A segurança em meio à crise no RS e os abrigos com cinema infantil
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🔸 Durante o desastre que já deixou 149 mortos no Rio Grande do Sul, moradores vêm se organizando por conta própria em grupos armados, que, em alguns casos, contam com policiais de folga contratados irregularmente, revela a Ponte. A reportagem teve acesso a fotos e vídeos que mostram civis, na zona norte de Porto Alegre. Eles se reúnem para defender residências e comércios de criminosos que agem embarcados. No escuro e sem conseguir dormir, um morador armado relata ter visto barcos carregados de eletrodomésticos, possivelmente resultados de furto. “Eles passam de meia em meia hora gritando: ‘Vocês não vão sair? Vão embora!’. Se o pessoal for embora, eles invadem e levam tudo”, conta. O lutador de jiu-jitsu Deivison Vieira, 39 anos, diz que decidiu agir depois de receber notícias sobre violência nos abrigos. Ele afirma que tem uma lista de 300 candidatos a “vigilantes voluntários”. “Estamos num terreno fértil para o surgimento de milícias, de grupos minimamente organizados e armados que cobram por segurança”, alerta o policial militar Dagoberto Albuquerque da Costa, um dos fundadores do Movimento dos Policiais Antirracista.
🔸 Conhecida por disseminar desinformação, inclusive sobre a crise climática, a Brasil Paralelo tem conexões com o vice-prefeito de Porto Alegre. Ricardo Gomes (PL) é apresentador da BP e, como apurou a Agência Pública, investiu nela seu maior gasto da campanha. Embora tenha anunciado que não concorrerá à reeleição, ele tem atuado para alavancar um possível sucessor – também ligado à Brasil Paralelo. Claudio Nudelman Goldsztein, empresário do setor da construção, usa o Instituto Cultural Floresta para tentar influenciar políticas públicas no setor. Durante as enchentes no RS, Gomes fez uma live na própria BP para elogiar a instituição do amigo e indicá-la como caminho mais rápido para doações.
🔸 “É possível ver nas paredes do Mercado Público que a água está baixando, mesmo com o repique do Guaíba. Ainda assim, diversas ruas do Centro ainda se parecem com antigos canais.” O repórter Luís Gomes narra no Sul21 a rotina de quem precisa circular no centro de Porto Alegre ainda com as ruas inundadas. A parte alta do coração da capital não está alagada, mas são poucas as pessoas que circulam por lá, num cenário que lembra o da pandemia. No Gasômetro, já não são tantos os resgates de pessoas. “O fluxo de resgate segue agora voltado aos animais. São cachorros, gatos, porcos… Quatorze cavalos já tinham sido resgatados”, conta.
🔸 Enquanto isso, no Congresso, a “boiada” passa. Além de derrubar os vetos de Lula ao PL do Veneno, a Câmara também aprovou um projeto que retira a plantação de eucaliptos da lista de atividades potencialmente poluidoras e a dispensa de licenciamento ambiental. Os projetos que afrouxam a legislação ambiental avançam com apoio do Ministério da Agricultura. A Repórter Brasil destaca que o ministro Carlos Fávaro – ex-diretor da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), uma das entidades mais fortes do setor – tem aval para seguir com a pauta ruralista. Tomado pelo lobby do agronegócio, o Congresso só deve mudar com intensa pressão social, defende Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam). “Só assim para demonstrar a existência dos conflitos de interesse que assolam as decisões do Congresso”, afirma.
🔸 A propósito: ontem, Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fez uma manobra no Senado para adiar a votação do projeto de lei que estabelece normas para planos de adaptação às mudanças climáticas. O adiamento é de apenas um dia, mas ele conseguiu que o texto retorne à Comissão de Constituição e Justiça na Casa para analisar suas emendas à proposta – apresentadas fora do prazo, encerrado em março. O projeto foi elaborado com a participação da sociedade civil e da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso. O Eco explica que Flávio Bolsonaro quer incluir o setor privado na formulação das diretrizes dos planos de adaptação. Negacionista, ele ainda afirmou no Plenário que o desastre no Rio Grande do Sul não está relacionado às mudanças climáticas.
📮 Outras histórias
Diante do processo de privatização da água no estado de Sergipe, o prefeito da capital Aracaju tentou mostrar isenção. Cobrado pelo vereador Elber Batalha (PSB), não se pronunciou. Pressionado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Saneamento Básico de Sergipe (Sindisan), ficou em silêncio. A venda da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) afeta principalmente os mais pobres e ainda contraria a Lei Orgânica local, que proíbe a privatização do serviço de água. Apesar do silêncio, a Mangue conta que o prefeito aprovou, em assembleia com o governador em 26 de março, a venda. A medida foi vista como uma manobra política para obter apoio para futuras eleições.
📌 Investigação
Em um local remoto da Amazônia, na fronteira entre Brasil e Colômbia, prospera a economia ilícita do garimpo ilegal, com atuação de grupos armados e facções criminosas. O documentário “Dragas: O Negócio Obscuro do Ouro no Amazonas”, do Amazon Underworld, projeto da InfoAmozonia, em parceria com Armando.Info (Venezuela) e La Liga Contra el Silencio (Colômbia), revela como funciona a extração de ouro no rio Puruê, no Amazonas, e o impacto provocado pela operação do maquinário. A equipe de reportagem foi abordada por homens armados que fazem a segurança das mais de cem dragas de garimpo ilegal que engolem o rio e devastam a floresta na região.
🍂 Meio ambiente
Seis a cada dez deputados federais do Nordeste votaram a favor de projetos com potencial de causar danos socioambientais irreversíveis. A Agência Tatu mostra como os parlamentares da região se posicionaram diante de três propostas importantes no último ano em relação ao meio ambiente e aos povos indígenas – o Projeto de Lei (PL) do Licenciamento Ambiental (nº 3729/2004), o PL do Veneno (nº 6299/2002) e o PL do Marco Temporal (nº 490/2007). Mais de 60% das votações nas três proposições foram no caminho da flexibilização da legislação socioambiental. A maioria desses votos foram de partidos de direita, extrema direita e centro.
📙 Cultura
Produtoras audiovisuais do projeto Alfabetização Audiovisual, Daniela Mazzilli e Maria Angélica dos Santos passaram a exibir filmes infantojuvenis para crianças e adolescentes do abrigo Centro Vida, que, com cerca de 700 pessoas, é o maior abrigo de pessoas desalojadas na zona norte de Porto Alegre, vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Segundo o Nonada, a iniciativa ganhou o nome de Cine Vida e, em menos de uma semana, já foi replicada em pelo menos cinco abrigos diferentes da capital. O grupo conta com 40 voluntários, divididos em pequenas equipes com diferentes tipos de atuação. “O cinema tem o lugar do acolhimento, da fantasia e da possibilidade de sair dessa realidade tão dura da calamidade e da perda”, afirma Mazzilli.
🎧 Podcast
O uso do fogo é uma das estratégias do agronegócio para viabilizar a grilagem, o desmatamento e a expulsão de povos indígenas e comunidades tradicionais de seus territórios ancestrais. Entre 2019 e 2022, houve aumento de 90% no número de conflitos no campo envolvendo incêndios criminosos. O primeiro episódio da série “No rastro do fogo: agronegócio e a destruição do Cerrado”, do “Guilhotina”, produção do Le Monde Diplomatique Brasil, conversa com Valéria Santos, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da articulação Agro é Fogo – organizações responsáveis pela elaboração desses dados –, Socorro Alves, da comunidade quilombola de Cocalinho (MA), e Rosineide Xerente, da Terra Indígena Xerente (TO), para entender o impacto do fogo nas comunidades locais e na destruição do Cerrado pela expansão do agronegócio.
🧑🏽⚕️ Saúde
A campanha de marketing da Coca-Cola busca vender a versão zero como “a melhor Coca-Cola de todas”. Zero açúcar, zero caloria e, supostamente, com o mesmo sabor da original. Desde 2021, as embalagens mudaram, com o objetivo de dificultar ainda mais a distinção entre a bebida original e a zero. Os esforços deram certo: em 2023, os brasileiros tomaram 515,9 milhões de litros de Coca Zero – um aumento de 28,9% em relação ao ano anterior. O Joio e O Trigo detalha o segredo por trás dos refrigerantes sem caloria, com o uso de adoçante – ou edulcorantes, termo que aparece no rótulo –, e mostra como esses aditivos são prejudiciais à saúde. Em agosto do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou o aspartame, um dos edulcorantes mais utilizados nessas bebidas, na lista de produtos “possivelmente cancerígenos”.