A seca na Amazônia e os anúncios de políticos contra crianças trans
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🔸 A seca já atinge 69% dos municípios da Amazônia Legal. O percentual se refere aos primeiros seis meses do ano, que, normalmente, é o período chuvoso na Amazônia. Análise feita pela InfoAmazonia mostra que houve agravamento da seca neste ano. No primeiro semestre de 2023, eram 309 municípios em seca fraca e 126 em seca moderada. Agora, os números quase se inverteram: são 300 municípios em seca moderada e 170 em seca fraca. “O Atlântico Norte continua batendo todos os recordes históricos de temperatura. Isso ocorre desde o ano passado. Quando o Atlântico está mais quente, o sul e o centro-oeste da Amazônia acabam tendo menos chuva”, diz o cientista Carlos Nobre. O impacto recai sobre as populações mais vulneráveis. Doze associações de quilombolas de Óbidos e Oriximiná, municípios no oeste do Pará com seca moderada, pediram às prefeituras planos de contingência, além de equipamentos para armazenar água e distribuição de alimentos.
🔸 Após meses de negociação, governo e servidores do meio ambiente assinaram um acordo salarial. Agentes do Ibama, do ICMBio e do Ministério do Meio Ambiente entraram em greve em julho, embora o início do debate sobre reajuste tenha se iniciado ainda no ano passado. O Jota explica que o acordo prevê reajuste de 23%, entre 2025 e 2026 e detalha o plano de reestruturação de carreiras. Os servidores, porém, devem manter a pressão por pontos não resolvidos no acordo, algo que deve seguir até a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30, em 2025. “Do jeito que as coisas estão, a carreira ambiental continuará perdendo profissionais qualificados para outras carreiras e tornando cada vez mais inglória a missão de proteger o meio ambiente neste país”, disse, em nota, a Ascema Nacional, que representa os servidores de carreira em meio ambiente.
🔸 Mulheres, solteiros, com Ensino Médio e de meia idade. Este é o perfil de quem vai às urnas neste ano. Ao todo, são 155,9 milhões de eleitores, mais do que em 2020, quando o número chegou a pouco mais de 147,9 milhões. A Lupa destrincha os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e destaca que as mulheres são a maioria do eleitorado: elas representam mais de 81,8 milhões de votos no país, contra 74 milhões dos homens. Em nenhum estado brasileiro, os homens são maioria. A reportagem permite checar os percentuais de gênero, estado civil, escolaridade e faixa etária dos eleitores por município.
🔸 Falando em eleições… O uso de inteligência artificial nas pré-campanhas está na mira da Justiça Eleitoral, que, só no primeiro semestre, julgou 43 ações relacionadas ao tema. Em 32% dos casos, o emprego de IA foi considerado irregular, como mostra levantamento inédito do Aos Fatos, em parceria com ICL Notícias e o Centro Latinoamericano de Investigação Jornalística (Clip). As eleições de outubro serão as primeiras em que o uso de IA generativa está disseminado. Como o tema é novo, falta jurisprudência, o que leva a interpretações variadas sobre as regras do TSE. Estas, por sua vez, não proíbem o uso, mas exigem que as peças de campanha que se valerem de IA devem informar que o conteúdo foi manipulado e a tecnologia usada. “Nossa expectativa, infelizmente, é que a utilização de inteligência artificial e a produção de conteúdos falsos vão ser amplamente utilizados na campanha eleitoral”, diz o subprocurador-geral da República Elton Ghersel.
📮 Outras histórias
“Nós somos nosso próprio incentivo.” A frase da karateca Thalita Dias resume bem como os atletas lidam com a falta de apoio do poder público. Embora a situação se aplique a muitos contextos pelo país, ela se refere à infraestrutura em Vitória da Conquista, terceira maior cidade da Bahia. Lá, as áreas de cultura, turismo, esporte e lazer estão sob o guarda-chuva de uma só secretaria. O Conquista Repórter revela como os recursos são escassos para o setor. Nos últimos seis anos, apenas 0,71% do orçamento fiscal do município foi destinado à coordenação de esporte e lazer. Bi-campeã brasileira de karatê, Thalita Dias vivencia a escassez no próprio cotidiano: “O sustento da minha prática esportiva é proveniente do meu bolso. Tenho que usar artifícios, como rifas beneficentes ou venda de alimentos, para arrecadar dinheiro suficiente para gastos referentes à participação em campeonatos e, também, para a compra de materiais de proteção e kimonos”.
