As vacinas contra a dengue e os casos de racismo na liga de vôlei
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🔸 “Não subestimem este Parlamento.” Assim disse Arthur Lira (PP-AL) ontem, no discurso de abertura das atividades de 2024 da Câmara dos Deputados. Em sua fala, o presidente da Casa mandou uma série de recados para o governo, informa o Congresso em Foco. Fez questão de listar projetos de interesse do governo que foram aprovados em 2023, como o arcabouço fiscal e a PEC da Transição, garantiu que a política de boa vizinhança com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai continuar, mas também cobrou “o fiel cumprimento” de acordos firmados. “Vejam que não faltamos ao governo, e esperamos da mesma forma o reconhecimento, respeito e compromisso com a palavra dada. (…) Não espero menos do que isso para com cada um dos nossos 512 colegas de trabalho”, completou.
🔸 Se o governo ainda não divulgou sua lista de prioridades para o primeiro semestre de 2024, já se sabe quais devem ser as principais pautas da Câmara e do Senado para o período. A CartaCapital lista e explica os dez temas que devem dominar o Congresso, a começar pelo fim de benefícios fiscais cedidos a 17 setores empresariais. Entre as pautas, está também o PL das Fake News que, segundo Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), será discutido ainda neste ano. Embora interlocutores de Lula queiram o adiamento do debate para o ano que vem, reconhecem que haverá pressão por causa das eleições municipais.
🔸 Só em 2024, o Brasil registrou mais de 242 mil casos prováveis de dengue, segundo dados do Ministérios da Saúde divulgados na semana passada, quando a revista The New England Journal of Medicine mostrou resultados de eficácia da vacina do Instituto Butantan. A Butantan-DV apresentou percentual de 79,6%. Tetravalente e de dose única, ela protege contra os quatro tipos de vírus da dengue. O produto ainda não está disponível para a população, que hoje conta com a Qdenga, vacina japonesa contra a doença incorporada em 2024 no Sistema Único de Saúde. O Nexo explica as vantagens do imunizante brasileiro, lembra que as doses da Qdenga são escassas e conta que o produto do Butantan só deve estar disponível a partir do segundo semestre.
🔸 “O desenvolvimento de uma vacina contra a dengue tem sido um dos maiores desafios da área das vacinas há décadas”, escreve o virologista Eduardo Furtado Flores em artigo na Agência Bori. Segundo ele, a vacina japonesa confere “níveis muito bons de proteção contra os quatro sorotipos de dengue em pacientes de seis a 60 anos de idade”. “São características nunca vistas antes em vacinas experimentais contra a doença e, por isso, despertaram uma expectativa muito grande na comunidade científica mundial”, afirma. O problema é que as 6 milhões de doses disponíveis para 2024 estão muito aquém da necessidade do país, o que levou o Ministério da Saúde a adotar prioridades na vacinação.
🔸 Enquanto paga influenciadores para fazer “marketing verde”, a Braskem desembolsa valores baixos para indenizar os atingidos pelo desastre ambiental em Maceió. Moradores afetados pelo colapso da mina na capital de Alagoas receberam, em média, R$ 113 mil. A Repórter Brasil apurou que, nas redes sociais, a empresa já se associou a influenciadores, como Bruno De Luca e Giovanna Lancellotti. Segundo levantamento da revista Forbes, o contrato para uma única ação com celebridade digital pode chegar a R$ 180 mil. “É um escândalo um único post publicitário da Braskem custar R$ 100 mil, quando se sabe que as vítimas receberam em média R$ 113.600 por seu imóvel”, protesta Cássio Araújo, coordenador da Associação do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB).
📮 Outras histórias
Para tentar recuperar o mangue danificado pela mina da Braskem, ambientalistas vêm trabalhando de forma independente em Maceió. Eles fazem o replantio de mudas numa área cujo prejuízo ainda não foi totalmente contabilizado. A Mídia Caeté detalha a iniciativa, que partiu do coletivo Enxame. O grupo se aprofundou nos impactos das minas da Braskem ainda em 2018. “Hoje de fato, mesmo por questão de segurança, não é possível fazer o plantio de mangues na região do Mutange, uma vez que está interditado até mesmo transitar no local em razão do colapso da mina. Então, o que fazemos é dar continuidade ao plantio em outras áreas, mas dentro do bioma de Mata Atlântica e dentro do Complexo Lagunar Mundaú-Manguaba”, diz Alonso Netto, coordenador do coletivo.
📌 Investigação
Em fóruns, conhecidos como chans, usuários anônimos trocam dicas sobre “melhores táticas” para encontrar e dar match com mães solteiras no Tinder, com objetivo de se aproximar de seus filhos e filhas menores de idade. O Núcleo identificou três discussões sobre o tema em um mesmo chan em um intervalo de 20 dias entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024. O fórum, criado em 2022, conta com mais de 4 mil usuários e tem milhares de posts sobre exploração sexual, assédio contra meninas adolescentes, “dicas” de aliciamento e outros crimes contra menores de idade.
🍂 Meio ambiente
Dos estados que compõem a fronteira agrícola do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia), o Tocantins é o único na região Norte e também o único em que todos os municípios (139) estão dentro da área de expansão de monocultura. A Eco Nordeste traça um panorama histórico dos conflitos agrários no estado, desde a falta de transparência em relação à regularização de áreas públicas até a Lei Estadual 3.525/2019 que, segundo os movimentos sociais, “legaliza o roubo” de terras. Em 2022, foram registrados 504 casos de pistolagem, 113 casas destruídas, 101 ameaças de expulsão, 15 ameaças de morte contra posseiros e um homicídio decorrente de conflito por terra.
📙 Cultura
“Antes de ter espaço físico, a gente quer entender o nosso corpo enquanto museu, enquanto guardiões de uma sabedoria”, afirma Bárbara Matias, indígena da etnia Kariri, de Lavras da Mangabeira, no Ceará, onde a comunidade do Marreco foi vítima de um crime ambiental. Atualmente, seu povo busca recursos para construir o Museu-Vivo das Marrecas Kariri. Para mostrar a luta de diversos povos do campo a fim de preservar suas memórias, o Nonada conta também as histórias do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, na Paraíba, e da Casa Memória da Mulher Kalunga, em Goiás.
🎧 Podcast
Um dos elementos de mais protesto da cultura hip hop, o grafite apresenta também uma relação complexa de combate à gentrificação dos territórios. O Manda Notícias recebe os grafiteiros Gamão e Carol Itzá, que atuam na zona sul de São Paulo, para conversar sobre a resistência e os conhecimentos que a arte do grafite mantém. “Essa é uma cultura comunitária. Não é de individualismo ou de ego para alguém ficar rico. Tem muita coisa antes da tinta. Antes do hip hop, tinham as pessoas que construíram a quebrada, toda uma condição para uma cultura existir”, afirma Itzá.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Em dois dias, dois casos de racismo no voleibol brasileiro. Ambos se deram na Superliga B, segunda divisão da principal competição do país. O primeiro ocorreu numa partida feminina em 26 de janeiro, quando três jogadoras do Tijuca Tênis Clube, do Rio de Janeiro, denunciaram ter escutado a torcida do time adversário, o Curitiba Vôlei, emitir sons de macaco. Já o segundo caso foi no dia 27, no campeonato masculino, na disputa entre Goiás e América do Rio Grande do Norte. O técnico da equipe do América, Alessandro Fadul, parou o jogo para informar ter sido alvo de ofensas racistas – e foi punido pelo árbitro pela interrupção. A revista Afirmativa detalha os casos e conta que atletas de diversos clubes e da Seleção Brasileira cobraram medidas mais duras da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV).