A violência no RN e o perfil de uma das podcasters mais ouvidas do país
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🔸 Sob ataques de grupos armados desde terça-feira, o Rio Grande do Norte já contabiliza 53 municípios sem aulas e dezenas de carros e ônibus incendiados pelo estado. Como informa o Saiba Mais, o governo federal vem enviando agentes da Força Nacional para apoiar as polícias locais. O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que entre 400 e 800 agentes podem ser deslocados para o estado. Ontem, o governo estadual instalou um gabinete de crise para conter os ataques. Superlotação nos presídios, policiais mal pagos e falta de políticas de ressocialização de presos seriam as principais causas da onda de violência, segundo Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio Grande do Norte.
🔸 O comando para as ações violentas no estado teria partido do presídio de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal. As reivindicações dos detentos incluem o retorno da visita íntima, melhorias na alimentação, distribuição de kits de higiene e a permissão para que familiares levem alimentos de fora no dia de visita e até a oferta de água de duas em duas horas. Em Alcaçuz, as visitas íntimas estão suspensas desde 2017, quando a unidade foi palco de um massacre após uma investida de presos da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) contra o Sindicato do Crime. A Ponte conta que, agora, as duas teriam se unido para reivindicar melhorias nas prisões potiguares. O Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), ligado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, inspecionou cinco presídios do estado e vai lançar um relatório com os achados – há uma série de violações de direitos humanos, como doenças, comida estragada e tortura.
🔸 No Pará, a violência contra a mulher em dobro: depois de ser vítima de abusos sofridos pelo pai, pelo padrasto e por vizinhos, uma menina de 17 anos enfrenta dificuldades para ter o acesso ao aborto legal por ações do Conselho Tutelar local. A Agência Pública teve acesso com exclusividade ao pedido formal enviado pelo órgão ao Ministério Público do município de Igarapé-Mirim para reconsiderar a ordem judicial de interrupção da gestação com a seguinte justificativa: “para que a adolescente leve mais adiante a gravidez, até completar cerca de sete ou oito meses, para que o serviço de saúde realize a cesária e destine a criança recém-nascida para adoção”. A reportagem detalha o caso e informa que laudo psiquiátrico informa que a vítima tem “déficit intelectual e cognitivo” e “não apresenta condições de expressar sua vontade”.
🔸 O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, negou a 294 presos pelos atos golpistas de janeiro pedidos de liberdade provisória. O magistrado concluiu ontem a análise e concedeu liberdade para outros 129 denunciados, sob a condição de utilizar tornozeleira eletrônica e se apresentar à Justiça periodicamente. Segundo a CartaCapital, das 1.406 pessoas que foram detidas, permanecem na prisão 181 homens e 82 mulheres. A Polícia Federal colocou na rua hoje a oitava fase da Operação Lesa Pátria com o objetivo de identificar pessoas que participaram ou financiaram os ataques golpistas a Brasília. Mais de 30 mandados de prisão preventiva serão cumpridos hoje pelos agentes em nove estados. O Metrópoles resgata o histórico da operação.
🔸 A mulher que viralizou no Twitter ao defender trabalho escravo não existe. Ao menos, usa imagens que são de uma influenciadora dos Estados Unidos. O Aos Fatos revela que a suposta dentista Lara Torres Villas Boas, moradora de Florianópolis, tem roubado fotos do perfil de Paige Nicol Johnson, criadora da rede social PKLD. No tuíte desta semana, que teve mais de 8 milhões de visualizações nesta semana, Villas Boas mostrou apenas garrafas de produtos Garibaldi, Salton e Aurora e escreveu na legenda: “Se a esquerda cancela, nós, que somos maioria, iremos exaltar”. Mais de 200 trabalhadores foram resgatados de trabalho análogo à escravidão em empresas que prestavam serviço para as três vinícolas no Rio Grande do Sul.
🔸 A propósito: outros trabalhadores têm procurado o Ministério Público alegando ter vivido a mesma situação. Além disso, a Corregedoria-Geral da Brigada Militar de Bento Gonçalves vem investigando a participação de agentes no caso. Dois policiais militares foram afastados de parte das funções – um deles é suspeito de acobertar a situação, e o outro é alvo de denúncias de tortura. O Headline atualiza o caso e mostra como estão as investigações.
📮 Outras histórias
Em dez anos, Cristina (nome fictício) calcula por alto ter ajudado 400 mulheres a abortar. Na primeira vez, acolheu uma amiga em desespero, vítima de violência obstétrica, que planejava se suicidar por não desejar a quinta gravidez. Cristina pesquisou como atuar de forma segura até encontrar quem lhe fornecesse o misoprostol, medicamento capaz de induzir o processo de aborto. Ajudou a amiga e, desde então, outras tantas mulheres. Na falta de uma legislação que permita à mulher ter o controle sobre o próprio corpo, são as redes feministas e as muitas “Cristinas” que acolhem umas às outras. O Sul21 narra a história dela e de mulheres que ajudou, além de reunir dados sobre o aborto no Brasil. “Com a legislação penal, as mulheres ficam à mercê do mercado clandestino e enfrentam múltiplas violências e riscos, inclusive riscos de serem enganadas, de tomar substância perigosa ou sem efeito. Então surgem essas redes alternativas para tentar fornecer o apoio a uma emergência de saúde que é imediata. É um mecanismo que existe para reduzir os danos da criminalização do aborto e garantir que as mulheres tenham acesso a um procedimento seguro”, afirma Amanda Nunes, pesquisadora da Anis: Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, entidade referência sobre o tema no país.