📌 Investigação
Políticos de extrema direita impulsionaram 124 publicações contra crianças e adolescentes trans no Facebook e no Instagram, de acordo com dados da Biblioteca de Anúncios da Meta. Os anúncios foram ao ar entre 11 de junho de 2023 e 10 de junho de 2024 e houve reprodução de discurso de ódio e mentiras que já foram desmentidas. Levantamento da Agência Diadorim mostra que entre os propagadores de discurso de ódio estão parlamentares influentes da ala conservadora, como a deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC), o senador Zequinha Marinho (PODE-PA) e os deputados estaduais Tenente Coimbra (PL-SP) e Paulo Mansur (PL-SP). Pré-candidatos às eleições municipais deste ano também pagaram para impulsionar publicações com discurso de ódio e desinformação sobre o tema.
🍂 Meio ambiente
“Adaptação climática antirracista é o enfrentamento às desigualdades raciais, de gênero, geracionais, sociais, regionais e territoriais, a partir de um conjunto de políticas públicas estruturantes, interseccionais e intersetoriais. Essas políticas devem ter como foco assegurar o bem viver, a proteção das vidas vulnerabilizadas e a conservação dos biomas, por meio de medidas estruturais e emergenciais”, afirma Thaynah Gutierrez, secretária executiva da Rede por Adaptação Antirracista. Segundo a Eco Nordeste, a iniciativa foi lançada oficialmente em julho deste ano e reúne mais de 50 organizações e coletivos de territórios espalhados por 15 estados. A Rede planeja dar protagonismo às populações negras, indígenas, quilombolas e as comunidades tradicionais, essenciais para a agenda climática.
📙 Cultura
“Quando conheci o rap e o hip hop, ele me deu um norte, uma direção. Me trouxe autoestima e orgulho de ser da quebrada. Essas coisas foram me afastando do caminho errado e criaram minha identidade”, relata o escritor, cineasta e ativista social Alessandro Buzo. A Periferia em Movimento narra como o rap transformou a percepção das populações periféricas, sobretudo a abordagem sobre masculinidade e violência. “Se formos falar da paz nas quebradas entre os sujeitos periféricos, nesse ponto sim, não apenas o rap, mas a cultura hip hop como um todo contribuiu para que houvesse uma conscientização sobre a nossa responsabilidade em relação a isso”, afirma Giomar Souza, o Gil BF, DJ e editor do Bocada Forte, site dedicado à cultura hip hop desde 1999.
🎧 Podcast
Poesia e humor não são antagônicos, defendem o ator e escritor Gregório Duvivier e a poeta Bruna Beber. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, eles falam sobre seus trabalhos literários e humorísticos e como perceberam que poderiam cruzar os gêneros. “A gente tem a sorte no Brasil de ter ótimos poetas engraçados”, afirma Duvivier, relembrando como os nomes canônicos da poesia brasileira, como Oswald de Andrade, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Gregório de Matos, Millôr Fernandes e Carlos Drummond de Andrade tinham um humor característico na escrita.
🏃🏾♀️ Esporte
Eleita seis vezes a melhor do mundo, Marta, a Rainha do Futebol, é inspiração para meninas e mulheres em todo o mundo. A atleta se despediu dos gramados no último sábado, com a prata olímpica do futebol feminino em Paris. O Portal Catarinas ouviu uma menina e cinco mulheres que jogam e trabalham com futebol para entender qual o legado da jogadora para o esporte no país. “A Marta foi capaz de transformar algo muito profundo na cultura brasileira: os pais e mães de meninas que antes sentiam vergonha das suas filhas por jogarem futebol e andarem no meio dos meninos, hoje sentem orgulho e falam de boca cheia que suas meninas querem ser como a Marta”, afirma Júlia Vergueiro, da Nossa Arena, espaço esportivo dedicado às meninas, mulheres e pessoas trans.