A resposta ao tarifaço de Trump e a trend do Studio Ghibli com ChatGPT
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🔸 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou ontem uma série de tarifas sobre produtos comprados de outros países. O Brasil está na lista, com tarifa de 10%. A Eixos explica que a medida afeta todos os bens brasileiros exportados aos EUA, com destaque para o petróleo bruto, principal item da pauta, que representou US$ 2,13 bilhões dos US$ 3,2 bilhões exportados em fevereiro de 2025. Outros países foram mais duramente atingidos: 34% para a China e 20% para a União Europeia. A tarifa brasileira foi a mesma aplicada ao Reino Unido.
🔸 Numa resposta rápida ao tarifaço do republicano, a Câmara dos Deputados aprovou ontem à noite a Lei da Reciprocidade, que autoriza o Brasil a retaliar países ou blocos que imponham barreiras comerciais a produtos brasileiros. O texto já havia sido aprovado pelo Senado e segue agora para sanção do presidente Lula. Entre as medidas previstas, informa o Congresso em Foco, estão a imposição de tarifas sobre bens e serviços e a suspensão de direitos de propriedade intelectual de países que impuserem restrições ao Brasil. “Essa matéria não é partidária, ideológica ou de governo. É de interesse nacional”, afirma o relator Arnaldo Jardim (Cidadania-SP).
🔸 O tarifaço de Trump inaugura um cenário de risco e incerteza global, com possibilidade de recessão nos EUA e desaceleração da economia mundial. É o que avaliam especialistas ouvidos pelo Metrópoles sobre as medidas anunciadas pelo republicano. “Existe risco tanto de desaceleração da economia global, como de recessão nos EUA, que é cada vez maior, além do risco de inflação e de aumento da dívida das famílias americanas”, afirma o gestor de investimentos Frederico Nobre. Mas ele também lembra que “Trump sempre anuncia um cataclisma e depois senta à mesa para negociar”.
🔸 Depois de uma queda nas mortes causadas por policiais no fim de 2024, as forças de segurança de São Paulo voltaram a matar mais: 54 pessoas foram mortas em fevereiro, alta de 42% em relação a janeiro. O aumento ocorreu majoritariamente durante ações com policiais em serviço (83%). A Ponte repercute os números com Rafael Rocha, coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz. Ele avalia que, se houve um recuo em janeiro, é porque o governo estava sob forte pressão pública. “As câmeras são importantes, os protocolos são importantes, mas, em última instância, o que controla a letalidade policial é o desejo dos comandantes. Eles [Guilherme Derrite, secretário de Segurança de SP, e Tarcísio de Freitas, governador do estado] estavam muito acuados em janeiro. Acho que isso segurou bastante, e agora parece que já temos outras preocupações”, afirma. O perfil das vítimas se repete: majoritariamente homens, pretos e jovens – entre eles, cinco adolescentes.
🔸 O Ministério Público Federal quer receber propostas para o combate ao racismo no futebol. O órgão abriu uma consulta pública para ouvir a sociedade civil. As sugestões serão discutidas com a CBF e os ministérios do Esporte e da Igualdade Racial em reunião no próximo dia 28. Segundo o Notícia Preta, a iniciativa é um desdobramento do inquérito instaurado para apurar possível omissão da CBF no caso do jogador Luighi Hanri Sousa Santos, do sub-20 do Palmeiras, alvo de racismo em partida da Libertadores Sub-20 em março. A plataforma JusRacial apontou negligência da CBF por não questionar a súmula do jogo, a conduta do árbitro ou o valor da multa aplicada — inferior à de infrações como propaganda irregular, apesar de o racismo ser infração grave segundo o estatuto da Conmebol.
📮 Outras histórias
“Eu tenho uma teoria que ser liderança é algo que vem de dentro. Desde que me conheço por gente eu tenho essa empatia. Sempre acabei arrastando pra mim as causas sociais.” Vice-presidente da União Pró-Melhoramento dos Moradores da Rocinha (UPMMR), Marcondes Ximenes, o Condy, é uma das principais lideranças comunitárias da maior favela do Rio de Janeiro. Nascido e criado na Travessa Oliveira, ele atua há mais de 20 anos em causas sociais e percorre diariamente o território ouvindo e ajudando os moradores. O Fala Roça resgata a trajetória de Condy e sua atuação na comunidade na zona sul do Rio. “Eu prefiro acreditar que a Rocinha vai continuar sendo potência. A gente tem um potencial muito grande para transformar esse lugar. Mesmo diante de todas as dificuldades, isso aqui é um paraíso.”
