A sobretaxa de Trump ao Brasil e os 35 anos do ECA
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🔸 Donald Trump anunciou tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros. O presidente dos Estados Unidos afirmou ontem que vai elevar, a partir de 1º de agosto, a taxação que hoje é de 10%. Em carta enviada a Lula, o republicano voltou a criticar o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), classificando-o como “caça às bruxas” e “vergonha internacional”. A CartaCapital traz a íntegra da carta, na qual Trump também acusa o Brasil de censurar plataformas digitais dos EUA e afirma que as tarifas podem subir ou cair dependendo da relação comercial entre os países.
🔸 Mais cedo, a Embaixada dos EUA no Brasil reiterou a posição pró-Bolsonaro. Chamou de “vergonhosa” o que definiu como perseguição política contra o ex-presidente, réu por tentativa de golpe em 2022. Segundo o Canal MyNews, a embaixada afirmou que Bolsonaro e sua família foram “fortes parceiros” dos EUA e que está “acompanhando de perto” a situação, sem comentar as medidas do Departamento de Estado.
🔸 Em vídeo: “Trump é alguém com poder de manter Bolsonaro com o nome vivo”, afirma Pedro Doria. No Ponto de Partida, do Canal Meio, ele defende que “talvez o bolsonarismo esteja caminhando para o fim” e afirma que “é razoável crer que Bolsonaro já estará preso por tentativa de golpe de Estado ainda neste ano”. Mas lembra que, além de Trump, há Steve Bannon, que, embora nem sempre esteja forte na Casa Branca, é o caminho para Eduardo Bolsonaro chegar aos ouvidos do republicano. “Bannon gosta da coisa do movimento internacional da classe trabalhadora reacionária. Ele faz força, sim, para que Trump lembre de Bolsonaro. (...) Há quantos meses o filho Zero Três está tentando arrancar qualquer coisa de Trump? Pois é. Conseguiu agora.”
🔸 Falando em eleições… a percepção sobre o governo Lula melhorou. Pesquisa Atlas divulgada nesta terça mostrou que a gestão teve ganho de aprovação e que caiu significativamente a percepção negativa sobre a imagem de Haddad. Analistas associam o resultado à recente ofensiva do governo no debate público sobre a taxação de ricos e a redução de renúncias fiscais, explica o Jota. Edinho Silva, novo presidente do PT, afirmou que o foco do partido será a justiça tributária e defendeu reduzir renúncias fiscais que somam R$ 800 bilhões. Na paralela, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a dizer que os níveis de gastos tributários no Brasil são “absurdos” e que a hora é de enfrentar essa questão.
🔸 Enquanto isso… Universal e Assembleia de Deus miram a herança de Bolsonaro e mais poder no Congresso em 2026. A disputa mobiliza três dos maiores grupos evangélicos do Brasil – liderados por Silas Malafaia (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), Samuel Ferreira (Assembleia de Deus Madureira) e Edir Macedo (Igreja Universal). O Intercept Brasil revela que o objetivo é fortalecer a candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas (Republicanos), indicar Ricardo Nunes (MDB) ao governo paulista e recolocar Eduardo Cunha no Congresso. Malafaia tenta herdar o capital político do bolsonarismo e se tornar conselheiro próximo de um candidato da direita. Já Samuel Ferreira planeja ampliar sua bancada no Congresso e usa rádios e apoio a pastores como moeda política. Edir Macedo, por sua vez, fortalece o Republicanos e busca manter boa relação com Lula, visando obter verbas para a Record. Segundo o pastor e líder do PL Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), cada igreja tem sua estratégia, mas são “todas contrárias a um projeto de esquerda para o Executivo”.
📮 Outras histórias
O primeiro “violão” de Reneson Breno Pereira Aquino foi uma tábua de madeira. Filho de mãe solo, que coletava recicláveis para sustentar cinco filhos, ele não tinha condições de comprar o instrumento e inventava sozinho os acordes no violão improvisado. Hoje, aos 25 anos, o jovem de Vitória da Conquista (BA) coleciona apresentações na Europa como contrabaixista. Já passou por Alemanha, Áustria, Polônia, Itália, Holanda e França. O Conquista Repórter narra a trajetória de Reneson, que começou a estudar música de fato aos 14 anos no projeto social Conquista Criança. Depois, entrou para o Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba) e, lá, entrou em contato com jovens de contextos semelhantes ao seu e derrubou a barreira que o separava da música clássica.
