A violência política de gênero contra Janja e a cidadania indígena no país
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, pessoal. Aqui é a Audrey, editora da Brasis.
Hoje é o último dia da pesquisa sobre a newsletter que, em fevereiro, completa seis meses no ar. Para afinar o trabalho de curadoria, queremos ouvir de vocês, nossos leitores, como avaliam este primeiro semestre da Brasis. O questionário é curtinho, com perguntas simples e diretas, e o objetivo é melhorar a seleção de histórias que fazemos todos os dias. Para responder, é só clicar aqui. Contamos com vocês!
Obrigada e boa leitura.
🔸 Na semana em que os ataques criminosos em Brasília completaram um mês, a Polícia Federal (PF) concluiu que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afastado do cargo na sequência dos atos golpistas, não foi conivente com as invasões aos Três Poderes. A PF informou que a perícia nos celulares dele não revelou que Ibaneis mudou o planejamento, desfez ordens das forças de segurança ou omitiu informações a autoridades superiores do governo federal. O Metrópoles apresenta o relatório, entregue ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF), e descreve como o então governador tratou do caso. O Antagonista antecipa que Ibaneis vai pedir ao STF para reassumir o cargo.
🔸 “Estimado governador, boa noite! A Polícia do Senado está um tanto apreensiva pelas notícias de mobilização e invasão ao Congresso. Pode nos ajudar nisso?” A mensagem partiu do Whatsapp de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, para Ibaneis na noite anterior ao dia 8 de janeiro. Embora o governador tenha dito que todas as forças estavam nas ruas, o Congresso em Foco lembra que apenas pouco mais de 300 militares foram entregues ao comando de um major, enquanto os demais estavam sob aviso, mas desmobilizados. A reportagem mostra ainda que Ibaneis não adotou medidas para atender a um outro alerta, do ministro da Justiça, Flávio Dino.
🔸 Os atos golpistas impulsionaram o discurso de ódio e a desinformação sobre a socióloga Rosângela da Silva, a Janja. Os ataques contra a primeira-dama, que foi alvo de bolsonaristas ainda durante a campanha de Lula, cresceram e a conectam à prostituição ou ao tráfico de drogas – o que é falso. A Lupa apurou que, na semana entre os dias 8 e 14 de janeiro, aumentou a busca por “janja prostituta”, segundo o Google Trends. A reportagem faz um histórico dos ataques sofridos pela primeira-dama e ouve especialistas sobre violência política de gênero. Como explica Marlise Matos, professora no departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a violência contra mulheres em cargos públicos existe para tentar inviabilizar e deslegitimar o espaço ocupado por elas.
🔸 Ainda sobre o 8 de janeiro: parlamentares bolsonaristas tentam, por meio das redes sociais, responsabilizar petistas pelos ataques em Brasília. O Aos Fatos analisou todas as publicações nas páginas de Facebook de 36 parlamentares da base aliada de Jair Bolsonaro (PL). São postagens feitas tanto nos últimos dois dias quanto nos dois dias que se seguiram aos atos. As de maior engajamento (com 140 mil interações) apontam falsas suspeitas sobre a presença de infiltrados nos ataques ou recorrem a ações violentas da esquerda em anos anteriores para relativizar os crimes de janeiro.
🔸 De volta à tragédia humanitária na terra Yanomami. O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), por exemplo, defendeu que os indígenas “têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho”. O Ministério Público abriu inquérito sobre o caso, ao ver indícios de racismo na fala. Não só políticos, mas boa parte da sociedade ainda nega o respeito à ancestralidade dos povos, prevista na Constituição de 1988. Para tratar da construção da cidadania indígena no Brasil, o Nexo conversa com uma assessora judicial Pataxó, um advogado Terena e um acadêmico branco. Eles explicam o que está previsto na Constituição e tratam da persistência da lógica colonizadora no país.
📮 Outras histórias
Mais de 10 mil famílias da zona sul da cidade de São Paulo estão ameaçadas de despejo. “São comunidades em extrema pobreza, especialmente impactadas pela pandemia, pelo desemprego. (...) Ninguém quer morar dentro do rio, em cima da represa. O que o povo quer de verdade é moradia digna”, afirma Benedito Barbosa, o Dito, militante e advogado da União dos Movimentos de Moradia (UMM). A Periferia em Movimento descreve a articulação de lideranças de ocupações e favelas na luta pelo direito à moradia. As ações de despejo são movidas pela prefeitura, pelo Ministério Público ou, em especial, por projetos de intervenção nas áreas de preservação ambiental. Ana Paula Pimentel Walker, professora de planejamento urbano na Universidade de Michigan, lembra que é importante relacionar a crise climática à realidade das periferias, já que a defesa da preservação ambiental pode ser usada para justificar despejos.
