A violência policial no Rio e o assassino de Chico Mendes no PL
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Oi, pessoal, bom dia!
Aqui é a Audrey, editora da Brasis. Estamos desde setembro de 2022 no ar, tendo vocês como leitores todos os dias. Em quase um ano e meio, nossa curadoria se aprimorou e cresceu – hoje, buscamos histórias para a newsletter a partir de conteúdos produzidos pelas quase 140 organizações associadas à Ajor.
Para aprimorar nosso trabalho, queremos saber um pouco mais sobre vocês. É um questionário breve e simples, com perguntas objetivas cujas respostas poderão nortear nossa seleção diária de textos.
Será uma honra poder conhecê-los melhor. Para participar, é só clicar aqui:
Contamos com vocês.
Obrigada e boa leitura.
🔸 Ao menos dez favelas do Rio de Janeiro amanheceram ontem sob tiros com uma megaoperação da Polícia Militar. Foram alvos os complexos do Alemão, da Penha, da Maré, além de Cidade de Deus, Flexal, Juramento, entre outras. O Voz das Comunidades informa que, desde cedo, moradores relatavam nas redes sociais dificuldades para circular pelas ruas, além de invasões a residências pelos policiais. “Mandei mensagem para meu chefe, não tem como sair agora, muito tiro”, disse um trabalhador. Nove pessoas foram mortas.
🔸 O saldo das operações: mais de 20 mil alunos sem aulas, 15 linhas de ônibus afetadas por tiroteios, unidades de saúde sem funcionar. No Instagram, o Instituto Fogo Cruzado faz o balanço da megaoperação nas favelas. “Hoje, mais uma vez, escolas ficaram sem funcionar, e os ônibus deixaram de circular pela cidade. Infelizmente, mais um dia ‘normal’ no Rio de Janeiro. Esta é a cidade do fogo cruzado. Até quando será assim?”, questiona Cecília Olliveira, diretora executiva do instituto.
🔸 A propósito: movimentos sociais e familiares de vítimas pedem mudanças na forma como os casos de violência policial são apurados no Rio de Janeiro. A Alma Preta detalha o documento criado pela iniciativa organizada pela plataforma de Direitos Humanos Dhesca Brasil. O texto lembra que a polícia responde por 35,4% da letalidade na região metropolitana do Rio de Janeiro nos últimos três anos e pede a punição de policiais, o fortalecimento dos inquéritos, a realização de perícias no local, entre outros.
🔸 Cinco anos se passaram desde que Evaldo Rosa foi alvejado por nove tiros de fuzil por policiais militares. Embora tenham sido condenados em primeira instância pela Justiça Militar, os oito agentes aguardam em liberdade o julgamento do recurso ao Superior Tribunal Militar (STM), marcado para amanhã. Em 2019, eles dispararam 62 tiros de fuzil contra o carro onde Evaldo estava com a companheira, Luciana Nogueira, o filho do casal e o pai dela, na estrada rumo a um chá de bebê, em Guadalupe, no Rio. Em entrevista à Agência Pública, ela conta que o filho recebe tratamento psiquiátrico e diz que a justiça ainda não foi feita. “Vai doer até nosso último suspiro”, afirma. Em tempo: o advogado de defesa dos militares é Rodrigo Roca, que tem entre seus clientes generais acusados de tortura durante a ditadura e também Flávio Bolsonaro (PL).
🔸 Réu confesso, condenado a 19 anos pelo assassinato de Chico Mendes, Darci Alves Pereira é presidente do Partido Liberal (PL) de Medicilândia, no Pará. Ele assumiu o cargo em janeiro, como revela O Eco, e, nas redes sociais, apresenta-se como pré-candidato a vereador. Pereira se estabeleceu no município de 32 mil habitantes depois de cumprir parte da pena pelo homicídio do líder sindicalista. Na cidade, porém, ele não é conhecido pelo próprio nome. “Em Medicilândia, não é todo mundo que sabe que ele é o Darci que matou o Chico Mendes, pra você ter uma ideia. Ele utiliza outro nome, a gente conhece ele por Daniel”, conta uma moradora. Chico Mendes foi morto em 1988, aos 44 anos, com um tiro no peito no quintal de sua casa, em Xapuri (AC). Darci Alves confessou o crime em diferentes ocasiões.
