As testemunhas do caso Marielle e os infratores ambientais nas eleições
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🔸 “Eu queria acreditar que Marielle estava viva.” Fernanda Chaves dividia o carro com a vereadora carioca na noite em que ela foi assassinada, em 14 de março de 2018. Primeira testemunha a depor ontem, no início do julgamento dos assassinos confessos de Marielle Franco, a assessora e amiga da vereadora relembrou o momento seguinte à rajada de tiros. O Metrópoles detalha o depoimento. “Eu estava muito ensanguentada, muito suja de sangue e comecei a gritar por socorro e ajuda. As pessoas se aproximaram, e uma mulher ofereceu ajuda. Eu não enxergava direito, meu corpo inteiro ardia, eu não sabia se estava ferida ou não. E eu olhava para a Marielle lá dentro, e queria acreditar que ela estava viva”, lembrou Fernanda.
🔸 “Tiraram um pedaço de mim. Cada vez que dói, dói muito”, disse Marinete Silva, mãe de Marielle, em depoimento diante do júri que irá decidir a pena dos assassinos de sua filha. A vereadora foi a primeira filha de Marinete e nasceu em 1980. Quatro anos depois, veio Anielle Franco, hoje ministra da Igualdade Racial. Segundo o Terra, a mãe destacou o comprometimento de Marielle, dedicada à família e à luta por justiça social. Marinete lembrou ainda que, em desespero, chegou a mandar uma mensagem para o celular de Marielle dias depois do assassinato. Perguntou: “Minha filha! O que fizeram com você?”.
🔸 “Lembro do último segundo que vi minha esposa com vida. E ela disse: ‘Eu te amo’”, disse Monica Benicio, companheira de Marielle e hoje vereadora reeleita no Rio de Janeiro. O Mundo Negro acompanhou o primeiro dia do júri e reúne trechos dos principais depoimentos. O julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, que confessaram o crime e apontaram os mandantes (os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão), entrou noite adentro. Se condenados, Lessa e Queiroz podem enfrentar penas que somam até 84 anos de prisão cada.
🔸 “A acusação dividiu a Marielle em duas. De um lado, Marielle Franco, a vereadora de esquerda, feminista, bissexual, aguerrida; de outro, Marielle Francisco da Silva, filha de Dona Marinete, madrinha de casamento de Fernanda Chaves, irmã que criou Anielle, mãe de Luyara, carinhosa, amiga, cuidadosa. A cada vítima, a acusação e a assistência de acusação perguntavam: ‘Qual a falta que Marielle faz para a família dela?’.” Em artigo no Intercept Brasil, Caio Almendra narra como se posicionaram os familiares no depoimento. “Mônica, Marinete e Fernanda foram instadas a demonstrar a dor da ausência da Marielle para além da política”, conta. Ele explica ainda como funciona o julgamento: deve durar dois dias e, depois das testemunhas e dos pronunciamentos de acusação e defesa, os jurados respondem a um questionário. A partir das respostas, a pena será anunciada.
📮 Outras histórias
Uma estudante do Ceará foi vítima de injúria racial durante uma partida de futsal feminino. Ela participava dos Jogos Estudantis de Castro (Jeca), no Paraná, informa o Portal Boca no Trombone. Os autores das ofensas eram, como a vítima, adolescentes. Os dois são alunos da rede estadual e têm menos de 14 anos. O caso foi levado ao Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR), que formou uma comissão para atuar no Jeca. No entanto, pela idade dos atletas, o tribunal informou que não pode instaurar um processo disciplinar para apurar os fatos. “O que temos como atuação é a orientação pedagógica. Tão logo foi identificada a situação, os atletas foram desligados das equipes que iriam jogar pela própria direção do colégio”, disse o presidente do TJD-PR, Thiago Amaral.
📌 Investigação
Infratores ambientais doaram R$ 37,7 milhões para campanhas eleitorais neste ano. Eles acumulam R$ 1 bilhão em multas do Ibama. Desse montante, R$ 781 milhões (71,8%) são referentes a crimes na Amazônia. Dos 2.470 infratores identificados, muitos são de cidades com alto desmatamento e garimpo ilegal, como Altamira, Itaituba e São Félix do Xingu, no Pará, como revela levantamento da InfoAmazônia. Apenas 39,5% das doações foram para candidatos da Amazônia, e a maior parte foi destinada a políticos do Sudeste e Centro-Oeste. O MDB foi o partido que mais recebeu, totalizando R$ 7,2 milhões. Entre os maiores doadores está José Ricardo Rezek – fundador da RZK, uma holding com atuação nos setores do agronegócio, energia e construção, além de comandar também uma das grandes distribuidoras de maquinário agrícola no país – com R$ 6,3 milhões em multas.
