Os seis anos da morte de Marielle e as pautas ambientais no Congresso
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🔸 “Não houve só a execução do corpo físico de Marielle. Imediatamente, sincronizado àquele assassinato, houve uma tentativa imediata de assassinar a memória da Marielle, de assassinar a luta da Marielle como defensora dos direitos humanos, sua trajetória.” A vereadora Monica Benicio (Psol-RJ), viúva de Marielle Franco, refere-se à campanha de desinformação da qual a vereadora carioca, executada brutalmente em 2018, foi alvo desde o dia do crime. Em entrevista à Lupa, Monica lembra as notícias falsas que acompanham as investigações, conta que as fake news “potencializavam as dores” e propõe uma pergunta para além daquela sobre os mandantes da execução: “A quem interessava que a memória da Marielle fosse imediatamente destruída?”
🔸 Ontem, quando o assassinato de Marielle e de seu motorista Anderson Gomes completou exatos seis anos, Monica, outros familiares e amigos fizeram homenagens aos dois no Rio de Janeiro. A pergunta sobre o mandante segue sem resposta, e quatro suspeitos foram presos desde o início das investigações: Ronnie Lessa, Élcio de Queiroz, Maxwell Simões Corrêa e Edilson Barbosa. O Notícia Preta detalha qual teria sido a participação de cada um no crime e lembra que, há um ano, o então ministro da Justiça, Flávio Dino, permitiu que a Polícia Federal abrisse um inquérito para investigar a execução.
🔸 O negacionismo vem freando as pautas ambientais no Congresso, segundo relatório da Virada Parlamentar Sustentável, movimento iniciado em junho de 2023 para inserir a sociedade civil na agenda ambiental do Legislativo. O Congresso em Foco destaca que, como consequência da postura dos parlamentares, o governo não consegue impedir o avanço de projetos contrários ao enfrentamento à crise climática, caso, por exemplo, da votação da flexibilização do comércio de agrotóxicos e do marco temporal das terras indígenas. Para Ian Coelho, representante do movimento Jovens pelo Clima, a solução passa pela presença de entidades defensoras da pauta ambiental no Congresso: “A gente sabe que o agro, pelo outro lado, está fazendo reunião todos os dias. [Eles] têm instituto para pensar advocacy, para pensar políticas públicas, e nós precisamos fazer o mesmo”.
🔸 Enquanto isso, no STF… A Corte entendeu que o governo avançou na proteção ambiental e no combate ao desmatamento da Amazônia – mas não o suficiente. Por isso, o Supremo Tribunal Federal determinou que o governo deve abrir crédito extraordinário em 2024 para as políticas do setor. O Jota explica que a medida é fruto do julgamento de duas ações ajuizadas há quase dois anos por partidos que questionaram o esvaziamento das políticas ambientais pelo governo federal. Para oito dos 11 ministros, os planos contra o desmate apresentados estão em execução pela atual gestão, o que torna a situação menos crítica que a do governo Bolsonaro.
🔸 Já o combate ao desmatamento no Cerrado está fora de controle. A conclusão é de um estudo lançado ontem pela Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio). Cerca de 50% do desmatamento registrado em 2023 no Cerrado foi feito de forma legal, concentrado na região do Matopiba, de onde vem as maiores pressões sobre o bioma, sobretudo pela expansão do cultivo de soja e milho. O Eco mostra que faltam dados sobre as solicitações e emissões das Autorizações de Supressão de Vegetação (ASVs), principal mecanismo de controle da destruição do bioma. Cristiane Leme Lopes, gerente de pesquisa do CPI, afirma que “não há gestão do desmatamento legal”. “As autorizações estão sendo emitidas? Se sim, estão sendo emitidas corretamente? Estão cumprindo a legislação? A supressão está sendo feita para que uso? Está sendo puxada pela atividade agrícola? Não dá pra saber, porque a gente não tem acesso aos dados.”
