O afundamento do solo em Maceió e os agentes populares de alimentação
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🔸 Responsável pelo afundamento do solo em Maceió, a Braskem bancou campanhas de candidatos de Alagoas com volumosos aportes de recursos, por meio de doações. Levantamento exclusivo da Agência Tatu revela que, somente entre 2004 e 2014, a empresa doou quase R$ 3 milhões às campanhas de 41 políticos alagoanos – entre eles, os atuais prefeito de Maceió e vice-governador de Alagoas e até o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB). Ele foi candidato a senador pelo estado e recebeu R$ 320 mil para a campanha em 2014. Na lista, está ainda Fernando Collor de Mello. As doações de empresas a campanhas políticas foram legalmente autorizadas até 2014. “O fato de a Braskem ter grande impacto econômico no estado, ser uma das grandes empregadoras de mão de obra e ser grande financiadora de projetos, isso de alguma maneira impacta sim a administração pública”, alerta a cientista política Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) .
🔸 Dezenas de pesquisadores da universidade, aliás, assinam um manifesto em que denunciam a imprecisão e a concentração de dados sobre o desastre provocado pela Braskem. A Mídia Caeté informa que o documento, além de apontar a falta de transparência da prefeitura, denuncia a forma violenta como as comunidades vêm sendo tratadas desde a ordem judicial de realocação. “Manifestamos a extrema necessidade de um plano de contingência democrático, participativo, resolutivo e qualitativo. São centenas de pessoas, famílias que se encontram em remoção involuntária, deslocados ambientais, sem acesso e permanência às condições dignas e baseadas nos pactos internacionais de direitos humanos, dos quais o Brasil é signatário, em casos de desastres ambientais. É criminoso que essas pessoas estejam sendo revitimizadas pelas ações da mineradora e omissão do Estado, município e órgãos do judiciário”, escrevem.
🔸 Diante da repercussão da tragédia ambiental que causou, a Braskem desistiu de participar da COP28, a Conferência do Clima das Nações Unidas. A empresa estava registrada para duas atividades nesta semana: uma sobre o papel da indústria na economia do carbono neutro e outra com o título “Impactos da mudança do clima e a necessidade de adaptação da indústria”. Segundo a Alma Preta, movimentos sociais já haviam preparado manifestações para o momento dos dois painéis.
🔸 Mais da COP28: o Brasil recebeu ontem o troféu “Fóssil do Dia”. O motivo: a adesão à Opep+, grupo estendido da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A organização Climate Action Network (CAN) escolheu o Brasil pelo fato de país ter “confundido a produção de petróleo com liderança climática”. A Agência Pública conta que, mesmo depois do antiprêmio, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, repetiu que a a empresa será uma das últimas do mundo a parar de explorar petróleo. A CAN entrega o prêmio nada honroso desde 1999 ao fim de cada dia da conferência do clima das Nações Unidas. Se o Brasil “ganhou” o troféu diversas vezes no governo de Jair Bolsonaro (PL), a “vitória” não era esperada agora, sob o mandato de Lula.
🔸 Os bancos brasileiros deram ao menos US$ 127 bilhões para o agronegócio entre 2016 e 2023. O Banco do Brasil é o líder do ranking: concedeu empréstimos que somam US$ 71 bilhões para empresas que colocam as florestas em risco, como mostra a Repórter Brasil. Em seguida, estão Bradesco e Itaú. A reportagem detalha as análises da Coalizão Florestas & Finanças e conta que as multinacionais de papel e celulose, Suzano e Klabin, receberam a maior parte dos recursos, seguidas pela Marfrig, gigante do setor pecuário. As beneficiadas são empresas com histórico de violações socioambientais na produção de carne bovina, soja, óleo de palma, celulose e papel, borracha e madeira.
