A superação do futebol feminino e os casos de 'estelionato sentimental'
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🔸 “Nós somos muito mais fortes do que a sociedade pensa, a gente não pode permitir que eles cresçam sobre nós, nós somos iguais, somos muito fortes, guerreiros.” Assim a judoca Beatriz Souza responde quando perguntada sobre o que é ser uma atleta negra vitoriosa. Aos 26 anos, ela ganhou a primeira medalha de ouro do Brasil nas Olimpíadas de Paris. Em entrevista à Alma Preta, ela fala sobre ser inspiração para “pretos e pretas do mundo todo”, conta que foi aos jogos preparada para vencer (“Eu vim para a guerra, vim para dar meu máximo”) e lembra que a preparação para as disputas não é fácil (“No judô, a gente costuma falar que é uma vida por um dia”). “O Brasil ainda é conhecido como país do futebol, mas acho que quero que ele seja reconhecido como país do esporte. Não quero só o judô em alta, mas todas as outras modalidades. Temos muitos talentos, muitos nomes, muitos olímpicos”, afirma a campeã olímpica.
🔸 O futebol feminino venceu a Espanha ontem e, depois de 16 anos, vai disputar uma final olímpica. O placar contra a atual campeã do mundo terminou em 4 a 2. Não era algo esperado: o Brasil teve uma fase de grupos ruim e foi alvo de críticas. Mas, como escreve Breiller Pires em análise no Portal Terra, a seleção não se fez de vítima, assumiu a responsabilidade e evoluiu. A partida final será no sábado, contra os Estados Unidos. “Ao desbancar o favoritismo das anfitriãs francesas e das campeãs do mundo espanholas, não há como duvidar da capacidade deste grupo, que soube se reinventar nas adversidades e transformou críticas em mudanças construtivas pelo tão sonhado ouro inédito”, avalia.
🔸 Falando em medalhas: os prêmios pagos pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) aos atletas vitoriosos estão sujeitos a impostos. Mas, ao contrário de postagens falsas que circulam na internet, a taxação não foi criada no governo atual. O Aos Fatos mostra que a lei que regulamenta o Imposto de Renda (IR) é de 1988 e não isenta premiações esportivas. Os valores seguem a tabela progressiva do IR e, segundo ela, os atletas terão 27,5% de taxa em cima de seus prêmios, já que as premiações do COB são todas acima de R$ 4.664,68. “Trata-se de uma taxação de Imposto de Renda que existe há muito tempo. Não é um imposto específico para atletas e nem foi criado no governo Lula”, explica o advogado Ranieri Genari.
🔸 “Esporte é coisa de indígena. Como muitos outros atletas, eles só precisam de incentivo, investimento e oportunidade”, escreve a jornalista e ativista indígena Juliana Lourenço, em artigo na revista AzMina. Ela lembra que os Jogos Indígenas tiveram sua primeira edição em 1996 e lista atletas que se destacam em diferentes modalidades. Graziela Santos, por exemplo, é arqueira do povo Karapãna (AM) e foi a primeira mulher indígena a compor a equipe brasileira de tiro com arco. No surfe, Diana Cristina, a Tininha, foi campeã brasileira, sul-americana e pan-americana. No judô, Juliana Felipe, do povo Yanomami (AM), marcou presença nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), em junho de 2024.
📮 Outras histórias
“Dói no peito, rio cercado. Dói no peito, não ter pescado”, diziam em coro as guardiãs do mangue em marcha pelas ruas do centro de Aracaju (SE), na semana passada. A manifestação reuniu representantes de comunidades pesqueiras e ativistas em defesa dos manguezais que cobrem 250 quilômetros quadrados de Sergipe. A Mangue Jornalismo acompanhou a manifestação e narra os desafios enfrentados pelas comunidades tradicionais, que vivem sob ameaças, seja da exploração de petróleo, da especulação imobiliária ou da poluição. Marisqueira desde criança, Dona Gilza dos Santos conta que, na ausência de políticas públicas, é a comunidade quem de fato cuida do mangue: “Quando a gente vê um vaso plástico ou qualquer outra coisa no mangue, pegamos, colocamos no saco, trazemos para jogar onde os carros do lixo possam passar e pegar. Coisa que o governo não faz”.