📌 Investigação
Lobistas da indústria de ultraprocessados adentram casas legislativas no país para impedir que seus produtos saiam das escolas. Representadas por organizações como a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) e a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir), as empresas do setor buscam travar a implementação do decreto federal 11.821/2023, que visa limitar a oferta de ultraprocessados, como refrigerantes e biscoitos recheados, no ambiente escolar. Segundo O Joio e O Trigo, a estratégia é mapear os projetos de lei sobre o tema, abordar os parlamentares envolvidos e pedir reuniões nos gabinetes para “expor preocupações do setor”. Na Assembleia Legislativa do Ceará, por exemplo, a Abir tentou convencer o deputado Renato Roseno (PSOL) a desistir do Projeto de Lei 131/2023, que determina a exclusão dos ultraprocessados nas escolas do estado. Ele afirma ter ignorado a mensagem, mas a proposta foi travada e descaracterizada na Comissão de Constituição, Justiça e Redação.
🍂 Meio ambiente
Mesmo com a proximidade da estiagem, período com mais queimadas na Amazônia, deputados ruralistas da Assembleia Legislativa de Rondônia barraram o projeto do governo estadual para incrementar R$ 10 milhões à Secretaria de Estado do Desenvolvimento de Rondônia (Sedam). O recurso seria usado para o controle ambiental em unidades de conservação, o que exige o pagamento de diárias aos fiscais para permanecerem em regiões críticas. O Varadouro conta que, após o rechaço do projeto, o governo de Rondônia recorreu à formação de brigadistas indígenas para ao menos garantirem a proteção de seus territórios. O conflito com parlamentares surge em um momento de escalada de violência contra os servidores ambientais: o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) registrou sete ataques armados no estado apenas neste ano.
📙 Cultura
“A inteligência artificial é uma técnica. Eu escolhi a IA por ser uma ferramenta que a gente tem hoje na contemporaneidade, que consegue executar padrões, que consegue visualizar possibilidades. Ela me permite o descontrole, o erro, que é o mesmo descontrole que eu tenho na música. Então eu estou usando de forma conceitual”, afirma o artista Froiid, que tem utilizado IA para o conceito artístico de sua obra, como na instalação “Carnavais na Bienal” e “O Pulo do Gato”. O Nonada ouviu artistas e especialistas em direitos autorais para compreender as intersecções entre tecnologia e criação artística. A possibilidade de produção com a ferramenta não significa falta de regulamentação, como a discutida pelo PL 2338/2023: “A ideia é que a IA, ao utilizar a base de dados e ao utilizar a obra de alguém, ela remunere. E dá para fazer isso”, explica Cecilia Rabêlo, do Instituto Brasileiro de Direitos Culturais (IBDCult). A legislação propõe uma remuneração justa pelo uso de produções autorais nas bases de treinamento das IAs.
🎧 Podcast
“Se houver [a palavra] negro no meio [de um título], a grande maioria das pessoas acha que o assunto é restrito a pessoas negras. Acho que um pouco do que tenho tentado fazer é promover o entendimento de que o que escrevo, o que eu produzo, não é única e exclusivamente para pessoas negras. Pelo contrário”, diz o teólogo e escritor Ronilso Pacheco, autor de “Teologia Negra: O Sopro Antirracista do Espírito”. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, Pacheco debate com o ator, diretor e escritor Lázaro Ramos sobre o papel da arte e da religião na luta pela igualdade racial com o objetivo de furar bolhas para na defesa de uma sociedade antirracista.
✊🏾 Direitos humanos
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 35 anos em 2025 e segue como um marco na proteção dos direitos infanto-juvenis, promovendo uma infância e adolescência com respaldo em saúde, educação e segurança. O Lunetas reúne leis embasadas no ECA que entraram em vigor nos últimos cinco anos para ampliar a qualidade de vida dessa população. É o caso da Lei Henry Borel, que criou mecanismos para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente vítima ou testemunha de violência. “Para além das medidas de proteção previstas no ECA, a Lei Henry Borel criou instrumentos legais que garantem a segurança de crianças em situação de risco e determinam a aplicação de medidas de afastamento do agressor, prisões preventivas e acompanhamento psicossocial”, afirma a advogada Mariana Zan.