A Vale na lista do trabalho escravo e o lobby das mineradoras
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🔸 O governo federal incluiu a Vale na “lista suja” do trabalho escravo. O caso que levou à inclusão da mineradora no cadastro de empregadores responsabilizados por mão de obra análoga à de escravo é antigo. Refere-se a uma operação realizada em 2015 que flagrou 309 pessoas nessas condições, na Mina do Pico, em Itabirito (MG). A empresa pedia a anulação do caso na Justiça do Trabalho, mas perdeu. A Repórter Brasil lembra que os trabalhadores eram motoristas que levavam o minério de ferro pela estrada particular da Vale que liga duas minas no município. Há histórias como a de um motorista que dirigiu por 23 horas com uma pausa de apenas 40 minutos. Apesar de serem empregados de uma empresa subcontratada, a Ouro Verde, a Justiça considerou a Vale responsável.
🔸 Chamados de “bota-espera”, os lixões temporários em Porto Alegre não têm data definida para fechar. Funcionam em quatro pontos da capital e acumulam entulhos das enchentes que devastaram a cidade ao longo do mês passado. A Matinal visitou os locais e conta que, embora a prefeitura tenha alegado em alguns casos que estão “encerrando operação”, ainda há muito lixo acumulado. O ponto instalado ao lado da Praça Júlio Mesquita, por exemplo, fica a 75 metros de uma escola municipal e a 50 metros de prédios residenciais.
🔸 Ainda sob o impacto das inundações, um quilombo na capital gaúcha também sofre com a pressão pela desapropriação. O projeto da prefeitura é usar o território do Quilombo dos Machado, no bairro do Sarandi, para ampliar as ruas, dentro de um pacote que envolve a ampliação da pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho e de ruas da zona norte de Porto Alegre. A Alma Preta destrincha o caso e mostra que a população quilombola do Sarandi enfrenta constantemente a ameaça de reintegração de posse e o sufocamento de grandes empreendimentos na área, como do grupo Carrefour.
🔸 No sábado, o Brasil perdeu a economista Maria da Conceição Tavares. “Nascida em Portugal, adotou o Brasil e nosso povo com o seu coração e paixão pelo debate público e pelas causas populares. Foi uma economista que nunca esqueceu a política e a defesa de um desenvolvimento econômico com justiça social”, escreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em homenagem à professora nas redes sociais. Ela morreu aos 94 anos, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. O Nexo resume a trajetória da economista, referência no pensamento desenvolvimentista e crítica ferrenha do capitalismo global.
📮 Outras histórias
A cajuína está em alta. Em Teresina, o estoque chegou a acabar e precisou de reposição durante o festival da bebida, no último fim de semana. Os produtores que participavam do evento levaram cem fardos para os três dias, mas viram a cajuína esgotar logo no primeiro dia. “A procura por cajuína cresce entre 20% e 30% ao ano”, afirma Lenildo, presidente da Cooperativa dos Produtores de Cajuína do Piauí (Cajuespi). A Piauí Negócios destaca que, neste ano, a bebida completa dez anos como patrimônio cultural brasileiro. Produzida do suco de caju clarificado e caramelizado, a cajuína movimenta cerca de R$ 70 milhões por ano e gera 37 mil empregos no estado.
📌 Investigação
Criadouro particular na Alemanha especializado na reprodução em cativeiro de aves exóticas e ameaçadas de extinção, a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP) tentou enviar mais de 60 ararinhas-azuis para um zoológico em Gujarat, na Índia. O Conexão Planeta obteve com exclusividade documentos da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres segundo os quais órgãos brasileiros não foram consultados sobre uma remessa de 26 ararinhas-azuis enviadas à Índia em outubro de 2023. Apesar de as aves terem nascido na ACTP, desde 2019 havia um acordo entre a entidade e o governo brasileiro para a reintrodução da espécie na Bahia. Segundo a Agência Federal de Conservação da Natureza da Alemanha, “nenhuma das exportações foi, em momento algum, aplicada para fins comerciais”, mas nenhuma licença de exportação para transferência foi emitida.
🍂 Meio ambiente
O governo do Amazonas aprovou projetos de carbono em 21 unidades de conservação que somam mais de 12 milhões de hectares. Uma delas é a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, com sobreposição a quatro terras indígenas – Acapuri de Cima, Uati-Paraná, Jaquiri e Porto Praia. A InfoAmazonia apurou que, apesar de estarem sobrepostas, a abertura do edital para a contratação das empresas foi feita sem informar a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e sem consulta prévia às populações locais, conforme determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.
📙 Cultura
Todos os anos, na madrugada do dia 2 de julho, em Saubara, no Recôncavo Baiano, um grupo de mulheres sai às ruas em cortejo, com o rosto coberto por panos brancos carregando panelas com mingau na cabeça. São as “Caretas do Mingau”, como conta a Cajueira. A manifestação cultural representa a importância feminina nas guerras de independência, quando mulheres pegaram em armas e foram para a linha de frente contra os portugueses. Atualmente, o grupo busca o reconhecimento da tradição como patrimônio imaterial da Bahia para perpetuar a memória e o papel dessas figuras femininas na história brasileira.
🎧 Podcast
Junto ao pacote de destruição socioambiental, as mineradoras praticam intenso lobby com parcerias com prefeituras e secretarias para emplacar a ideia de que suas atividades não são prejudiciais. O segundo episódio da nova temporada do “Ciência Suja”, produção da NAV Reportagens, traz uma continuação sobre como o setor da mineração atua, inclusive com termos técnicos e “roupagem científica”, para viabilizar empreendimentos que colocam em risco o ecossistema e a comunidade e garantir o seu lucro.
🧑🏽⚕️ Saúde
Decisões históricas para o enfrentamento de crises de saúde pública, como pandemias e epidemias, surgiram durante a 77ª Assembleia Mundial da Saúde (AMS), da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aconteceu no início do mês. Houve um acordo com emendas ao Regulamento Sanitário Internacional, como critérios para relatar eventos de emergência de saúde pública de interesse internacional, e foram estabelecidos compromissos para a conclusão de um Tratado sobre Pandemias. O Conversation Brasil detalha os principais avanços do evento e os pontos sensíveis ao Brasil, como o acesso a patógenos para dados de sequenciamento genético e os debates sobre transferência de conhecimento e tecnologia.