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A violência contra indígenas e a venda de anabolizantes ilegais
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Assassinatos de indígenas cresceram 54% na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em comparação com o período anterior, do mandato de Dilma Rousseff e Michel Temer (2015-2018). Os dados são do relatório “Violência Contra Povos Indígenas no Brasil”, elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e divulgado ontem. Em 2022, foram registradas 180 mortes violentas. Já o maior registro em 20 anos da série de levantamentos ocorreu em 2020, com 216 casos. Em entrevista à InfoAmazonia, o secretário adjunto do Cimi, Luis Ventura, relata que, além dos assassinatos, todos os tipos de violência contra essa população aumentaram nos últimos quatro anos, resultado de um conjunto de fatores, como a não demarcação das terras, o abandono das medidas de proteção territorial, o incentivo das invasões, a política da liberação de armas e o descumprimento de decisões judiciais.
🔸 Revogar medidas que facilitaram o acesso a armas, aliás, foi uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que defendeu na terça o fechamento de clubes de tiro no país que não sejam direcionados a agentes de segurança. Ontem, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que o governo vai intensificar a fiscalização desses estabelecimentos – incluindo também a Polícia Federal nesse processo. Um decreto já restringiu aspectos como horário de funcionamento e localização. O “Durma com Essa”, podcast do Nexo Jornal, lembra que o número de clubes de tiro acompanhou o crescimento de registros de CACs (colecionadores, atiradores desportivos e caçadores) ao longo do governo Bolsonaro.
🔸 Na última sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, foram aprovados requerimentos importantes, como o compartilhamento da investigação da Polícia Federal (PF) a respeito de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e também os relatórios de inteligência financeira produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre Cid e George Washington, condenado por tentativa de ataque no Aeroporto de Brasília em dezembro. A Agência Pública descreve os próximos passos da CPMI, que volta na próxima semana e ainda deve ouvir Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal; Saulo Moura da Cunha, ex-diretor-adjunto da Abin; e o general Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI do atual governo.
🔸 Ainda sobre o 8 de janeiro: o Sul e o Sudeste foram as regiões que mais enviaram caravanas de ônibus fretados para participar de atos golpistas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, segundo relatório sigiloso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), acessado pelo Congresso em Foco. Ao todo, foram 103 ônibus. O documento revela também que foram identificados 83 indivíduos contratantes de 89 deles e mais três organizações que contrataram outros 14. Os veículos levaram 3.875 pessoas à capital federal em cinco dias. A Abin ainda considera a possibilidade de existirem contratantes que foram utilizados como “laranjas” para esconder os verdadeiros financiadores das caravanas e dos manifestantes.
📮 Outras histórias
“Ele arrancou nossa placa de identificação, disse que sabia o nome completo de cada um, que iria acionar a polícia, que estávamos cavando a nossa própria cova e que iríamos cair direto no buraco, e que sabia onde morava nossa família”, conta uma moradora da Ocupação Triunfo, no centro de São Paulo, ligada à Frente de Luta pela Moradia. A Ponte detalha que o homem citado no relato seria o policial Cesar Augusto Muzel Aprile, filho de Victor Muzel Aprile, nome em que está registrado o prédio abandonado. Cesar esteve presente nas situações de ameaças contra o movimento e em uma ação policial que, no dia 15 de julho, tirou famílias à força da propriedade, sem mandado judicial.
📌 Investigação
Problema de saúde pública, o uso de anabolizantes ganhou espaço no país por meio de influenciadores digitais de musculação. Entre eles estão os que vendem produtos ilegais e adulterados de laboratórios não registrados ou autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como a Oxygen Pharma. O Núcleo identificou fisiculturistas com milhões de seguidores que expõem esses esteróides clandestinos à venda livremente no Instagram – Fábio Giga (2,4 milhões de seguidores) e Tenente Breno (1,9 milhão de seguidores), por exemplo, são garotos-propaganda da marca. A reportagem ainda mostra que a própria plataforma lucra com a propaganda dos anabolizantes. Após acessar uma série de perfis com conteúdo que faz apologia à “bomba”, o algoritmo passou a exibir anúncios pagos por esses laboratórios.
🍂 Meio ambiente
O desmatamento na Amazônia caiu no primeiro semestre deste ano, mas a degradação florestal – fogo, corte seletivo de árvores, garimpo e estradas ilegais – precisa ser combatida. Embora esses danos possam soar menos prejudiciais, os efeitos colaterais já podem ser sentidos, segundo O Eco. Para cada 100 árvores amazônicas desmatadas, a degradação mata em média outras 22 por falta de água – situação que ocorre mesmo distante da área desmatada. Essa é a conclusão de uma análise do Climate Policy Initiative, centro internacional ligado à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Preocupação, medo e ansiedade estão entre os sentimentos mais citados pelas crianças quando são questionadas sobre os desafios ambientais. Em uma pesquisa internacional, metade dos jovens, de 16 a 25 anos, se declararam tristes, ansiosos, impotentes, desesperançosos e culpados em relação à crise climática. O Lunetas ouviu especialistas para entender como reduzir o impacto da “ecoansiedade” na saúde mental e física de crianças e adolescentes. Uma das saídas apontada é engajá-los em ações coletivas que visam a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente.
📙 Cultura
Autora de 20 contos, Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) foi a única escritora entre os idealizadores da Academia Brasileira de Letras (ABL) – fundada em 1897 – e teve seu nome excluído pela decisão de manter a Academia exclusivamente masculina, o que contribuiu para seu apagamento na literatura. O pesquisador Guilherme Barp, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), resgatou a obra da autora em sua dissertação de mestrado. “Tem muito material a ser resgatado, não só da Júlia Lopes de Almeida, mas de outros autores. Eu acredito que, para além da autora, de outras escritoras brasileiras do século 19. Nós também temos várias escritoras aqui do Rio Grande do Sul que os textos delas acabaram ficando só na imprensa, nunca foram publicados em livro”, afirma ao Sul21.
Para mulheres negras, a exclusão literária é ainda maior. Desde sua fundação, a ABL só teve oito cadeiras ocupadas por mulheres – todas brancas. O mercado editorial ainda é masculinizado e embranquecido, e jovens escritoras negras lutam por espaço na literatura independente. A revista AzMina narra como elas se desdobram em busca de representatividade e lembra que essa é uma necessidade que vai além dos protagonistas e dos autores e deve se estender em todo o processo editorial para garantir que as histórias saiam de uma representação estereotipada e superficial.
🎧 Podcast
Indígena dos Umutina-Balatiponé, de Mato Grosso, a jornalista Helena Corezomaé é editora na TV Centro América, afiliada da Globo em Cuiabá. O novo episódio do “Vida de Jornalista”, produção da Rádio Guarda-Chuva, conversa com Helena para contar sua trajetória e a força de seu povo – que quase foi exterminado, chegando a ter apenas 23 pessoas ao longo do século 20. Do ativismo na universidade ao trabalho na televisão, ela lutou para ocupar espaços no jornalismo.
👩🏾⚕️ Saúde
“A saúde digital é a aplicação de tecnologias para garantir mais acesso à saúde, é uma oportunidade de consolidar o SUS e de promover saúde através do uso das tecnologias.” A afirmação é de Clarissa Marques França, codiretora do Aqualtune Lab e integrante da Coalizão Direitos na Rede (CDR). Em entrevista à revista Afirmativa, a especialista explica como a utilização de tecnologias pelo SUS tem um papel fundamental para garantir que a população negra consiga acessar os serviços de saúde e a necessidade de investimento público para que esse nicho se torne “uma forma de lucrar e ganhar dinheiro” para uma pequena parcela da população.