📮 Outras histórias
“A Rocinha reflete um pedaço do mundo”, afirma Marcos Braz, idealizador da Academia de Cinema da Rocinha (ACR). A escola quer despertar o potencial artístico dos moradores da comunidade, na zona sul do Rio de Janeiro, e tornar-se também referência de formação internacional. O Fala Roça explica como deve funcionar a ACR, cuja meta para 2024 é oferecer duas formações de longa duração, entre três a seis meses, com início em março. Um desafio enfrentado pela escola desde já é o custo dos equipamentos, como câmeras e computadores. Já para atrair professores, palestrantes convidados e conseguir outros materiais, como lanches para as sessões de cinema, os fundadores do projeto mobilizaram uma rede de contatos do audiovisual.
📌 Investigação
Produções brasileiras, encabeçadas por mulheres e pessoas LGBTQIA+, trazem um novo olhar sobre o aborto. Em Hollywood, que ainda é considerada a mais influente indústria do cinema do mundo, embora venha mudando nas últimas décadas, o cenário é outro: a maioria de personagens são brancas, e os diretores, homens cis, como mostra a Gênero e Número. Em um total de 214 filmes catalogados pela iniciativa Abortion on Screen, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, apenas 31 são totalmente dirigidos por mulheres cis, enquanto cinco são codirigidos com homens cis e um filme é dirigido por uma pessoa não binária. A maior parte das obras que não são feitas por homens cis (62%) foi lançada depois de 2010.
🍂 Meio ambiente
“Nossa sabedoria ancestral desempenha um papel crucial na preservação ambiental, oferecendo práticas sustentáveis e conhecimentos valiosos sobre a biodiversidade da Amazônia”, relata Samuel Arara, de 22 anos, do povo Shawãdawa, que vive na Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá, no Acre. A Amazônia Latitude narra a trajetória de Samuel e as histórias de outros dois jovens indígenas de etnias e localidades diferentes. Eles atuam em iniciativas de conservação da floresta e dos saberes tradicionais de seus povos. “Desde muito cedo, fomos motivados a fazer algo pela natureza, seja de forma direta, plantando uma árvore, não poluindo nossos igarapés e rios”, afirma Carol Puyanawa, da Terra Indígena Puyanawa, também no Acre.
📙 Cultura
Reconhecido por prêmios nacionais e internacionais, como o Festival do Rio, o Mix Brasil, o Festival de Cannes e o de Roterdã, o longa “Levante” apresenta a realidade da criminalização do aborto no país, quando a protagonista vira alvo de um grupo conservador ao tentar interromper a gravidez de modo clandestino. Segundo o Nonada, a ideia do filme surgiu quando a diretora Lillah Halla e a co-roteirista María Elena Morán atravessaram a fronteira entre Brasil e Uruguai, onde o aborto é um direito. “Não só os limites territoriais são alargados no filme, mas também os de outros temas, como gênero e sexualidade. Através das imagens, desde os primeiros minutos, o filme não só retrata mulheres cisgênero, mas, a partir da história de Sofia, pessoas trans, não-binárias, travestis, podem também compor o filme”, escreve a jornalista Anna Ortega.
🎧 Podcast
Além de mulheres cis, homens trans, transmasculinos e pessoas não binárias vivem a experiência da gestação e do aleitamento. A partir da medicina, da antropologia e de vivências de casais e pessoas transgênero, o “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, mostra como gestar e amamentar são, acima de tudo, processos socioculturais. Antropólogo que pesquisa a gravidez transmasculina no doutorado em Ciências Sociais da Universidade de Brasília (UnB), Dan Kaio Souza Lemos explica que essas experiências são perpassadas pela transfobia até mesmo no acesso à saúde. “Ter uma pessoa transmasculina alimentando uma criança é um debate contra-hegemônico.”
🧑🏽⚕️ Saúde
Mães brancas com acesso a clínicas privadas têm 49% mais chance de ter um filho diagnosticado com autismo em relação a mães racializadas. A conclusão é de uma pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em Minas Gerais. O estudo, feito com 1.134 crianças e adolescentes de 2 a 15 anos, analisou que fatores socioeconômicos e demográficos, como raça e idade da mãe, e tipo de cuidado recebido durante a gestação são determinantes para a identificação do transtorno do espectro autista. A Agência Bori destaca que esses resultados podem refletir as desigualdades no acesso aos serviços de saúde, especialmente de diagnóstico e de tratamento.