A Bahia tem, em média, duas chacinas policiais por mês. É considerado o estado mais letal do Nordeste, com registros de 18 chacinas em Salvador e na região metropolitana só no período entre julho e dezembro do ano passado, com 60 mortos e sete feridos. Destas chacinas, 13 ocorreram em operações policiais, que deixaram 45 mortos. A Alma Preta detalha os dados inéditos do Instituto Fogo Cruzado e lembra que uma ocorrência é identificada como chacina quando há três ou mais mortos civis em uma mesma situação. O levantamento mostra que os homens são a maioria dos mortos: das 45 vítimas das ações da polícia, apenas uma era mulher.
📌 Investigação
De quem partiu a ordem para que o Exército aumentasse a produção de cloroquina em meio à pandemia? Afinal, mais de 3,2 milhões de comprimidos foram produzidos em 2020, e, no ano anterior, nada, nenhuma só pílula. A questão, uma das principais levantadas pela CPI da Covid, não tinha resposta – até esta semana. A Agência Pública teve acesso a documentos inéditos e fez uma série de reportagens sobre a forma como o governo federal tratou o combate à pandemia no país. O conteúdo das atas de 233 reuniões sigilosas sobre o tema, ao longo de 2020 e 2021, é revelador. Segundo os documentos, o Ministério da Defesa foi, no mínimo, coautor da decisão de produzir o medicamento, que não tem eficácia comprovada contra a Covid-19. Senadores que comandaram a CPI afirmaram que vão pedir a reabertura de inquéritos arquivados pela Procuradoria-Geral da República.
🍂 Meio ambiente
Em sacolas plásticas escondidas sob os bancos de uma caminhonete. Assim foram encontrados cerca de mil filhotes de tartarugas-tigre-d’água apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) com um traficante de animais no Rio Grande do Sul. A espécie é frequentemente procurada para ser criada como animal de estimação. O Fauna News lembra que o homem, de 53 anos, já foi detido outras duas vezes pelo mesmo tipo de crime: em 2005, com saguis, tucanos e pássaros; e em 2019, com 800 tartarugas.
O Conselho da Shell no Reino Unido está na mira da Justiça por negligência climática. É a primeira vez que uma ação busca responsabilizar os conselheiros individualmente sobre o tema. O Reset conta que o processo foi aberto pela ClientEarth, organização de direito ambiental sem fins lucrativos, acusando os 11 diretores da empresa de má gestão dos riscos das mudanças climáticas. A ação já recebeu o apoio público de um grupo de investidores institucionais. A Shell teve um lucro recorde de US$ 40 milhões no ano passado. Não apresentou, porém, metas tangíveis de descarbonização, deixando de se preparar para a transição energética, de acordo com o processo judicial.
📙 Cultura
Histórias contadas e rimadas, com ajuda de elementos da cultura hip-hop, compõem a peça “O Sinal Tocou e Eu Ainda Não Cheguei”. O espetáculo realizado pelo grupo Coro de Teatro cria um debate sobre como diversos conflitos e a ausência de políticas públicas nas quebradas levam jovens periféricos à evasão escolar. O Desenrola e Não Me Enrola explica que o enredo vem a partir das vivências dos próprios atores e surgiu da vontade de construir um espetáculo que fosse próximo de sua realidade, incluindo o cotidiano nas escolas nas periferias.
“Gilsons surgiu de uma forma muito despretensiosa, num convite que foi feito pra mim. Então chamei Francisco e, na sequência, convidei João pra gente reunir o nosso repertório. Seria apenas um evento isolado, onde a gente iria apresentar nossas canções da época.” Quem conta a história é José, filho de Gilberto Gil. Francisco e João são netos do compositor baiano. O que seria um evento isolado se tornou a banda Gilsons. Com show nas prévias do Carnaval de Pernambuco, eles contam à revista O Grito! desde a origem do grupo às suas influências musicais, em especial a música afro-baiana, o samba carioca e a música popular como um todo.
🎧 Podcast
Existem formas de reduzir as dores existenciais? O novo episódio do “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, narra duas histórias que tentam lidar com esses modos. A primeira se passa entre a década de 1990 e o início dos anos 2000, quando a psicóloga Stella Almeida decidiu pesquisar o ecstasy, nome popular do MDMA, e elaborar um plano de redução de danos. Ela e sua orientadora viram o projeto ter um desfecho inesperado. No segundo ato, um casal buscava resolver brigas, também pensando na ideia de reduzir danos, mas de um jeito bem atípico: redigiram uma carta magna do relacionamento, com PECs (Propostas de Emenda à Constituição) e medidas provisórias. O casal narra como fez sua própria Constituinte.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
A casa cheia, comum em décadas passadas, é algo cada vez mais raro. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a taxa de fecundidade das mulheres brasileiras, em 2021, era de 1,76 – contra 6,16 em 1940. O Portal Lunetas mergulha nos mitos que cercam os filhos únicos: será que o senso comum que os envolve, como de que serão mais egoístas, dependentes, solitários e mimados, faz sentido? “O diferencial não está relacionado ao número de irmãos que um indivíduo possa ter, mas ao ambiente no qual ele foi educado”, adianta a psicóloga Sirlene Ferreira.