A tragédia da Braskem segundo os moradores e o golpe do saque social
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🔸 “Estamos vivendo momentos de terror aqui. Ninguém veio falar com a gente para explicar o que está acontecendo. O medo é de a barreira descer, da mina ceder e morrer todos os moradores daqui.” Sônia Ferreira é uma das moradoras da rua São Francisco, que fica na divisa da região afetada e da área evacuada no bairro do Mutange, em Maceió, onde houve o rompimento da mina da Braskem. Se as imagens de drone que circularam na imprensa tradicional dão a aparente impressão de que o impacto foi minimizado, do chão, conversando com moradores, a Mídia Caeté mostra a realidade. Às margens da Lagoa Mundaú, foi instalada uma cerca de alumínio, que formou um trecho de moradores isolados. Entre as ruínas das casas já evacuadas, corre esgoto a céu aberto, além de ratos, cobras e focos de mosquitos que proliferam doenças. A reportagem narra o dia do rompimento da mina a partir da perspectiva dos moradores – e ouve deles que, mais uma vez, faltam informações e ações para proteger e direcionar quem vive na região.
🔸 Não foi da noite para o dia. Desde 2010, as casas já apresentavam rachaduras e, em 2018, a região chegou a sofrer um abalo sísmico. Também há mais de uma década o engenheiro civil Abel Galindo, especialista em Geotecnia e ex-professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), vem alertando para os riscos de extração de sal-gema em Maceió. “Eu sempre soube que grandes perfurações, atividades de minas podem causar problemas onde ela está. Além disso, não se faz atividade de mineração em área urbana”, afirma. O Projeto Colabora detalha os riscos apontados por Galindo, como o desrespeito aos limites de extração. Imagens do sonar mostram que a caverna da mina 18 estava com 82 metros de diâmetro – o limite era de 60 metros. Exceder, neste caso, significa o possível desabamento do teto da caverna.
🔸 “Não há quem não fique sufocado diante de tantos problemas que a Braskem causou à cidade e aos seus moradores. Essas áreas, que antes eram povoadas por famílias, agora estão abandonadas e se tornaram verdadeiros bairros fantasmas.” Na Agência Eco Nordeste, Géssika Costa, fundadora do Olhos Jornalismo, site de jornalismo independente de Alagoas, escreve sobre a tragédia causada pela mineradora em Maceió. Ela lembra que cerca de 60 mil pessoas foram expulsas de suas casas desde 2018, “na mesma medida que o adoecimento mental, a tristeza, o trauma e a expectativa sobre o amanhã incerto atravessaram suas vidas”.
🔸 O Senado sabatina hoje Flávio Dino e Paulo Gonet, indicados respectivamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria Geral da República (PGR). Em campanha para a vaga na Corte, Dino diz acreditar que vai reverter os votos contrários da oposição. A CartaCapital conta que ele vem citando a Bíblia nas visitas a parlamentares, mais precisamente, um trecho de Atos, um dos livros do Novo Testamento, que trata da história de Saulo de Tarso, um perseguidor de cristãos que se tornou apóstolo de Jesus durante um percurso no caminho de Damasco. “As pessoas mudam”, diz.
🔸 A propósito: o que pensam os indicados sobre temas como aborto, drogas e cotas raciais? O Congresso em Foco lista as pautas e resgata posicionamentos dos candidatos de Lula. Sobre a legalização do aborto, por exemplo, Dino afirmou, em 2022, ser “filosoficamente” contrário e defendeu a manutenção das leis atuais.
📮 Outras histórias
Mais de 500 crianças já passaram pela escola de tênis da Rocinha, a Escolinha Fabiano de Paula. Fundado em 2015, hoje o projeto atende 120 jovens na favela da zona sul do Rio de Janeiro. O Fala Roça narra a origem da escola, criada por um ex-atleta de tênis nascido e criado na Rocinha, Fabiano de Paula. Além de formar possíveis tenistas profissionais, o projeto abre portas para outros percursos nos esportes. “Nós temos vários alunos que, graças ao projeto, ingressaram na faculdade de Educação Física, trabalham como professores e instrutores, trabalham em lojas de tênis, encordoando raquetes”, conta Fabiano.
📌 Investigação
Desde o fim de outubro, mais de 240 anúncios do golpe do saque social foram impulsionados nas redes sociais da Meta – Facebook, Messenger e Instagram. Nessas publicidades, golpistas sugerem que o governo federal teria liberado à população um novo benefício que paga cerca de R$ 3 mil. Os usuários são direcionados a um site que imita a plataforma governamental e devem pagar uma “taxa transacional” de até R$ 70 para o saque do valor “retido”, como descreve o Núcleo. Fraudes desse tipo são possíveis principalmente pelo fato de a Meta não ter uma política clara de verificação de anunciantes.
🍂 Meio ambiente
Técnicos do Ibama elaboraram um relatório que aponta “retrocessos”, “inconstitucionalidades” e lista seis “vetos essenciais” no Projeto de Lei 1459/2022, conhecido como “PL do Veneno” pela alta permissividade ao uso de agrotóxicos. O texto foi aprovado pelo Senado no dia 28 de novembro e está nas mãos do presidente Lula, que tem até o dia 27 deste mês para decidir sobre o tema. Segundo a Repórter Brasil, a redução de competências do órgão e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como a função de analisar impactos à saúde e ao meio ambiente, está entre os pedidos de veto dos servidores.
📙 Cultura
Quinze anos após o lançamento de “Ó Paí, Ó”, a segunda parte da sequência chegou aos cinemas brasileiros no mês passado. Com as mulheres nordestinas desempenhando papéis essenciais no desenvolvimento da trama, o longa é dirigido por Viviane Ferreira, segunda mulher negra no Brasil a dirigir um longa ficcional, e protagonizado por Lázaro Ramos. O Nós, Mulheres da Periferia lista os nomes de sete mulheres importantes para a produção da comédia, dos bastidores à atuação na frente das câmeras.
🎧 Podcast
Depois de meses de investigação, o jornalista Tomás Chiaverini passou horas circulando pelo município de Itacoatiara (AM) tentando entrevistar o pastor Arison Farias de Aguiar, responsável pelo projeto Resgatando Cativos, com o suposto objetivo de recuperar usuários de drogas. O penúltimo episódio da série “O Pastor”, da “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, narra o encontro do jornalista com o líder religioso no sítio da iniciativa, onde ele compartilhou sua trajetória, sua perspectiva sobre o trabalho e os inimigos que fez pelo caminho.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Criada por mulheres negras e periféricas, a Casa Ilera compartilha uma série de saberes ancestrais afro-indígenas sobre saúde, alimentação e medicina com moradores do Jardim Robru, na zona leste de São Paulo. Ao Desenrola E Não Me Enrola uma das fundadoras da iniciativa, a enfermeira e gestora de políticas públicas Leila Rocha conta sobre sua atuação no projeto. “Hoje todo meu trabalho está neste lugar de cura a partir das plantas medicinais. E das diversas tecnologias negras e indígenas, nós achamos que tecnológico é só aquilo que é europeu, que é do branco. Mas não, o nosso povo tem tecnologia. E a Ilera faz isso, como Sankofa, que olha pro seu passado, para construir seu presente e seu futuro.”