Os sojicultores gaúchos na Amazônia e o legado de Eunice Paiva
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Preso no sábado, o general Walter Braga Netto, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e vice em sua chapa de 2022, estaria “atrapalhando a livre produção de provas durante a instrução processual penal”, segundo a Polícia Federal. O Meio explica que Braga Netto foi alvo da Operação Contragolpe, que investiga a tentativa de golpe e de homicídio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes. O magistrado, ao julgar o pedido da PF, afirmou que os dados da polícia “revelaram a gravíssima participação de Walter Souza Braga Netto nos fatos investigados, em verdadeiro papel de liderança, organização e financiamento, além de demonstrar relevantes indícios de que o representado atuou, reiteradamente, para embaraçar as investigações”.
🔸 Depois de seis dias internado, o presidente Lula recebeu alta ontem. Segundo a equipe médica do petista, a recuperação foi “extremamente acima do esperado”, mas Lula ficará em São Paulo nos próximos dias para acompanhar a cicatrização e fazer uma nova tomografia na quinta-feira, informa o Metrópoles. O presidente falou à imprensa na saída do hospital Sírio-Libanês: “Vou passar o Natal e o Ano- Novo em casa e vou tentar obedecer de forma muito respeitosa às determinações dos médicos. Estou muito disciplinado. Eu nunca penso que vou morrer, mas tenho medo. Então, eu preciso me cuidar”.
🔸 A propósito: imagens falsas de Lula, criadas por ferramentas de IA, ganharam as redes sociais desde que o presidente foi internado, na semana passada. “Janja tira foto de Lula para mostrar que ele está vivo”, dizia a legenda de uma imagem do petista com a cabeça enfaixada. Segundo levantamento da Lupa, vídeos e imagens relacionadas ao registro alcançaram mais de 1 milhão de usuários distintos desde o dia 10. Depois que o X liberou aos usuários a Grok, ferramenta de inteligência artificial para gerar imagens, os falsos registros ganharam ainda mais força.
🔸 Falando em IA… Aprovado no Senado na semana passada, o projeto de lei que estabelece diretrizes para o uso de inteligência artificial no Brasil esteve no centro de uma longa disputa entre ministérios, setor privado e sociedade civil. O Núcleo destrincha os três assuntos que ocuparam o centro dos embates: integridade da informação, alto risco de sistemas de IA e proteção a direitos autorais. A reportagem conta ainda que, ao contrário do que se viu no PL das Fake News, quando empresas de tecnologia se manifestaram individualmente ou coletivamente contra a legislação, no PL da IA o setor se articula por meio de associações, escritórios de advocacia e grupos de lobby conhecidos.
🔸 O conteúdo misógino no YouTube aumentou de forma significativa, principalmente depois de 2022. É o que aponta estudo do Ministério das Mulheres realizado em parceria com o NetLab-UFRJ e o Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais. O Congresso em Foco detalha a pesquisa, que analisou 76 mil vídeos de 7.800 canais brasileiros. Foram identificados 137 canais misóginos, que somam 3,9 bilhões de visualizações e lucram com anúncios, doações, produtos e consultorias. Mais de 33 mil títulos de vídeos analisados tratam de assuntos relacionados ao “desprezo às mulheres e estímulo à insurgência masculina”. “Sem a devida regulamentação e fiscalização das plataformas, a misoginia vem se tornando mais do que um tipo de discurso perigoso, mas também um ‘produto’ lucrativo, muitas vezes vendido como desenvolvimento masculino”, alerta Marie Santini, fundadora e coordenadora do NetLab.
📮 Outras histórias
“Isso é um crime, nós estamos precisando de área verde, não de mais lixo”, afirma o segurança Rafael Alfredo de Souza, 43 anos. Ele se refere à possibilidade de ampliação do aterro sanitário de São Mateus, no bairro Terceira Divisão, zona leste de São Paulo. A prefeitura autorizou a Ecourbis, responsável pelo local, a expandir o aterro, ativo desde 1984. A Agência Mural conversa com os moradores e mostra como a ampliação ameaça áreas verdes e prejudica a qualidade de vida no bairro. No início do mês, após uma liminar, a Justiça suspendeu a expansão. A prefeitura informou que analisa a decisão. Eduardo Faria, que teve o cercado de sua propriedade derrubado pela Ecourbis, questiona: “Que lei é essa? Você mora na periferia de São Paulo, você tem uma casa, tem um terreno, luta para construir e chega uma pessoa falando que não é seu, derruba a sua cerca”.
