Um ano dos atos golpistas e os livreiros de rua do Recife
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🔸 “Não há perdão para quem atenta contra a democracia”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ontem, no Congresso, em cerimônia que marcou um ano dos atos golpistas em Brasília. Ao lado de representantes dos Três Poderes, ministros de Estado, governadores e parlamentares, ele completou: “O perdão soaria como impunidade, e a impunidade, como salvo-conduto para novos atos terroristas”. O Jota conta ainda que Lula se referiu ao antecessor, Jair Bolsonaro, como “ex-presidente golpista” e disse que, se a tentativa de golpe não tivesse fracassado, o Brasil estaria mergulhado em caos econômico e social. Do ano passado para cá, o Supremo Tribunal Federal condenou 30 pessoas, com penas que passam de 15 anos de prisão em alguns casos.
🔸 O ministro Alexandre de Moraes lembrou o papel das redes sociais na convocação dos ataques às sedes dos Três Poderes. O Congresso em Foco destaca sua defesa por uma “moderna regulamentação” das plataformas: “Hoje também é o momento de olharmos para o futuro e de reafirmarmos a urgente necessidade de neutralizar um dos grandes perigos modernos à democracia: a instrumentalização das redes sociais pelo novo populismo digital extremista”. O magistrado emendou: “Os novos populistas digitais extremistas, inimigos da democracia e do Estado de Direito, instrumentalizaram as redes sociais – que buscando o lucro, nada fizeram para impedir.”
🔸 Em vídeo: a desinformação foi peça-chave nos atos golpistas. Grupos de Whatsapp e Facebook, além de falas do próprio ex-presidente disseminadas nas redes, fomentaram a ida de pessoas a Brasília para os ataques. A Lupa lança um minidocumentário que traz uma entrevista exclusiva com Sheila Mantovani, professora e uma das pessoas presas em decorrência do 8 de Janeiro, investigada por incitação ao crime e associação criminosa. O vídeo busca entender o que a moveu a participar e como discurso de ódio contribuiu para os atos antidemocráticos.
🔸 A propósito: os réus dos atos golpistas continuam espalhando desinformação. É o que revela levantamento do Aos Fatos a partir de 32 perfis de Facebook e Instagram de pessoas acusadas na ação civil pública apresentada pela Advocacia-Geral da União, em fevereiro de 2024. Nem todos os perfis são públicos, mas a reportagem identificou ao menos seis dos processados que continuam disseminando informações falsas mesmo depois do início da ação. Entre os acusados, está Carlos Eduardo Oliveira (PL), que é vereador em São Pedro (SP) e foi cabo eleitoral da deputada Carla Zambelli (PL-SP). Ele alterna publicações falsas com posts sobre segurança pública e pautas conservadoras.
📮 Outras histórias
Há pelo menos 50 anos, livreiros de rua organizam cuidadosamente obras literárias em calçadas da avenida Guararapes, no centro do Recife. São cerca de 20 vendedores na área que ficou conhecida como “polo livresco”. A Marco Zero narra as histórias e rotinas de alguns deles, como Oliveiros Souza, de 72 anos – mais de 30 dedicados à venda de livros usados na calçada da avenida. “Tem um ditado que diz: nada substitui um livro. Mas depois que a tecnologia avançou, veio o celular, veio o computador, aí diminuíram as vendas. A gente já teve ocasiões de vender muitos livros aqui, anteriormente, sabe? Agora, a gente vende mais devagar. Mas sempre vende, porque quem gosta de livro não quer saber de outra coisa”, diz o livreiro.
📌 Investigação
“Os presos me falaram: ‘Olha, o seu filho morreu lá dentro da cadeia, junto com nós, lá dentro, nós vendo ele morrendo’. Eles não prestaram socorro pro meu filho de jeito nenhum”, conta Robervaldo da Costa, pai de Rafael Barbosa da Costa, que morreu na prisão, aos 22 anos, em dezembro de 2022. Segundo a Ponte, o jovem, que contraiu tuberculose no Complexo Penitenciário de Americano, em Santa Izabel (PA), pode ter tido o quadro agravado por práticas de tortura e humilhação. “Os presos dormem no chão, na pedra, mesmo. Sem colchão, sem cobertores, com roupas rasgadas, na cela molhada, com pouca alimentação e torturas psicológicas”, denuncia um policial penal do Complexo Penitenciário de Santa Izabel.
🍂 Meio ambiente
A atual rede de unidades de conservação no país não é robusta o suficiente para preservar a biodiversidade diante das mudanças do clima. É o que alerta estudo publicado na revista científica Biological Conservation. O Eco conta que os pesquisadores fizeram um levantamento de mais de dois mil artigos e selecionaram 56 focados na avaliação dos impactos das mudanças climáticas em unidades de conservação. Em diversos cenários, as projeções indicam a saída das espécies desses espaços e a perda de habitat. As áreas protegidas na Amazônia serão as mais impactadas, seguidas pelo Cerrado e a Mata Atlântica.
📙 Cultura
Em Campinas (SP), considerada por historiadores a última cidade do Brasil a abolir a escravidão, José Bene de Moraes, 74 anos, é um símbolo vivo de resistência negra. No documentário “Bene, o Poeta Negro”, o Nonada relata as vivências de Mestre Bene no movimento negro e na cultura popular desde a época de ditadura militar até os dias atuais. “O Bene é realmente um mestre. Ele parte de um espaço negado de acesso, quando entendemos que ele é uma pessoa preta que saiu de uma fazenda, de uma situação de pobreza, e que galgou seu espaço dentro da cultura para pessoas pretas da comunidade”, afirma o produtor cultural Igor Amancio, um dos diretores da produção.
🎧 Podcast
Único branco batizado pelo povo Enawenê-nawê, o jesuíta espanhol Vicente Cañas, que passou a ser chamado de Kiwxí, viveu com os indígenas no Mato Grosso no final da década de 1960 e apoiou no processo de demarcação de terras. Em abril de 1987, o corpo de Vicente apareceu às margens do rio Juruena. Uma morte que levou anos para ser solucionada. No “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, a atriz e escritora Rita Carelli, frequentadora do barraco de Kiwxí quando era criança, compartilha como a história do jesuíta a assombrou boa parte da vida.
🧑🏽🏫 Educação
Embora a educação especial seja garantida por lei, familiares de crianças com deficiência e neuroatípicas enfrentam dificuldades no processo de matrículas nas escolas todos os anos. A alegação de falta de vagas se repete tanto na rede pública quanto na privada. O Lunetas reúne os principais obstáculos no acesso à educação por essa população, quais são os direitos garantidos legalmente e o que deve ser feito caso uma matrícula seja negada, desde denúncias em delegacias a pedidos de suporte legal no Ministério Público.