O suicídio entre policiais e a maternidade de filhos LGBTQIA+
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Tema recorrente em debates de candidatos em São Paulo, a Cracolândia segue em situação crítica – e sem um cenário favorável no horizonte. A ausência de dados consistentes se soma à polarização política como obstáculos para resolver o fluxo de usuários de drogas na região, algo que se arrasta desde os anos 1990. O Aos Fatos detalha aspectos considerados problemáticos por especialistas. É o caso do Programa Dronepol, usado pela prefeitura para a contagem de dependentes químicos na Cracolândia, que funciona apenas durante o dia e só considera aglomerações com mais de 30 usuários. Mas não só: também não há precisão quando se trata do número de pessoas em tratamento no Programa Redenção, criado em 2019 para auxiliar essa população. “Ao longo desses 30 anos de existência da Cracolândia, não foram feitas pesquisas longitudinais, de forma ininterrupta, seguindo a mesma metodologia. O que a gente tem são pesquisas dispersas, com metodologias diferentes, em tempos diferentes”, afirma Aluízio Marino, pesquisador do LabCidade da USP.
🔸 Um ano se passou desde o assassinato de Mãe Bernadete, líder quilombola morta a tiros na região metropolitana de Salvador (BA). As investigações conectam o homicídio à oposição da liderança ao tráfico de drogas na região. Quatro suspeitos estão presos. A família dela, porém, questiona o inquérito. À Revista Afirmativa o filho de Mãe Bernadete Jurandir Wellington Pacífico afirma que discorda das conclusões da polícia, diz que “está faltando peça no tabuleiro desse xadrez” e crava: “Minha mãe não tinha nenhum problema com o tráfico. O tráfico foi pago para executar Mãe Bernadete”. Para ele, o resultado responsabiliza traficantes para encobrir os verdadeiros mandantes do crime.
🔸 O governo quer apresentar uma PEC para “reorganizar” a segurança pública no país. A proposta é melhorar o entrosamento das forças policiais. Em encontro com empresários em São Paulo, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que pretende criar uma integração em torno do tema, no formato do Sistema Único de Saúde. “Queremos verticalizar o sistema único de segurança pública (...) Nos moldes do SUS e da Educação, [queremos] criar um fundo próprio com verbas que não podem ser contingenciadas”, disse. O Correio Sabiá apurou que a minuta da Proposta de Emenda à Constituição foi compartilhada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e será ainda discutida com governadores antes de caminhar para o Congresso.
🔸 O suicídio entre policiais: nos últimos seis anos, o Brasil registrou 970 suicídios de agentes de segurança pública, dos quais 750 estavam na ativa. Muitos ainda tiraram a própria vida depois de cometer um homicídio – de 2018 a 2023, foram 67 registros, a maioria deles suicídios seguidos de feminicídio, em que as vítimas eram mulheres com as quais os policiais se relacionavam. A Ponte reúne os dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES) e conversa com a socióloga Dayse Miranda, presidente do órgão. Segundo ela, ainda faltam estudos para entender as causas do problema. A escassez de debates aprofundados sobre as carreiras policiais e a dificuldade de se obter informações sobre suicídios engrossam a questão.
📮 Outras histórias
“Águas do Rio! Cadê o saneamento básico da Rocinha?” A pergunta estampa uma faixa na passarela da favela da zona sul do Rio de Janeiro. Sem autoria identificada, foi instalada sobre um anúncio do G20. Depois da privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), a Águas do Rio assumiu o serviço de saneamento e distribuição de água em 27 municípios do estado. Desde então, segundo o Fala Roça, a concessionária é questionada por movimentos comunitários. Na Rocinha, a crítica é sobretudo pela falta de investimentos em obras de saneamento básico. Já a empresa afirma que está investindo em melhorias, mas que a comunidade enfrenta problemas de esgoto por causa do descarte inadequado de lixo, que obstrui as galerias pluviais.
