O segundo turno em SP e os reeleitos com multas por crimes ambientais
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🔸 No maior pleito para cargos municipais da história do país, 10 prefeitos das 26 capitais brasileiras foram reeleitos ontem, no primeiro turno. No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), venceu com 60,47% dos votos válidos o candidato bolsonarista Alexandre Ramagem (PL). Segundo o Intercept Brasil, seis em cada dez prefeitos apoiados por lideranças da extrema direita perderam as eleições. Ao todo, os deputados Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Gustavo Gayer e Nikolas Ferreira, do PL, e a senadora Damares Alves, do Republicanos, apoiaram 117 políticos – destes, apenas 36 assumirão o comando de prefeituras. O baixo desempenho, porém, não implica num fracasso da estratégia de costura de apoios para o pleito de 2026. “Às vezes, o resultado não se mede só em ganhar a eleição, mas em consolidar um campo ou testar um nome”, avalia o cientista político Jorge Chaloub.
🔸 Em São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) vão ao segundo turno. O atual prefeito obteve 29,48% dos votos válidos, e Boulos, 29,07%. Numa das mais agressivas campanhas da história recente da política paulistana, ataques, desinformação e até violência física entre os candidatos marcaram o período. O Metrópoles lembra que, para impedir uma candidatura genuinamente bolsonarista, Nunes costurou uma extensa coligação partidária, batizada por ele de “frente ampla” contra a “extrema esquerda”. Já Boulos precisou enfrentar o arsenal de notícias falsas disseminadas pelo ex-coach Pablo Marçal (PRTB). Ao longo de toda a campanha, o Aos Fatos checou discursos, entrevistas e debates com os candidatos e destaca as principais desinformações usadas pelos dois candidatos que avançam agora ao segundo turno.
🔸 Carlos Bolsonaro (PL) foi o candidato a vereador mais votado no Rio de Janeiro, com mais de 130 mil votos válidos, quebrando seu recorde anterior: em 2016, obteve mais de 106 mil votos. Vai cumprir seu sétimo mandato na Câmara Municipal carioca. O Terra destaca também a vitória de Monica Benicio (PSOL), defensora dos direitos LGBTQIAP+ e viúva de Marielle Franco. Ela foi reeleita vereadora para o segundo mandato no Rio com mais de 25 mil votos. Já em São Paulo, o mais votado foi Lucas Pavanato (PL), com mais de 161 mil votos. O bolsonarista tem entre as propostas “proibir pessoas trans em banheiros femininos”.
🔸 No Mato Grosso e no Pará, saíram reeleitos prefeitos multados por crimes ambientais, como desmatamento e queimadas. É o caso de Weder Makes Carneiro (MDB), o atual prefeito de Brasil Novo, município paraense com 24 mil habitantes. A Agência Pública conta que ele obteve 12 mil votos e acumula a maior multa ambiental entre os prefeitos eleitos em 2020 que disputavam a reeleição: R$ 5,5 milhões. A segunda maior multa (de R$ 3,3 milhões) é de José Antônio Dubiella (MDB), prefeito de Feliz Natal, no Mato Grosso – também reeleito, com quase 60% dos votos do município.
🔸 No Norte do país, candidatos de extrema direita venceram na maior parte das cidades da região, confirmando o cenário apontado por pesquisas de intenção de voto. O Nexo mostra como ficaram os resultados em algumas dessas cidades. Em Belém, por exemplo, o candidato do MDB Igor Normando vai para o segundo turno com o Delegado Eder Mauro (PL). Já em Manaus, o atual prefeito David Almeida (Avante) vai disputar o segundo turno com o candidato Capitão Alberto Neto (PL). No Nordeste, a maioria dos representantes municipais foi escolhida em primeiro turno. Em Salvador, Bruno Reis (União Brasil) foi reeleito com ampla margem.
🔸 No Sul, Curitiba viu a rápida ascensão de Cristina Graeml (PMB), que se autoproclama a “única candidata conservadora” da capital. Ela disparou no final da campanha e, ao lado de Eduardo Pimentel (PSD), transformou o segundo turno da capital paranaense numa disputa entre dois candidatos ligados ao bolsonarismo. O Plural avalia que o resultado reflete a força do eleitorado bolsonarista em Curitiba. Oficialmente, Pimentel é o candidato apoiado por Jair Bolsonaro (PL), mas Graeml chegou a viajar para encontrar o ex-presidente. Em Porto Alegre, também haverá segundo turno – entre o atual prefeito Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT). O Sul21 ressalta que, no ano marcado pelo maior desastre climático da história da capital, Melo adotou a estratégia de se desvincular da responsabilidade pelas falhas durante as enchentes.
