A sobrecarga das mulheres negras e a falta de servidores na Amazônia
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🔸 Metade dos quase 2,4 milhões de jovens que não estudam nem trabalham, as mulheres negras são sobrecarregadas pelo trabalho doméstico e o cuidado de pessoas, o que as impede de procurar emprego ou frequentar escola. “Elas precisam ficar em volta do trabalho reprodutivo, cuidando de parentes e dos afazeres domésticos, sem contar com uma rede de apoio e acesso à creche e casa de repouso”, afirma Denise Freire, analista da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, recém-divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Gênero e Número detalha os dados e mostra ainda que o mercado de trabalho pós-pandemia beneficiou as pessoas brancas.
🔸 “Estratégia de pressão e manipulação psicológica”. Assim o Ministério Público classifica as ações do desembargador Jorge Luiz de Borba e de sua esposa, Ana Cristina Gayotto de Borba, para tirar Sonia Maria de Jesus, mulher negra e surda, de um abrigo, onde ela estava desde que foi resgatada de trabalho análogo à escravidão, na mansão do casal. O Intercept e o Portal Catarinas revelam detalhes dos laudos do Ministério Público, segundo os quais, em visita à Sonia no abrigo, os dois teriam buscado controlar emocionalmente a situação, envolvendo familiares, advogados e até mesmo um neto da vítima. Há relatos de que o casal apresentou uma mala à Sonia, sugerindo que ela expressasse sua vontade de retornar ou não à casa deles – e, mesmo diante da falta de reação clara da vítima, o desembargador a conduziu para fora do abrigo. Aos 49 anos, Sonia está vivendo outra vez na casa onde foi mantida desde os 9 anos, privada de salário, de educação e de liberdade.
🔸 A presença da Braskem na COP28 expôs a prática de greenwashing na Conferência do Clima das Nações Unidas. O termo se refere a técnicas de empresas que patrocinam causas ambientais para melhorar sua imagem, muitas vezes sem ações concretas. No pavilhão do Brasil, as suspeitas de greenwashing recaem sobre Vale, Petrobras e Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), inscritas como coordenadoras de debates ambientais. A Repórter Brasil lembra que a Vale, associada a desastres como Brumadinho e Samarco, lidera um painel sobre a transição energética. Já a Petrobras, com histórico de vazamentos, aborda a descarbonização do setor de petróleo. Por fim, a CNA, ligada a políticas prejudiciais ao meio ambiente, trata da regularização ambiental produtiva na conferência.
🔸 “A gente quer que o racismo ambiental seja denunciado na COP 30”, afirma Ronaldo dos Santos, secretário para políticas quilombolas do Ministério da Igualdade Racial. Em entrevista à Alma Preta, ele defende que a Conferência do Clima que será sediada pelo Brasil, em Belém (PA), deve fortalecer a luta dos povos quilombolas e a preservação do meio ambiente. “Naturalmente os territórios quilombolas são espaços conservados. O que a gente não tem historicamente é a inclusão desses povos no debate do clima. Então, nosso esforço é fazer com que o óbvio aconteça, que é quem ajuda a conservar o meio ambiente e, portanto, o clima, participar desse debate, dessa construção”, completa.
📮 Outras histórias
Em Niterói, o IBGE tenta criar uma forma de contabilizar a população de rua. Na semana passada, os primeiros trabalhos de campo foram feitos no município com apoio da prefeitura. O A Seguir Niterói explica que se trata de um teste inicial para desenvolver o primeiro Censo Nacional de população em situação de rua em parceria com os ministérios dos Direitos Humanos e Cidadania e Desenvolvimento Social. Equipes foram às ruas, à noite, para fazer a coleta de dados. Em paralelo, um grupo de trabalho que prevê a participação do IBGE, de ministérios, da prefeitura e também do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), vai produzir, até 2026, aspectos metodológicos relacionados à produção de informações sobre a população em situação de rua no país.
