elétrica para abastecer esses veículos não é limpa. Cerca de 90% da matriz energética da ilha é originária do óleo diesel, combustível pesado de média a intensa densidade em carbono. A Agência Nossa destaca como o paradoxo que afeta Noronha também acontece em alguns países europeus e na China.
📙 Cultura
“O funk representa diversos grupos sociais porque é um movimento de contracultura que consegue dialogar com quase todos os povos”, afirma Humberto Epaminondas, produtor audiovisual independente. A Periferia em Movimento descreve como o gênero musical está presente no cotidiano das pessoas, sobretudo nas periferias, e é capaz de transformar o estigma em afirmação como porta-voz de população que costuma ser negligenciada e marginalizada. “O funk, o samba e outros ritmos de periferia trazem uma visão que só nós conseguimos enxergar, porque a gente vê pessoas cantando o nosso sonho, cantando músicas que dão autoestima pra gente, então acho que são uma vivência para além do movimento”, relata Dayrel Teixeira, criador da página Funkeiros Cults, que, desde 2020, dialoga diretamente sobre funk, filosofia e literatura.
🎧 Podcast
Biomas brasileiros, como o Cerrado, ainda estão invisíveis na agenda climática, embora o Brasil esteja no centro dos debates ambientais, como sede da próxima conferência da ONU sobre o clima, a COP30. A falta de atenção ao bioma dificulta a conservação da biodiversidade e dos modos e vida dos povos e comunidades tradicionais que vivem na região. A série “No rastro do fogo: agronegócio e a destruição do Cerrado”, do “Guilhotina”, produção do Le Monde Diplomatique Brasil, mostra as consequências das mudanças climáticas no bioma dentro de seu contexto territorial, com o aumento do desmatamento, o avanço das monoculturas e o crescimento de conflitos socioambientais.
🧑🏽🏫 Educação
“A maior parte das escolas do país tem pouco ou nenhum acesso à internet. Muitas delas têm grandes problemas de infraestrutura. E aí a pergunta que precisamos responder é: será que conseguimos repensar e redesenhar tecnologias de inteligência artificial para alcançar essa população?”, questiona Seiji Isotani, membro do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), e presidente da Sociedade Internacional de Inteligência Artificial na Educação (IAIED Society). Em entrevista à Agência Lupa, Isotani discorre sobre o desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial para educação no Brasil, explica o método da “IA desplugada” e defende a importância do pensamento crítico para lidar com as tecnologias inteligentes