📮 Outras histórias
Despejada em 7 de março da Vila Esperança, em Recife, Maria Célia Almeida teve seus pertences retirados do ponto comercial e levados a um depósito sem aviso. “Arrombaram, tiraram tudo e demoliram sem a minha presença. Tudo o que eu poderia reaproveitar foi destruído”, conta a idosa. A Marco Zero conta que a situação se repete com outros moradores que tiveram suas casas demolidas pela Prefeitura do Recife para obras de acesso à ponte Jaime Gusmão. A Autarquia de Urbanização do Recife (URB) alega que Maria Célia recebeu indenização de seus imóveis (a casa e o ponto comercial) em 2023 e que, por isso, já deveria ter desocupado o local. A moradora, porém, questiona na Justiça o valor das indenizações – e, por isso, ainda não recebeu nada.
📌 Investigação
Criminosos que lucram com a venda de imagens de abuso sexual infantil no Telegram usam contas bancárias de laranjas para garantir o anonimato na plataforma e se blindar das implicações legais. O pagamento pelos serviços é intermediado por robôs e feito via Pix, com chaves cadastradas em nome de pessoas físicas e jurídicas preferencialmente em bancos digitais, como Mercado Pago e Nubank. O Aos Fatos identificou que essas chaves são registradas em nomes de terceiros. Entre os contatados pela reportagem, um deles disse ter emprestado seus dados em troca de dinheiro. Já outros negaram ter conhecimento do caso ou não responderam.
🍂 Meio ambiente
O rio Acre atingiu na primeira semana de março o segundo maior pico (17,8 metros) desde 1971, afetando 93 comunidades indígenas. Até o dia 7 de março, foram impactadas mais de 5 mil pessoas de oito povos diferentes, entre eles os Kaxarari, Huni Kui, Manchineri e Jaminawa. A InfoAmazonia explica que, mesmo com redução das chuvas na última semana, essas populações perderam plantações que serviriam de alimento para o ano inteiro. “Minha aldeia está desmoronando, depois da alagação estamos tendo um desmoronamento, além da perda do legume, do roçado, além da invasão da água nas casas. Agora, estamos perdendo a nossa aldeia”, diz Josimar Matos, indígena do povo Huni Kui.
📙 Cultura
Presa pela ditadura 12 vezes, Mércia Albuquerque Ferreira era advogada e ativista pelos direitos de presos políticos no período, denunciando as más condições das prisões. Seus relatos estão no livro “Diários 1973-74 Escritos por Mércia Albuquerque Ferreira”, publicado no ano passado. Nascida em Pernambuco, Mércia destacava em seus escritos especialmente a questão de mães e pais dos presos. A partir dos registros, é possível observar a revolta, a angústia e a ternura da autora. A Quatro Cinco Um detalha o livro, que inspirou a peça “Lady Tempestade”, monólogo da atriz Andréa Beltrão, dirigido por Yara de Novaes e criado pela dramaturga Silvia Gomez.
🎧 Podcast
Expressão, causa e curadoria de materiais são essenciais para a moda, para além das passarelas, tendências rápidas e produção em massa. Para as comunidades periféricas, a moda sustentável é aliada tanto na geração de renda quanto na minimização dos impactos ambientais. O Manda Notícias conversa com Meg Pacheco, idealizadora do Avulsa Brechó, e Ana Paula, joalheira e idealizadora do Papoulas Joias, para compartilharem as experiências enquanto criadoras de moda na periferia e como as peças vão além de vestimentas e acessórios
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Já temos políticos gays, deputadas trans, estamos evoluindo, só que no futebol ainda existe um machismo tão grande que demora um pouco mais.” Ao assumir a presidência do Bahia, o ex-goleiro Emerson Ferretti é o primeiro homem abertamente gay a presidir um clube de futebol de destaque no Brasil. Em entrevista à revista piauí, o ex-atleta narra sua trajetória, fala sobre o tabu em relação à sexualidade no meio e também como o Bahia tem apoiado cada vez mais a causa LGBTQIA+. “Me vejo como um farol. As pessoas agora podem pensar: o Emerson jogou, foi ídolo, ganhou títulos, e virou presidente. Isso tudo sendo gay. Então é possível.”
Correção: em nota publicada na edição desta terça-feira (12/03), com entrevista de Sidarta Ribeiro ao Nexo, a reportagem informou erroneamente que o neurocientista era vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ele, no entanto, não ocupa mais o cargo.