📌 Investigação
Segunda maior operadora francesa de petróleo e gás, a Perenco promove práticas extrativistas abusivas na América Latina, África e Europa. A investigação global “Sistema Perenco”, conduzida pela InfoAmazonia, em parceria com o consórcio internacional de jornalistas investigativos ambientais EIF, InfoCongo e Convoca, revela que nove dos 14 países onde a empresa franco-britânica opera são afetados por essas problemáticas sobreposições — e, em alguns casos, “irregulares ou mesmo ilegais” — entre as concessões de petróleo e as áreas protegidas. Ao todo, são pelo menos 74 áreas de proteção ambiental impactadas pela Perenco.
🍂 Meio ambiente
Em toda a Amazônia, há apenas 216 funcionários do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), entre concursados e contratados, mesmo que o território seja composto por 143,6 milhões de hectares de áreas não destinadas ou sem informação de destinação, resultando na ação de grileiros e posseiros na região. O Eco destaca que o cenário é ainda mais dramático em Altamira, no Pará, onde as famílias atingidas pela construção da Usina de Belo Monte já aguardam o reassentamento há dez anos.
Depois de 13 anos, um grupo de cientistas voltou ao planalto santareno, no Pará, para avaliar a extensão dos impactos das ações humanas nos igarapés, riachos considerados os berços dos grandes rios amazônicos. “Não existem muitos estudos temporais na Amazônia, essa é uma lacuna de informação científica. Por isso, decidimos voltar para ver as trajetórias de mudança na paisagem e seus efeitos nos mesmos igarapés”, afirma a pesquisadora Cecília Gontijo Leal. Segundo a Ambiental Media, a pesquisa é uma avaliação pioneira da mudança na condição dos igarapés ao longo da última década. O projeto se estende até 2029 e cobre áreas de Santarém, Paragominas, Belterra e Mojuí dos Campos.
📙 Cultura
Em imagens: o festival afropercussivo Noite dos Tambores, que acontece desde 2011, chegou à décima edição após três anos – 2020 a 2022 – paralisado por conta da pandemia. O encontro anual na Casa de Cultura M’Boi Mirim, na zona sul de São Paulo, já reuniu mais de 85 grupos do Brasil e do mundo e atraiu mais de 35 mil pessoas ao longo dos anos. A Periferia em Movimento registrou a edição deste ano, que honrou a cultura viva dos tambores. O festival contou com a participação de nove grupos de diversos estados, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraíba, que tocaram ao longo de dez horas, madrugada adentro, entre os dias 2 e 3 deste mês.
🎧 Podcast
A partir de documentos históricos, o escritor Alexandre Vidal Porto recriou a vida do português Luiz Delgado, enviado a Salvador (BA) no século 17, após ser acusado do crime de homossexualidade. O “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, conversa com Vidal Porto sobre o recém-lançado “Sodomita”, romance que reconstrói literariamente a trajetória do português exilado. O autor descreve a importância de narrar as vidas de dissidentes sexuais e outros perseguidos que ajudaram a construir o país.
🧑🏽🏫 Educação
Com um vazio de materiais didáticos adequados sobre a cultura e a história dos povos originários nas escolas, iniciativas individuais de espaços culturais e da direção e do corpo de algumas escolas buscam convidar escritores indígenas para palestras, como conta o Nonada. O objetivo é suprir a lacuna do Estado sobre o tema. “Os professores acabam prestando atenção na nossa palestra para também entender um pouco sobre a nossa cultura através da literatura”, afirma Olivio Jekupé, indígena Guarani e morador da aldeia Kakané Porã, em Curitiba (PR). Autor de “O Saci Verdadeiro” (2000) e “Literatura Nativa em Família” (2020), ele costuma ser convidado para encontros voltados a educadores.
Em tempo: apenas 6% das secretarias municipais de Educação têm projetos para a educação de povos indígenas. O percentual é um pouco maior (10%) quando se trata de comunidades quilombolas. O Notícia Preta apresenta os dados obtidos pelo IBGE e analisados pela organização Todos pela Educação.