📌 Investigação
“Eu trabalhei todos os dias quando tive dengue”, conta Alice (nome fictício), trabalhadora da unidade da gigante do setor de frigoríficos JBS em São Miguel do Guaporé (RO). A Repórter Brasil ouviu relatos de profissionais que atuam no setor de carne bovina em Mato Grosso do Sul e em Rondônia. Além de perder benefícios, como o adicional de assiduidade, caso solicitem atestado médico, há medo entre os trabalhadores de eventuais demissões em casos de adoecimento. Eles também relataram dificuldade em obter ajuda nos departamentos médicos das empresas. “Eu ia ao médico [da empresa], tomava injeção e voltava a trabalhar”, afirma Teresa (nome fictício).
🍂 Meio ambiente
Apenas 25% de sucata ferrosa é incorporada pelo setor siderúrgico para a produção de aço bruto. Já as empresas processadoras que se mantêm no mercado estão trabalhando com 60% da capacidade instalada, ou seja, um índice de ociosidade de 40%. O Eco destrincha os fatores que apontam para a pouca reciclagem de sucata ferrosa no país, como o baixo valor pago aos catadores e processadores e custo mais baixo de matérias-primas virgens. Apesar da falta de incentivo, a reciclagem desse material tem importância ambiental: cada tonelada de aço que contém sucata ferrosa reduz em cerca de 70% as emissões de gases de efeito estufa do setor.
📙 Cultura
A Prefeitura de São Paulo recebeu cerca de R$ 87 milhões para apoiar projetos culturais por meio da Lei Paulo Gustavo em julho de 2023, com 13 editais lançados pela Secretaria Municipal de Cultura e pela SPCine em outubro. Segundo a Periferia em Movimento, mais de um ano depois dos recursos chegarem aos cofres municipais e nove meses do lançamento dos editais, centenas de artistas e coletivos ainda aguardam pagamento. “Esse prêmio tem sido uma dor de cabeça. Um dinheiro que serve pra gente se alimentar, se movimentar. Isso é sobre coisas que a gente tá fazendo na quebrada, sempre fez e continua fazendo de graça, de forma precarizada”, diz a produtora cultural Gracielly Guedes, moradora da Chácara Cocaia, no Grajaú, extremo sul da capital paulista, e membro da Associação Imargem. A iniciativa promove oficinas gratuitas de artes, barco à vela, permacultura e alimentação saudável na região.
🎧 Podcast
Por meio de aplicativos de relacionamento, o paulista Renan Augusto Gomes passou mais de uma década aplicando golpes a dezenas de mulheres. Desde 2013, o Judiciário brasileiro utiliza o termo “estelionato sentimental” para definir golpistas que utilizam promessas de um relacionamento para enganar suas vítimas. Foi nesse caminho que Renan seguiu. O “Má Influência”, produção do Trovão Mídia, traz investigações semanais de fraudes online e destrincha o caso do “Galã do Tinder”. Algumas das mulheres enganadas por ele chegaram a ser pedidas em casamento em público. À medida que o envolvimento se aprofundava, Renan começava a pedir dinheiro emprestado – algumas chegaram a pedir empréstimo bancário para ajudá-lo. Quando as vítimas descobriam e o confrontavam, eram ameaçadas com diversos tipos de violência.
🧑🏽🏫 Educação
“Na educação tradicional só quem fala é o professor, o aluno é o sujeito passivo e o professor o ativo. A pedagogia de Paulo Freire deixa as crianças curiosas”, afirma Letícia Rameh, doutora em Educação Popular, que criou uma escola “laboratório” nos anos 1990, o Colégio Curso Paulo Freire, em Olinda (PE). O Nonada detalha as propostas de instituições baseadas nas ideias freireanas. Patrono da Educação Brasileira, Freire defendia que os aspectos culturais de educadores e educandos devem ser levados em consideração para um aprendizado, como aprender a ler a partir de palavras cotidianas, apresentar autores com vivências parecidas às do estudante e entender o contexto de uma festa típica regional.