📌 Investigação
Após desmatarem a vegetação no Sul do país pelo modelo agrícola extensivo e predatório, causando desequilíbrios no regime de chuvas da região, os sojicultores gaúchos que tiveram suas terras devastadas pelas enchentes deste ano chegaram à Altamira (PA). A Sumaúma revela que o objetivo desses fazendeiros é arrendar 40 mil hectares de terras para o agronegócio – “pelo menos”, nas palavras do Siralta, o sindicato dos grandes produtores rurais da cidade paraense. Essa expansão intensifica a destruição ambiental da Amazônia, o que desregula ainda mais o ciclo hidrológico no país: o desmatamento da floresta afeta o transporte de umidade no ar, aumentando a irregularidade das chuvas no Sul e Sudeste.
🍂 Meio ambiente
Em meio à crise climática, a união dos saberes tradicionais indígenas e a ciência ocidental são essenciais para a preservação da Amazônia e do planeta. Um artigo publicado na revista científica “Science” por pesquisadores indígenas dos povos Tuyuka, Tukano, Bará, Baniwa e Sateré-Mawé, em parceria com não indígenas, vinculados a projeto do Brazil LAB, da Universidade de Princeton (EUA), mostrou como a integração entre os sistemas de conhecimento pode garantir uma ciência mais completa. Segundo a Agência Bori, o trabalho sintetiza conhecimentos dos indígenas do Alto Rio Negro, no Amazonas, e explica a conexão indissociável entre cultura e natureza dessas populações como fundamental para a reabilitação dos ecossistemas.
📙 Cultura
Em Belo Jardim, no Agreste pernambucano, a fábrica Mariola funcionou de 1915 a 1969. Fundada por Jorge Aleixo da Cunha e sua esposa Quitéria Batista de Lima, a indústria se tornou o alicerce econômico e cultural da região. Os doces caseiros de Quitéria se transformaram em uma das maiores indústrias de doces do estado, até seu fechamento. A Revista O Grito! conta que, a partir de 2025, o local onde funcionava a fábrica abrigará o Museu Memórias Vivas, um espaço de memória afetiva aos doces produzidos. “Trazer a história da Fábrica Mariola para o Museu Memórias Vivas é mais do que preservar o legado de uma indústria; é dar vida às memórias de um povo que ajudou a construir Belo Jardim”, afirma George Pereira, curador da iniciativa.
🎧 Podcast
Em seus quase 100 anos, o escritor Dalton Trevisan imortalizou de Curitiba, sua cidade natal e cenário de muitas de suas obras. “Ele transformou Curitiba em Macondo. E destila um tipo de verdade sobre a cidade que a gente só foi entender por conta dele e do que tinha feito”, afirma o escritor e tradutor Caetano W. Galindo. “É muito difícil diferenciar a Curitiba que ele usou como base da Curitiba que ele inventou. A gente vive no mundo do Trevisan.” No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, Galindo e Ana Lima Cecilio, curadora da última Flip, falam sobre o talento de Dalton para escrever contos, detalham suas influências e oferecem dicas para quem vai começar a ler a obra do escritor.
✊🏽 Direitos humanos
Protagonista de “Ainda Estou Aqui”, Eunice Paiva deixou um legado para o direito indígena no país. Dois anos depois de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, ter desaparecido, Eunice entrou na Faculdade de Direito. Além da luta por justiça aos desaparecidos políticos da ditadura e pela redemocratização, ela se especializou na defesa jurídica dos povos indígenas, assinando pareceres judiciais, buscando indenizações e demarcações de terras. A Agência Pública narra o papel fundamental da advogada em um contexto em que a Funai estava militarizada pelo regime. Seus artigos e livros contribuíram para as discussões que resultaram no capítulo “Dos índios” da Constituição Federal de 1988.