O som do solo de Rebeca Andrade e os ataques a indígenas no MS
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🔸 Rebeca Andrade deu os primeiros passos no solo como uma rainha – e terminou com a medalha de ouro no peito. A rainha que inspirou os passos é a estrela pop Beyoncé. A ginasta brasileira, que já havia conquistado três medalhas nas Olimpíadas de Paris, recebeu o ouro ontem na modalidade solo ao som de Beyoncé e Anitta. A caminhada da atleta é semelhante à da diva pop dos EUA no show do Super Bowl de 2013, segundo o coreógrafo da equipe feminina de ginástica artística do Brasil, Rhony Ferreira. A revista piauí disseca a apresentação que valeu o ouro à Rebeca a partir da perspectiva da música e da dança. A trilha que a acompanhou no solo levou um ano para ficar pronta. “Conforme ela ia ensaiando, às vezes mudando algum movimento, eu tinha que fazer as alterações para ficar sincronizado”, diz Andy Bianchini, produtor e DJ responsável pela trilha. A reportagem lembra ainda que, até os anos 1990, as atletas disputavam ao som de música erudita, com pianista tocando ao vivo.
🔸 Em áudio: “O coração doía muito quando ela ia para as competições, e eu não podia assistir”, diz Rosemary de Oliveira, mãe da judoca Ketleyn Quadros, que ajudou o Brasil a conquistar o bronze por equipes mistas do judô. Cabeleireira, Rosemary lembra que as lutas eram aos sábados – o dia mais agitado no salão, o que a impedia de assistir às disputas da filha. Na estreia do “Alma em Paris”, podcast da Alma Preta, que dá voz aos reais protagonistas das Olimpíadas – de atletas a familiares e trabalhadores dos jogos –, a mãe de Ketleyn resgata a infância da garota na Ceilândia, sua primeira inscrição nas aulas de judô e os apertos que a família passou para bancar o sonho da menina que se tornaria medalhista olímpica.
🔸 Dos 275 atletas do Brasil em Paris, apenas três são do Norte: o amazonense Pedro Nunes, do lançamento de dardo, e os paraenses Andreza Lima, reserva da seleção de ginástica artística, e Michel Trindade, pugilista. A região, no entanto, foi pioneira de medalhas do país nas Olimpíadas. O atleta do tiro Guilherme Paraense, natural de Belém, foi o primeiro a ganhar ouro na competição individual dos Jogos da Antuérpia, em 1920. A Amazônia Latitude explica que a falta de representatividade reflete a desigualdade entre os estados do Brasil, além da carência de infraestrutura e de patrocínio que limita as oportunidades para atletas da Amazônia. Muitos acabam migrando para outros estados em busca de melhores condições.
🔸 A primeira medalha olímpica da equipe de refugiados é da boxeadora camaronesa Cindy Ngamba. Aos 25 anos, ela tem o bronze garantido na categoria até 75 kg, após derrotar a francesa Davina Michel. O Notícia Preta conta que a atleta deixou o país de origem porque lá as relações homossexuais são ilegais desde 1972. Vive há 15 anos no Reino Unido, mas ainda não tem passaporte britânico. A delegação de refugiados começou a competir nos Jogos do Rio, em 2016. Nesta edição, tem 36 atletas.
🔸 “Pega teu povo e sai daqui ou vocês vão morrer.” A frase foi dita a indígenas Guarani Kaiowá no sábado por um agente da Força Nacional antes de deixar a região da Terra Indígena (TI) Lagoa Panambi. Em seguida, homens armados iniciaram o ataque que deixou mais de dez indígenas feridos em Douradina, no Mato Grosso do Sul. O Correio do Estado informa que o coordenador do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) chegou à região no domingo, juntando-se a representantes do Ministério dos Povos Indígenas que acompanham os conflitos locais. A TI Lagoa Panambi é identificada e reconhecida pelo Ministério da Justiça como originária dos povos Guarani Kaiowá desde 2011.
📮 Outras histórias
O sertão de Alagoas se prepara para ser palco das Olimpíadas dos Koiupanká. A nona edição dos jogos está marcada para o período de 17 a 24 de setembro, na Aldeia Roçado, no município de Inhapi. Arco e flecha, badoque, cabo de força, corrida com cesto, estilingue, luta corporal, penacho e peteca estão entre as modalidades, detalha a revista Alagoana. Cânticos e danças antecedem a disputa de cada jogo, como parte da tradição de homenagear os antepassados. “As modalidades são baseadas nos afazeres cotidianos da comunidade, ou no passado ou que se mantém até hoje. Então fazemos uma interpretação de forma lúdica, por assim dizer, em que juntamos o cultural, religioso e sagrado e trazemos isso para a arena”, explica Francisco, pajé da aldeia.