📌 Investigação
Mais de 550 estudantes dependem diretamente do transporte escolar fluvial em Porto Velho, em Rondônia, para chegarem às escolas – o que para muitos não acontece desde 2018. Em maio daquele ano, a Polícia Federal paralisou o serviço por rio e por terra devido a irregularidades nos contratos das empresas com a Secretaria Municipal de Educação. A investigação apurou um desvio de mais de R$ 20 milhões por uma suposta organização criminosa formada por servidores da prefeitura e empresários. Segundo O Eco, enquanto as audiências públicas eram realizadas em 2018 e 2019, os alunos não conseguiam chegar às unidades de ensino. Após a pandemia, apenas o transporte escolar terrestre foi liberado, deixando de lado os estudantes ribeirinhos. Somente no mês passado chegaram as primeiras embarcações. Nesse período, sem acesso à escola, muitos adolescentes foram cooptados pelo garimpo ilegal.
🍂 Meio ambiente
O líder indígena Ronaldo Zokezomaiake, da etnia Haliti Pareci, conectou-se ao governo Bolsonaro por defender o cultivo de soja dentro de terras indígenas. Mas não é apenas o agronegócio que faz parte de seu currículo. O Joio e O Trigo lembra que Zokezomaiake já foi condenado a quatro anos de prisão por participar de furto toras de mogno e cedro rosa estimadas atualmente em mais de R$ 22 milhões. O crime aconteceu em 1997 e o indígena foi preso em flagrante, com outras seis pessoas não-indígenas. Como não tinha antecedentes criminais, teve sua pena convertida para prestação de serviços. Ele foi um dos anfitriões da “festa da colheita”, em fevereiro de 2019, quando ministros do ex-presidente foram ao Mato Grosso comemorar com indígenas a produção de soja – em uma área embargada pelo Ibama.
Originário dos oceanos Índico e Pacífico, o peixe-leão tem se espalhado rapidamente e virou uma ameaça à biodiversidade marinha no Oceano Atlântico. Como espécie “invasora”, não há predadores naturais e é um tipo de “peixe devorador”. “A fauna local não o reconhece como predador nem como presa, e isso dá uma vantagem competitiva muito grande para ele. E como é um animal voraz, o estômago dele dilata bastante, e eles comem qualquer animal que caiba na sua boca, como peixes menores, lagostas e camarões”, explica o oceanógrafo Rafael Menezes ao Correio Sabiá. A competição com o peixe-leão é, por exemplo, uma ameaça à pesca também. Um dos motivos para sua aparição é a criação de aquários por ser bonito e exuberante. “Porém, fica grande, é venenoso, muito voraz, come muito. As pessoas acabam desistindo de tê-lo em aquários e resolvem soltar ‘na natureza’.”
📙 Cultura
A nova Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados será presidida por Marcelo Queiroz (PP-RJ) em seu primeiro mandato na Casa. Queiroz já foi vereador do Rio de Janeiro e deputado estadual. A Escotilha detalha que, na contramão de políticos de seu partido e de sua ala ideológica, o deputado federal defendeu o setor como gerador de emprego e renda, além de afirmar que a cultura brasileira “é diversa, grande”. “Temos que saber trabalhar para respeitar as diferenças”, completou. No entanto, ele não tem experiência na área nem apresentou projetos de lei para o setor. Seu desafio será conseguir manter o diálogo democrático na comissão, que está com grande presença de parlamentares da extrema direita.
A trajetória de Marielle Franco ganhou uma exposição no Congresso Nacional. Inaugurada na última terça-feira, dia em seu assassinato completou cinco anos, a mostra “Marielle Franco – Nesse lugar” está aberta ao público até o dia 23 de março. Traz uma linha do tempo com as realizações da vereadora carioca, conectadas por trechos de discursos e textos publicados no período em que esteve na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, como informa o Notícia Preta. O espaço dado à exposição em Brasília é importante para a memória de Marielle, uma vez que ao menos 14 manifestações artísticas em sua homenagem foram vandalizadas nos últimos anos. Levantamento feito pelo Nonada revela que, na maioria dos casos, o rosto da vereadora foi rasurado ou pichado e frequentemente foi possível encontrar frases com discurso de ódio misógino, lesbofóbico e racista.
🎧 Podcast
A comunicação – algumas vezes – é um fato raro. E é nesse universo de caixas pretas que mergulha o novo episódio do “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo. Em seu primeiro ato, é narrada a história de quando o escritor e jornalista peruano Julio Villanueva Chang entrevistou, em 2010, o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, aos 102 anos. O que aconteceu foi caótico: nenhum nível de compreensão entre eles. Chang falava um “portunhol”, mas Niemeyer falava apenas português e, por sua idade, estava com a audição prejudicada. Amiga de Chang, a jornalista Carol Pires o ajudou a transcrever e traduzir a gravação e então caiu na risada pela situação que havia acontecido. Mais de uma década depois, o áudio recuperado dá o tom ao episódio.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Do “Picolé de Limão” ao “Amor nas Redes”, a voz de Déia Freitas é inconfundível. Criadora do podcast “Não Inviabilize”, um dos mais ouvidos do Brasil, a psicóloga de 47 anos lembra que era contadora de histórias desde muito jovem: “Gostava de ouvir histórias da Bíblia e depois sair contando. Sempre gostei dessa coisa de contar histórias e de aventuras, como se estivesse num filme”. Antes do podcast, as narrativas eram enviadas por canal no Telegram, como “um espaço de contos e crônicas, um laboratório de histórias reais”. À Agência Mural Deia relata que o sucesso pressupôs para muita gente que ela fosse uma mulher branca: “Quando postei a primeira foto, muita gente escreveu ‘achei que você fosse loira’. Foi péssimo para mim. Fiquei com ódio. Sempre acham que, por trás de um trabalho como o meu, tem uma pessoa branca”.