A primeira trans líder no Congresso e o racismo ambiental em SP
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🔸 A Embaixada de Israel decidiu “baixar a poeira” e reduzir as tensões em meio à crise diplomática com o Brasil. A informação é de Guilherme Mazieiro, colunista do Terra. Um primeiro indício do recuo seria a nota lançada pela embaixada israelense ontem, informando que o embaixador Daniel Zonshine não irá ao ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no próximo domingo com o objetivo de se defender das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado.
🔸 Mais uma vez, Bolsonaro pediu para ser dispensado do depoimento à Polícia Federal marcado para hoje. E, mais uma vez, o ministro Alexandre de Moraes negou o pedido. Segundo o magistrado, não há motivo para adiar a oitiva sobre as tramas golpistas de 2022. A CartaCapital informa que a defesa de Bolsonaro adiantou que o ex-presidente ficará em silêncio na PF.
🔸 Há mais de um ano, seis corpos de indígenas Yanomami aguardam identificação no Instituto Médico Legal (IML) de Roraima. Responsável pelo trabalho de busca de familiares dos mortos, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) afirma ter dificuldades para acessar as comunidades. A InfoAmazonia detalha o problema e explica que os corpos são de indígenas do subgrupo Yanomami conhecido como Yawari, cujas comunidades foram fortemente afetadas pelo garimpo. Além da destruição ambiental, a prática alterou as relações sociais das comunidades, o que prejudica o contato com familiares. Aumenta a dificuldade o fato de serem poucas as informações sobre as circunstâncias das mortes.
🔸 Um ano se passou desde a criação do Ministério da Igualdade Racial. A pasta liderada por Anielle Franco anunciou sete medidas para alavancar a pauta, como o Aquilomba Brasil, que deve beneficiar 214 mil famílias quilombolas. À Alma Preta a secretária-executiva do ministério, Roberta Eugênio, avalia que o primeiro ano foi de retomada de políticas públicas, assim como em todo o governo federal. “Acredito que a igualdade racial esteve na ordem do dia. Um ministério com nome de ministério, com estrutura e com orçamento é central para impulsionar essa agenda e dar passos que antes não haviam sido dados”, diz. Em 2024, o objetivo central é a efetivação do Plano Juventude Negra Viva, com uma atuação interministerial para reduzir as vulnerabilidades que afetam os jovens negros.
🔸 A deputada Erika Hilton (Psol-SP) faz outra vez história: será a primeira mulher trans a ocupar uma liderança no Congresso Nacional. Ela foi escolhida ontem como a nova líder da bancada do Psol-Rede na Câmara, posto que era ocupado por Guilherme Boulos (Psol-SP). O Congresso em Foco destaca que a parlamentar pretende avançar em projetos voltados à proteção dos direitos da comunidade LGBTQIA+ e da população negra. “São pequenos avanços que vão transformando as narrativas e mudando a história, e mais do que isso: mudando a cara e a fotografia do poder”, afirma ela.
📮 Outras histórias
Uma horta urbana cresce em São Paulo sob uma linha de transmissão de energia em Aricanduva, na zona leste. Foi criada em 2013 por Nilda Pereira da Silva Saragó, agricultora de 59 anos, que ainda hoje cuida do plantio e segue as normas de segurança exigidas pela Enel. Agora, ela enfrenta o risco de ser expulsa dali: um empresário local que constrói um galpão ao lado da horta usou tratores para matar parte significativa das plantas. O Joio e o Trigo conta que a incorporadora Barão de Mauá Empreendimentos e Participações, de Rubens Cândido Nunes Jordão, fez alegações infundadas que levaram à detenção de Nilda. A prefeitura e a Enel acompanham o caso e a horta foi inserida num programa piloto que pretende regularizar hortas urbanas.
📌 Investigação
Distritos da cidade de São Paulo que tiveram mais alagamentos, inundações e deslizamentos nos últimos dez anos são também os que possuem população negra acima da média do município, revela levantamento da Agência Pública. Nove dos dez ficam nas periferias da cidade, enquanto apenas um, o distrito da Sé, está na área central. A zona leste reúne seis dos dez distritos mais atingidos. No Jardim Helena, houve 2.073 ocorrências do tipo no período. Mais da metade da população do local se autodeclara preta ou parda. Os dados evidenciam falta de investimento em infraestrutura e de opção de moradia para a população negra, o que pode ser colocado no guarda-chuva do racismo ambiental.
🍂 Meio ambiente
O Rio Grande do Sul completou 10 anos sem divulgar a lista de espécies ameaçadas de extinção. A listagem mais recente foi feita pela última vez em 2014, e o estado possuía 280 espécies de sua fauna em algum grau de ameaça (vulnerável, em perigo ou criticamente em perigo), além de dez já extintas. O Eco explica que a falta de registros coincide com o fim da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB), uma das principais instituições de pesquisa em meio ambiente do país. Com o argumento de redução de gastos – uma economia de menos de 0,5% das despesas do estado –, a extinção da FZB e de outras oito fundações foi aprovada em dezembro de 2016 pela Assembleia Legislativa, mas graças a decisões judiciais a entidade sobreviveu até 2018. Atualmente, o governo insiste na concessão privada das instituições que eram coordenadas pela fundação.
📙 Cultura
Espalhadas pelas periferias de São Paulo, as Casas do Norte resgatam a identidade cultural nordestina. São espaços criados por migrantes em seus bairros que abrigam principalmente a diversidade culinária do Nordeste e possibilitam que os filhos conheçam esses elementos. “Quando os meus pais começaram, 100% dos clientes eram nordestinos, agora está bem dividido, [pois] a culinária nordestina está sendo consumida por todas as pessoas”, afirma Fabiana Lopes, filha dos fundadores da Empório do Nordeste e administradora da loja desde 2016. O Desenrola e Não Me Enrola narra a história de três estabelecimentos fundados por migrantes nas periferias paulistanas.
🎧 Podcast
Mulheres em condição de trabalho análogo à escravidão quando estão grávidas são impedidas de sair do local de trabalho para consultas médicas e realização de pré-natal. É a realidade de mulheres – em maioria imigrantes – nas oficinas de costura em São Paulo. A série “Esperança: Trabalho Escravo e Gênero”, produção da Repórter Brasil, aborda a maternidade nessas condições, com riscos não apenas para as gestantes, mas também para os bebês e crianças. Os filhos costumam ficar com as mães no ambiente insalubre das fábricas, expostos a acidentes e doenças.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“Somos e seremos sempre atravessados por questões raciais desde a infância”, afirma Mariana Ferreira Magalhães, mãe de José Caetano, de 5 anos, e de Amora Maria, de 11 meses. “Desde que soube que seria mãe, tive a preocupação de que meus filhos se entendessem enquanto crianças pretas. Tento trazer essa consciência, dentro do que a infância permite, buscando referências musicais e artísticas”, conta. O Lunetas ouviu especialistas e as experiências familiares para explicar como abordar a questão da identidade racial com as crianças.