📮 Outras histórias
Suelene Vieira tem 48 anos, quatorze deles dedicados ao trabalho como assistente de saúde no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. “Nosso trabalho é estar próximo das pessoas, entender suas necessidades e, principalmente, ouvi-las”, afirma ela, que diz conhecer as pessoas que atende pelo nome. No Dia do Agente Comunitário de Saúde, comemorado na última sexta-feira, o Voz das Comunidades narra a trajetória de Suelene, que foi primeiro professora até os 18 anos, antes de decidir mudar de carreira. No Rio de Janeiro, são 16.659 agentes comunitários de saúde. Na rotina de trabalho, estão as visitas domiciliares e o acompanhamento de perto para a adesão aos tratamentos. “A gente se apega aos pacientes, eles fazem parte da nossa vida também. Vemos crianças crescerem, acompanhamos famílias inteiras. Quando alguém melhora, a gente se alegra junto”, conta.
📌 Investigação
As águas dos rios São Francisco e Grande já não correm mais como antes, mas a propaganda do governo da Bahia fala em “abundante oferta hídrica” para atrair investidores para concretização do Polo Agroindustrial e Bioenergético no Médio São Francisco, apresentado como “nova fronteira agrícola da Bahia”. O Meus Sertões detalha que o estado conta com investimentos privados de R$ 3 bilhões na implantação de sete empreendimentos, além de cinco em análise. Para garantir a água necessária, pelo menos dois empreendimentos, a Serpasa Agroindustrial e a Kamesq Agrícola, desviam as águas do rio para abastecer seus pivôs centrais. Apesar de não pagarem a taxa pública pela retirada de água há anos, essas empresas mantêm suas outorgas de uso e são algumas das responsáveis pelo volume cada vez mais baixo dos rios.
🍂 Meio ambiente
Quase 30% das cidades com até 50 mil habitantes da Amazônia apresentam alto grau de vulnerabilidade em relação a eventos extremos, como as secas e enchentes. A conclusão é de um estudo que analisou as características de pequenos municípios amazônicos e avaliou como eles estão preparados para lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Segundo a InfoAmazonia, Eirunepé (AM) é uma das cidades classificadas como altamente vulnerável e com baixa infraestrutura para atuar na redução dos impactos locais. A região teve chuvas anormais, que causaram enchentes e alagamentos em fevereiro, e enfrenta atualmente uma grave seca. “As balsas já não chegam mais no município, os voos estavam interditados por conta dessa fumaça que atingiu praticamente todo o Amazonas. A gente está aqui em situação extrema”, afirma o secretário da Defesa Civil da cidade, Benedito Rondinelli.
📙 Cultura
Na contramão da ostentação, presente em diversos gêneros atuais da música brasileira, o hit “Só Fé”, do cantor goiano Grelo, traz a humildade e simplicidade do narrador. Com mais de 2 milhões de plays diários, a canção aborda a menstruação, um tabu na MPB, com naturalidade no verso: “Eu só preciso de um dinheiro pra comprar um mé/ O leitinho das crianças/ E o Modess da muié/ O resto é só fé, só fé, só fé!”. Inclui, assim, o absorvente feminino no orçamento doméstico, como escreve Mariana Filgueiras, na revista piauí. “Eu sempre ouvi minha vó, mãe falarem Modess, não sei se é algo mais do interior, ou talvez mais da antiga geração, só que para mim era comum e algo que os brasileiros estavam habituados a falar. Aí foi com muita naturalidade que pensei no termo quando estava escrevendo ‘Só fé’”, afirma Grelo.
🎧 Podcast
As garrafas plásticas de água estão entre os grandes volumes de lixo gerados pela humanidade. No Brasil, o mercado de águas engarrafadas é controlado por corporações que pagam uma fatia pequena de impostos e sobre as quais pesam indícios de uma exploração maior que a declarada aos órgãos públicos. O “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, mergulha na origem do engarrafamento de água como negócio lucrativo e retrata como o medo da água da torneira e a “aura saudável” foram usados para fazer explodir as vendas no mundo todo.
🧑🏽⚕️ Saúde
Perseguição a médicos, acesso ilegal a dados de pacientes e sindicâncias atropeladas são algumas das suspeitas envolvendo conselhos de medicina do Brasil nos últimos cinco anos com objetivo de restringir o acesso ao aborto legal. Com conselheiros antiaborto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) ampliou a atuação relacionada aos direitos reprodutivos e protagonizou retrocessos para a saúde das mulheres e pessoas que gestam. Na série “Lobby Antiaborto”, a revista AzMina lembra que o médico Raphael Câmara Medeiros Parente é um dos personagens-chave nesse processo. Reeleito este ano no CFM, atuou como secretário no Ministério da Saúde no governo Bolsonaro e trabalha há anos para impedir a interrupção da gravidez. Pesquisas com estudantes de medicina mostram ainda que metade se recusaria a fazer o procedimento em caso de gestação decorrente de estupro.