📌 Investigação
Destinado para a reforma agrária desde os anos 1990, o Projeto de Assentamento (PA) Tapurah/Itanhangá, no norte de Mato Grosso, foi tomado por produtores de soja, a partir de um esquema ilegal de apropriação de terras públicas. A Repórter Brasil mostra como eles operam com métodos agressivos que envolvem a coação para que os assentados vendam lotes – sob ameaças com armas de fogo e incêndios em casas e plantações. A falsificação de assinaturas é outra estratégia. O cenário de violência foi visto, por exemplo, quando a Justiça Federal determinou ao Incra a retomada dos lotes. A atuação do órgão fundiário, no entanto, é dificultada pela influência dos produtores na política.
🍂 Meio ambiente
O número de papagaios-de-cara-roxa vem caindo drasticamente na Ilha do Pinheiro, dentro do Parque Nacional do Superagui, no litoral paranaense. Endêmica da Mata Atlântica, a espécie tinha historicamente grande concentração na ilha. Em média, 34% da população contabilizada no estado pelo monitoramento anual eram registrados na área. Esse percentual chegou a 50% em 2009. Neste ano, porém, caiu para 8,6%. Em artigo no Conexão Planeta, a pesquisadora Elenise Sipinski, que coordena os projetos de conservação de fauna na Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental, descreve as possíveis causas do problema: “Eles [moradores da região] relataram que os papagaios têm se deslocado com menos frequência para a Ilha do Pinheiro, e em menor quantidade, possivelmente devido ao aumento de embarcações na região, com buzinas, som alto e até fogos de artifício próximos à região.”
📙 Cultura
Com 14 histórias diferentes, o livro “Mães Fora do Armário” reúne a experiência da maternidade de filhos LGBTQIA+. “Não são de pessoas falando sobre o filho LGBTQIA +, mas sobre a maternagem. As pessoas LGBTQIA+ efetivamente falam com muito mais propriedade do que a gente. Queríamos que tivesse um projeto que falasse sobre esse olhar materno, esse olhar amoroso”, conta Adriana Valadares, uma das organizadoras e autoras da obra. Segundo o Colabora, a iniciativa é um esforço para demonstrar o potencial do afeto para derrubar barreiras e preconceitos. “Recuperar esses momentos e enxergar de outra maneira foi muito forte e eu topei, porque a Adriana disse que a intenção era fazer com que as pessoas lessem sobre e entendessem como as famílias passam por esses momentos”, diz Cintia Jardim, mãe de três jovens não bináries e bissexuais.
🎧 Podcast
Diante de um cenário em que pessoas negras grávidas são mais negligenciadas pelos serviços de saúde do pré-natal ao pós-parto, as doulas podem oferecer acolhimento, informação e cuidado para gestantes que estão nas periferias. A série “Gestando o Futuro”, produção do Manda Notícias, reúne as histórias de três mulheres periféricas que tiveram suas gestações e puerpérios transformados por essas profissionais. Os episódios mergulham também nas desigualdades no acesso a direitos básicos para mães e seus filhos e nas múltiplas maternidades. O especial é resultado das Bolsas de Reportagem “A Primeira Infância como Pauta Prioritária”, promovidas pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
✊🏽 Direitos humanos
Às margens do canal São Gonçalo, o bairro de Passo dos Negros, em Pelotas (RS), foi alvo de racismo ambiental durante o desastre climático no estado: o condomínio de luxo vizinho bombeava as águas da chuva para dentro da comunidade, historicamente formada por pessoas negras. Cercado pela especulação imobiliária, Passo dos Negros luta contra a invisibilidade antes e depois das enchentes, revela o Nonada. “Foi uma situação bem trágica. É nós por nós, é o pobre ajudando o pobre da melhor maneira possível”, afirma Eliane Barcellos, professora e fundadora do Centro de Educação, Esporte, Cultura e Lazer Cuidando de Nós, organização não-governamental que atua há sete anos no Passo dos Negros.