📌 Investigação
Depois da visibilidade que conquistaram indicando tratamentos sem eficácia comprovada durante a pandemia, médicos negacionistas atualmente disseminam desinformação sobre outras doenças em busca de engajamento e lucro. Segundo o Aos Fatos, o câncer se tornou um dos nichos mais explorados. É o caso do neurocirurgião José Augusto Nasser, que ganhou fama divulgando informações falsas contra a vacinação da Covid-19. Em março, quase metade de suas publicações no Instagram foi sobre o câncer. Nasser defende uso off-label de medicamentos sem eficácia comprovada, a exemplo da ivermectina, como possível caminho para a cura de diferentes tipos de tumores. Outros médicos adotam a mesma estratégia e deixam links que direcionam os seguidores para canais de agendamento de consultas médicas ou compra de cursos online.
🍂 Meio ambiente
A manutenção de espaços verdes urbanos, como jardins, praças e parques, tem potencial para preservar a biodiversidade nas cidades, garantindo as interações entre plantas e polinizadores. No Conversation Brasil, os pesquisadores Renata Trevizan e Pietro Kiyoshi Maruyama ressaltam o papel fundamental de polinizadores no ecossistema e de políticas públicas de gestão urbana que possam protegê-los: “Promover uma maior diversidade de flores demonstra ser uma prática útil para conservação de polinizadores nas cidades. Além disso, programas de educação ambiental, hortas urbanas, assim como atividades de ciência cidadã, podem incentivar a população a entender o papel dos polinizadores”.
📙 Cultura
A trend de imagens geradas pelo ChatGPT emulando o estilo Studio Ghibli – estúdio de animação japonês – nas redes sociais retomou o debate sobre os impactos da inteligência artificial na arte. A revista O Grito! ouviu artistas sobre os limites éticos do uso da tecnologia, a mecanização dos processos criativos, a violação dos direitos autorais e o esvaziamento dos estilos. “A arte é rebeldia. É você sair da tela, errar, experimentar, bagunçar. Isso está sendo roubado das pessoas. Existe uma crença de que arte é dom. Mas não é. É prática, é estudo. E se a gente só cria com IA, nunca vai desenvolver nada”, afirma a quadrinista e ilustradora Helô D’Angelo. Já a jornalista e quadrinista Gabriela Güllich destaca essa relação com a precarização do trabalho: “Não penso em como me afeta enquanto artista e sim como isso afeta toda uma classe de trabalhadores: da arte, do design, da escrita. Pessoas que trabalham em áreas que já sofriam com precarização antes mesmo do boom das IA e que tendem a encarar cada vez mais dificuldades para manterem um trabalho digno com um salário que corresponda à jornada”.
🎧 Podcast
O Mercado Municipal de São Paulo já foi um espaço armazém de alimentos da cidade, mas atualmente sobrevive como um marco arquitetônico – e também a partir de golpes para turistas. Os vendedores chegam a cobrar mais de R$ 400 por duas bandejas de morangos, além de vender frutas que não existem como kiwi-banana e pera-maçã. A “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, investiga como o golpe do Mercadão se relaciona com uma série de ataques à Horta City Lapa, na zona oeste de São Paulo, da qual participa a nutricionista Neide Rigo: o modo como as pessoas na cidade consomem os alimentos e se conectam entre si.
👩🏽💻 Tecnologia
Vendido como uma “solução eficaz”, o policiamento preditivo, que se baseia em algoritmos de análise de dados para prever crimes e permitir à polícia antecipar ações, levanta preocupações éticas por perpetuar vieses discriminatórios, mostra o data_labe. Para o coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, Pablo Nunes, essas ferramentas podem “criar uma sociedade que tem a vigilância como pilar da sua estruturação e na qual não há garantias de você ser inocente até que se prove o contrário”. O pesquisador afirma que identificar uma pessoa como “suspeito em potencial” por meio de análises algorítmicas pode resultar em abordagens policiais injustas e discriminatórias em contextos onde a atuação policial já é marcada pela violência, como no Brasil.