📌 Investigação
Dos 2.386 clubes de tiro que têm permissão do Exército para atuar no Brasil, 1.847 ficam a menos de um quilômetro de distância das escolas. Ou seja, proporcionalmente oito em cada dez clubes estão próximos a unidades de ensino, revela levantamento do Intercept Brasil, em parceria com a Lagom Data. São Paulo é a cidade com maior número de escolas perto de clubes de tiro no Brasil, com 808 instituições ao redor de 54 locais para atiradores, e mais da metade delas conta com ensino infantil. Apenas dois clubes registrados no município não têm escolas por perto. “Os frequentadores do clube quase sempre se dirigem até os seus carros com armas em punho ou de maneira ostensiva”, diz Pedro (nome fictício) sobre a rua onde está localizada a escola em que as filhas estudam, na Vila Prudente, zona leste da capital paulista.
🍂 Meio ambiente
Entre janeiro e julho deste ano, o Acre registrou 740 focos de queimada, um aumento de 96% em comparação ao mesmo período no ano passado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Varadouro mostra que o cenário preocupa moradores e pesquisadores, uma vez que o verão amazônico começa em julho, e a previsão é de haja um nível de chuva abaixo do normal e temperaturas acima da média em mais de 50% até o final do ano. “Nós já estamos vivendo um evento de extrema seca, e estamos vendo os reflexos sobre os recursos hídricos. Muitos rios do Acre estão num nível abaixo do esperado para o período. A gente já está há pelo menos três semanas sem chuvas significativas. Tudo isso deixa o ambiente mais seco e estressado para o fogo”, diz a pesquisadora Sonaira Silva, coordenadora do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (Labgama) da Universidade Federal do Acre.
📙 Cultura
“Para mim, os bons artistas se parecem apenas consigo mesmos e com mais ninguém”, afirma o escritor e dramaturgo norueguês Jon Fosse, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2023. Na revista Quatro Cinco Um, o tradutor de autores noruegueses no Brasil Leonardo Pinto Silva conversa com Fosse e contextualiza sua obra, desde as paisagens de sua terra natal até as histórias de formação do próprio país. “Quem vai à Itália acaba impressionado pela beleza das memórias de um passado glorioso. Aqui não temos tantos tesouros culturais, mas a natureza é sublime, principalmente na Vestlandet [costa oeste]. Onde chove bastante. Mas quem cresce num ambiente assim aprende a enxergar nuances e belezas até naquela paisagem gris”, diz, referindo-se ao protagonismo da natureza na literatura norueguesa.
🎧 Podcast
Em 1993, o fotógrafo Ormuzd Alves tirou uma fotografia que rodou o mundo: do líder indígena Davi Kopenawa com o corpo pintado de preto como um guerreiro na tradição Yanomami. A imagem foi feita dias após o Massacre de Haximu, quando ao menos 12 indígenas da etnia foram mortos por garimpeiros, entre eles adolescentes, crianças e um bebê. Foi o primeiro caso de condenação pelo crime de genocídio pela Justiça brasileira. A história é narrada na estreia de “genocídios.BR”, nova temporada do “Guilhotina”, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil. O episódio traz as lembranças de Ormuzd, além de entrevistas com o atual subprocurador da República, Luciano Mariz Maia – um dos autores da denúncia por genocídio feita pelo Ministério Público Federal no caso de Haximu –, e a professora Fernanda Frizzo Bragato, especialista em direitos indígenas e decolonialidade.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“O discurso [de ódio nas redes sociais] contra as mulheres tem potencial para minar a luta pelos direitos das mulheres, se não tivéssemos hoje um grande número de militantes feministas e alguns homens também na preservação desta causa. Essas pessoas ajudam a garantir que a lei cumpra seu papel de proteger as mulheres vítimas de violência”, afirma a farmacêutica Maria da Penha, que dá nome à principal lei brasileira contra violência doméstica e familiar. Em entrevista à Agência Lupa, a ativista fala sobre a onda de desinformação e ataques virtuais contra ela e como isso tem impactado sua vida. “Eu me recuso a ser intimidada, a minha história de vida e a minha luta são marcadas pela coragem, pela resiliência e muita persistência.”