A seca mais severa da história e as drogas K nas periferias de SP
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🔸 “Podemos perder o Pantanal até o final do século.” A afirmação é de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, que esteve ontem no Senado para prestar contas das ações da pasta no combate às queimadas que afetam também o Cerrado e a Amazônia. Ela explicou que, com a falta de precipitação e os incêndios, a vegetação nativa vai se perdendo ano a ano. O Congresso em Foco detalha a audiência com a ministra, que apresentou dados sobre a seca no país como um todo. Segundo ela, apenas dois estados (Sergipe e Alagoas) não enfrentam escassez hídrica severa, enquanto nove estão em situação crítica. Em agosto deste ano, foram registrados mais de 68 mil focos – um aumento de 144% em relação ao mesmo período do ano passado.
🔸 A propósito: quanto às queimadas, este foi o pior agosto desde 2010. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), o recorde de incêndios é uma das consequências da seca extrema no Brasil – a mais severa já registrada no país, superando a estiagem de 2015. O Colabora destrincha os números da seca, aponta onde se concentram as queimadas e mostra como a situação impacta os municípios. Mais de 3,8 mil cidades estão com alguma classificação de seca (de fraca a excepcional).
🔸 De tão extrema, a seca no rio Solimões expôs as ruínas de um forte de Portugal, construído no século 18 para demarcar o domínio dos portugueses na tríplice fronteira do Brasil, Colômbia e Peru. O Amazonas Atual conta que num trecho do rio foram encontrados restos de cerâmicas e munições usadas pelos militares no local. O Forte São Francisco Xavier de Tabatinga, localizado a pouco mais de mil quilômetros de Manaus, desabou em 1932 em meio a enchentes do Solimões.
🔸 A suspensão do X se tornou combustível para a convocação de manifestações do 7 de setembro pela extrema direita. Parlamentares e partidos de oposição estão impulsionando o assunto nas redes, como mostra o Aos Fatos. O Partido Novo é o principal exemplo. Desde o fim de semana, vem chamando de “decisão autoritária” o bloqueio do X pelo ministro Alexandre de Moraes. “Ele deveria sofrer impeachment por violar seu juramento de posse”, escreveu o bilionário Elon Musk, dono do X e da Starlink, ao retuitar conteúdo do Novo.
🔸 R$ 102 mil. É o valor pago por empresas como a Starlink para obter licença a fim de operar satélites sobre todo o território nacional. A taxa foi fixada em 2021, por uma resolução Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A Agência Pública apurou que a empresa de Elon Musk pagou o valor em 2022, o que lhe deu direito de operar 4,4 mil satélites sobre o Brasil até 2027. Ex-diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da Agência Espacial Brasileira (AEB), Petrônio Noronha de Souza reconhece que o valor é “ínfimo” e que foi uma opção adotada pelo Brasil quando se acreditava que cobranças altas seriam repassadas aos usuários, algo então visto como “contraproducente”.
📮 Outras histórias
O incêndio de matas na região metropolitana de Belo Horizonte mobilizou moradores de bairros como Jardins de Petrópolis, em Nova Lima. Eles contrataram 15 caminhões–pipa para combater queimadas nas redondezas. Segundo o BHAZ, o fogo atinge a Mata do Faria desde a semana passada, e a mata do Morro do Pires, desde esta segunda-feira. Moradora da região, Fernanda Godinho conta que no início desta semana as chamas ficaram altas e invadiram algumas casas. A articulação dos moradores com a brigada local ajudou a controlar o incêndio e ninguém ficou ferido. “É a gente mesmo que está nesse combate com a brigada. Foi bem perigoso, foram incêndios bem intensos, estamos passando por um sufoco por lá”, afirma.
📌 Investigação
O maior número de notificações de intoxicação por drogas K não é registrado na Cracolândia, no centro de São Paulo, e sim nas periferias da capital paulista, o que demanda uma política pública de cuidado voltada a esses territórios. Nos bairros periféricos, é possível encontrar tanto usuários em situação de rua quanto usuários que são trabalhadores e mantêm laços familiares, mas que enfrentam o uso problemático da substância. Nesses dois grupos, o perfil dos intoxicados é parecido: a maioria é de homens cis negros, adolescentes e jovens adultos. A Alma Preta mostra o que se sabe sobre o uso das substâncias K, desde os efeitos no corpo até o vazio de informações sobre crises de abstinência e risco de morte. A falta de padrão desses entorpecentes é um dos maiores desafios para que pesquisadores identifiquem as consequências clínicas.
🍂 Meio ambiente
Com animais mortos pelo fogo, o Pantanal perde uma diversidade genética ainda incalculável, segundo Flávia Miranda, veterinária e presidente do Instituto Tamanduá. Ela realiza pesquisas no bioma desde 2006 com mamíferos do grupo dos Xenarthras, que engloba tamanduás, bichos-preguiça e tatus. Em entrevista ao Fauna News, a pesquisadora descreve o cenário de devastação das espécies silvestres diante das queimadas: “Pra mim, pior do que ver esses animais queimados, é ver o impacto da fome cinzenta, que é a que vem após a queimada para os que sobrevivem. A cadeia trófica muda completamente. Animais que predavam certas espécies passam a predar o que encontram pela frente. Começamos a ver bichos magros, cambaleando pelo caminho de cinzas”.
📙 Cultura
“O HIV é visto como uma particularidade, e não como uma temática, na arte contemporânea brasileira”, afirma Ricardo Ayres, professor do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Há pelo menos 10 anos, Ayres se dedica à pesquisa sobre a presença das vivências HIV e da Aids nas artes visuais e acredita que a temática é mais invisibilizada artisticamente no Brasil do que em outros países. O Nonada lista oito artistas brasileiros e estrangeiros que abordam o assunto em diferentes momentos históricos. A produtora cultural Micaela Cyrino, por exemplo, é ativista pelas pessoas negras vivendo com HIV. Mulher negra soropositiva, realiza pinturas, performance e intervenções na rua sobre os estigmas e preconceitos em relação a Aids e ao HIV.
🎧 Podcast
Atualmente desativada, a prisão conhecida como “Caldeirão do Inferno” na vila de Dois Rios, na Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), foi o berço do que seria o Comando Vermelho, uma das principais facções criminosas do país. Moradores que cresceram no vilarejo relatam uma melhor qualidade de vida nos tempos em que a unidade funcionava. A segunda parte da minissérie “Dois Rios”, da “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, explica por que a população local vive em conflito com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que gere o vilarejo atualmente.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Influenciadoras digitais têm divulgado empresas que cobram para auxiliar mulheres que querem ter acesso ao salário-maternidade. Este, no entanto, é um direito garantido por lei a todas as pessoas que fazem contribuições ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e pode ser solicitado gratuitamente pela internet. O Nós, Mulheres da Periferia reúne as informações necessárias para solicitar o salário-maternidade, explica quem tem direito e o tempo que leva para ser concedido. O valor do benefício, em geral, é igual ao da remuneração mensal recebida por quem o solicita. No caso de microempreendedoras individuais (MEIs), o pagamento é de um salário mínimo.