🍂 Meio ambiente
O desmatamento no Cerrado emite mais gás carbônico que a indústria. É o que indica um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). O desmate na região, entre janeiro de 2023 e julho de 2024, emitiu 80% das liberações de gás carbônico (ou 108 milhões de toneladas) no Matopiba, território agrícola que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Segundo a Eco Nordeste, o Maranhão liderou o desmatamento, emitindo 35 milhões de toneladas de CO2, enquanto Tocantins e Bahia seguiram com 39 milhões e 24 milhões, respectivamente. Pesquisadora do Ipam e coordenadora do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), Fernanda Ribeiro destaca que o desmatamento, além de ilegal, ocorre em áreas onde o Código Florestal permite a supressão de até 80% da vegetação nativa. “É um cenário sensível para a proteção do bioma, que expõe a lacuna de políticas de incentivo para evitar o desmatamento, ainda que legal, e demanda também mais fiscalização para averiguar o desmate ilegal”, afirma a pesquisadora.
📙 Cultura
Cineclubes levam a cultura do audiovisual para comunidades rurais e periféricas. Em Raposa, no Maranhão, crianças assistem ao filme “Coisa-Malu” sob um cajueiro, numa exibição promovida pelo cineclube Carimã, do Instituto Maranhão Sustentável. O projeto busca mobilizar lideranças comunitárias e valorizar a cultura local, oferecendo exibições de filmes e oficinas de produção cinematográfica. O Nonada conversou com participantes de cineclubes que destacam a importância da relação entre o território e o conteúdo que é apresentado nas telas. Em outras regiões, como no Rio Grande Sul, o Canella Cineclube faz projeções que abordam questões socioambientais. A Lei Paulo Gustavo tem sido fundamental para viabilizar recursos e profissionalizar iniciativas cineclubistas. “Me interessei pelo audiovisual [a partir do cineclube], agora fizemos os projetos juntos, como o livro culinário e o curta-metragem. A Lei Paulo Gustavo possibilitou que eu fizesse mesmo sem um curso no audiovisual”, conta Viviane Farias, da etnia Kaingang, que dirigiu o filme “Fuá – O Sonho” (2025).
🎧 Podcast
A tempestade que expôs mais uma vez a crise no setor elétrico de São Paulo (SP) deixou 34% dos eleitores da capital sem luz durante seis dias. Para conversar sobre o apagão, o “Joule”, produção do Jota, convida Joisa Dutra, diretora do Centro de Regulação em Infraestrutura da Fundação Getúlio Vargas e ex-diretora da Aneel. Ela debate questões como a descentralização, a ausência de uma reforma setorial há cerca de 20 anos e o novo arranjo para prorrogação dos contratos de concessão de distribuição. “São 20 concessões de distribuição de eletricidade, que representam cerca de 60% do mercado de consumidores atendidos, e que agora são objeto de uma consulta pública. Inclusive, respaldada pela nota técnica 1.056 da Aneel, que reconhece a necessidade de adaptar esses contratos para que as concessionárias, como compromisso pela prorrogação das concessões, desenvolvam ações para reduzir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência das redes de distribuição frente a eventos climáticos”, explica.
👩🏽💻 Tecnologia
Em busca de um futuro mais sustentável, inovações para a indústria da construção civil prometem descarbonizar o setor. Responsável por 37% das emissões globais de gases de efeito estufa, a construção civil enfrenta o desafio de diminuir as emissões de carbono em um cenário em que uma cidade do tamanho de Nova York é construída a cada mês. E esse ritmo deve continuar pelos próximos 40 anos. A Fast Company Brasil conta que um terço dessas emissões ocorre durante a fase de produção de materiais utilizados para a construção. Nesse contexto, start-ups desempenham um papel crucial ao desenvolver tecnologias que podem ser escaladas globalmente. Atualmente, existem seis iniciativas que adotam tecnologias inovadoras de captura, armazenamento e reutilização de carbono, com o objetivo de possibilitar a produção de oito milhões de toneladas de cimento completamente descarbonizado.