A violência na Maré e as candidatas negras no estado mais branco do Brasil
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🔸 Casas invadidas e depredadas, mortos, uma jovem pisoteada, um morador mantido em cárcere privado por horas. As violações de direitos humanos são o saldo da operação policial no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que começou no amanhecer de ontem e se estendeu por todo o dia. Membros de um grupo armado invadiram a casa de um morador e o fizeram refém. Depois de longa negociação, 14 pessoas saíram da residência encaminhadas para a delegacia e outras três para o hospital – entre elas, um jovem de 14 anos morreu, atingido na porta de casa. A Maré de Notícias Online descreve como foi a operação de dentro da favela.
🔸 “Estavam arrombando os carros e as portas dos meus vizinhos. O medo toma conta da gente.” A estudante Camila Felippe, de 25 anos, saiu de casa mesmo assim, durante a operação na Maré, para não perder uma prova da faculdade. Pediu à professora para fazer o teste depois, mas ouviu não como resposta. O jornal Voz das Comunidades conta que a Polícia Militar confirmou, no início da noite, cinco mortos e anunciou o fim da incursão às 18h – mas, depois disso, moradores ainda viam helicópteros sobrevoando a favela. Na Linha Amarela e na Linha Vermelha, fechadas devido ao confronto, policiais e criminosos trocavam tiros, e as pessoas tiveram que se esconder atrás dos carros e das muretas da via expressa. A operação fechou 35 escolas e o campus da UFRJ na região da Maré.
🔸 Laudo: violência policial. A Polícia Federal (PF) concluiu ontem o laudo do caso de Genivaldo Santos, de 38 anos, morto por asfixia em maio deste ano, no porta-malas de uma viatura, após ser preso e os agentes soltarem bomba de gás lacrimogêneo. O Notícia Preta explica que a PF indiciou os três policiais rodoviários envolvidos na morte por abuso de autoridade e homicídio qualificado. Agora, cabe ao Ministério Público Federal apresentar a acusação à Justiça.
🔸 A seis dias das eleições, Lula registrou 48% das intenções de voto, e Bolsonaro manteve 31%. Na pesquisa Ipec divulgada ontem, o cenário de estabilidade se confirma. O Sul21 lembra que o candidato do PT tem oscilado entre 49% (na pesquisa de junho de 2021) e 44% nos levantamentos de agosto deste ano. Bolsonaro oscilou entre 31% e 32% em todos as pesquisas do Ipec em 2022.
🔸 Líder na reta final das eleições, Lula não apresentou a versão final de seu programa de governo ou detalhou propostas que vem mencionando em discursos e programas eleitorais. O texto protocolado no Tribunal Superior Eleitoral apresenta linhas gerais, critica o governo Bolsonaro e relembra iniciativas de governos petistas entre 2003 e 2010. O Nexo conversa com cientistas políticos sobre as principais lacunas no programa.
📮 Outras histórias
“Vamos invadir o Congresso e o STF! Presidente Bolsonaro conta com todos nós!” A mensagem de texto de teor golpista chegou aos cidadãos do Paraná por meio de canais oficiais do governo. A Celepar, responsável pelos serviços de tecnologia da informação no estado, afirma não ter dado autorização e ser vítima de crime. A apontada como autora dos disparos em massa é a empresa Algar Soluções, que acumula ao menos 15 contratos com o governo Bolsonaro. O Jornal Plural Curitiba revela ainda que o Comando do Exército é o órgão que mais empregou seus serviços.
Candidaturas coletivas são a nova estratégia das periferias para colocarem suas pautas nas casas legislativas. A Periferia em Movimento explica como funcionam esses mandatos e seus objetivos de fortalecer o poder popular e a inclusão e mostra ainda que existem algumas inseguranças por falta de uma regulamentação adequada.
📌 Investigação
Candidato à reeleição ao governo do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) era o advogado, até junho de 2021, “exclusivamente” habilitado a receber publicações oficiais do caso de três réus em uma ação movida pelo Ministério Público (MP) do Piauí por grilagem de terras, como revelam materiais inéditos obtidos pela Agência Pública. Rocha recebeu despachos, intimações e afins, contra o grupo no período em que já era governador do DF. A Ordem dos Advogados do Brasil, porém, proíbe a advocacia a governadores com mandato em vigor.
🍂 Meio ambiente
“O envenenamento é mais uma tática de expulsão dos povos dos seus territórios”, afirma Jesus Rosário Araújo, da Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais (N’ Golo). O avanço da pulverização aérea de agrotóxicos tem encurralado os moradores do quilombo Saco Barreiro, próximo ao município de Pompéu, em Minas Gerais. Segundo o Projeto Colabora, a falta de prosseguimento da titulação dos territórios quilombolas deixa os povos mais vulneráveis às ações de empresas agrícolas.
“Indiociata.” Este é o nome que Carlos Bolsonaro deu a um vídeo em que dois indígenas do Xingu, no Mato Grosso, estariam apoiando a reeleição de Bolsonaro. Presidente da Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), Ianukula Kaiabi Suiá conta ao InfoAmazonia que o agronegócio tem tentado aliciar indígenas para aceitar a monocultura dentro das terras e convencê-los de que a produção sustentável e familiar não gera renda. Em tempo: o Parque Indígena do Xingu, onde foi gravado o vídeo, foi o terceiro território que mais queimou no ranking de focos de incêndio em Terras Indígenas e parques de preservação do Mato Grosso, segundo o Inpe.
📙 Cultura
A cartunista transgênero australiana Lee Lai traz em sua nova HQ, “Nectarina”, questionamentos básicos de um casal, composto por duas mulheres, entre o que é o equilíbrio em um relacionamento, os confrontos e os embates com o cotidiano. Além do traço focado nos gestos e expressões, o Farofafá conta que a obra de Lai amplia o protagonismo feminino para muito além do conceito de felicidade.
Moda nordestina em São Paulo. A Emerge Mag mostra a experiência de duas marcas de origem nordestina que trazem diversidade à moda paulistana. “Além de promover novas possibilidades para a moda afrobrasileira, queria gerar renda e movimentar a economia para impactar não só a minha vida, mas também das pessoas ao meu redor”, diz o estilista Sandro Freitas, fundador da Berimbau Brasil, marca com inspiração intercultural, cujas costureiras são majoritariamente da periferia.
🎧 Podcast
Ao longo do tempo, os Puruborá perderam o território, foram usados como mão de obra nos seringais e chegaram ser considerados extintos. Mas sua história é, antes de tudo, um exemplo de resistência. O povo vive num terreno que virou aldeia às margens da BR-429, em Seringueiras, no estado de Rondônia. O podcast Afluente, da Rádio Guarda-Chuva, retoma a luta dos Puruborá e sua batalha para manter a cultura e a demarcação do território.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
No estado mais branco do Brasil, Santa Catarina, onde 81,5% da população se autodeclara branca, a última vez que uma mulher negra se elegeu foi em 1934. A Assembleia Legislativa catarinense tem hoje a maior bancada feminina da sua história – com cinco mulheres brancas. Uma chave para entender a falta de diversidade é a violência política. Numa pesquisa que ouviu 14 candidatas do estado aos postos de deputada estadual e federal, 92,9% afirmaram ter sofrido ou estar sofrendo violência política nas eleições. O Portal Catarinas conversa com mulheres negras e indígenas que resistem e enfrentam racismo e machismo por uma vaga no legislativo.