🔸 O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, vai investigar a prática de “rachadinha” no gabinete do deputado André Janones (PT). O Metrópoles explica que o pedido foi feito pela Procuradoria-Geral da República, que tem a partir de agora 60 dias para concluir o inquérito. Janones cobrou que assessores da Câmara lotados em seu gabinete usassem parte dos salários para pagar suas despesas pessoais. A prática configura enriquecimento ilícito, dano ao patrimônio público e é passível de inelegibilidade segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
📮 Outras histórias
“Tudo é política, inclusive a fome, a falta de alimentos e a não alimentação saudável.” A afirmação é da assistente social Mirian Martins, de 36 anos, militante do Movimento Brasil Popular. Em parceria com a Escola Nacional Paulo Freire e outras instituições, a organização criou o curso de Agentes Populares de Alimentação. O projeto está presente no Distrito Federal e em sete estados brasileiros. Miriam lidera a atuação em São Paulo. A Periferia em Movimento explica o método usado pelo curso, cujas aulas são pensadas a partir das particularidades de cada local. Os seis módulos abordam desde o que é a fome até formas de viabilizar a construção de uma cozinha popular. Em tempo: Pernambuco, Ceará, Paraíba, Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul são estados que já têm cozinhas populares em funcionamento.
📌 Investigação
Sem verificação de identidade para anúncios, o Google Ads abre brechas para fraudes. É o caso de sites que diziam vender o doce argentino Franui, ofertados com desconto, frete grátis, entrega em até quatro dias e preços entre R$ 29 e R$ 95. O produto jamais chegava aos consumidores. Embora possua uma página oficial no Brasil, a empresa não vende diretamente no país. O Núcleo identificou ainda que uma das contas usadas – sem verificação de identidade – está, segundo Central de Transparência de anúncios do Google, no nome de Julio Cesar da Costa de Lemos, parceiro comercial do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em uma marca de vinhos que homenageia a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
🍂 Meio ambiente
Até o início do último dia 27, aparecia no site da empresa Amazon Carbon o “Projeto Arquia”, sigla da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo das Ilhas de Abaetetuba, que compreende dez comunidades quilombolas do município de Abaetetuba, no Pará, para o funcionamento de créditos de carbono na região. O Joio e O Trigo conta, porém, que muitos moradores desses territórios afirmam que não estão de acordo com o projeto, não foram consultados e não firmaram parceria. “Ficamos confusos, porque nunca tínhamos ouvido falar na empresa nem nunca fomos procurados por ela. Ficou todo mundo em choque”, diz Maria das Graças da Silva Pereira, moradora da comunidade Rio Campompema. “No nosso assentamento ninguém assinou esse contrato.”
📙 Cultura
As plantas, os fungos, matérias orgânicas e entidades espirituais são também parceiros de criação de artistas como Denilson Baniwa, Sallisa Rosa e Uýra. Ao dissolver as barreiras entre humano e não-humano em seus trabalhos artísticos, alertando sobre urgências globais, eles criam instalações e performances. O Nonada lista dez obras vivas de artistas, em sua maioria brasileiros, que trazem a terra para o centro de suas exposições.
🎧 Podcast
“O mercado não abraça nosso sotaque como deveria. Não abraça nenhum sotaque que não seja do Sudeste. É um lugar que estamos conquistando.” O cantor Almério, nascido em Altinho (PE), tem ganhado espaço na música popular brasileira e carrega também as singularidades do seu estado, berço de grandes nomes como Alceu Valença e Lenine. O “Nordestinidades”, produção da Eco Nordeste, conversa com o artista sobre a presença do “pernambuquês” na sua música.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Celebrada por expandir o direito das mulheres de levar acompanhante a procedimentos médicos, a Lei 14.737, sancionada por Lula, não protege as mulheres da violência obstétrica. No Intercept Brasil, a jornalista Bruna de Lara explica que o parágrafo quarto da nova legislação estabelece que, no caso de atendimentos em centro cirúrgico com “restrições relacionadas à segurança ou à saúde dos pacientes”, somente profissionais de saúde serão aceitos como acompanhantes. Anteriormente, a mulher tinha o direito de escolher seu acompanhante no parto e pós-parto sem restrições.
Uma correção: o deputado André Janones é do Avante, e não do PT, como mencionado no conteúdo.