Os impactos da seca no Amazonas e o futuro da ilha de Boipeba
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🔸 “O nível a que chegamos de aquecimento nos oceanos não tem precedentes. É imprevisível o que vai acontecer com a Amazônia, porque não vivemos essa condição antes.” A afirmação é da pesquisadora em Ciências Socioambientais Letícia Lima, da Universitat Autònoma de Barcelona. Ela coordenou a elaboração de uma carta assinada por 70 cientistas e enviada à Câmara de Deputados a fim de que a Casa atente para a vulnerabilidade dos povos tradicionais da Amazônia e cobre medidas de proteção e prevenção de impactos. A Pública conversou com especialistas sobre a forte estiagem que se repete por todo o estado do Amazonas. A possível causa, segundo eles, é o aquecimento das águas do Oceano Atlântico, cujas temperaturas vêm batendo recordes há meses, e o fenômeno El Niño, que aquece o Oceano Pacífico. Os pesquisadores fazem um alerta: o período extremo mal começou – os níveis mais baixos nos rios costumam ocorrer em meados de outubro.
🔸 Os impactos da seca no Amazonas se agravam: nos rios, morrem toneladas de peixes e centenas de botos; há comunidades isoladas e sem acesso à água potável, além da interrupção do ano letivo nas escolas. A Prefeitura de Manaus decidiu encerrar as aulas presenciais na zona rural da capital, como informa o Amazonas Atual. A medida atinge 48 escolas municipais de 55 comunidades rurais às margens do Rio Negro. Os professores vão enviar lições aos alunos em aulas remotas, para que o ano letivo seja oficialmente cumprido.
🔸 A divulgação de conteúdos falsos pode levar a um processo de impeachment. É o que prevê o PL do Impeachment ao acrescentar a disseminação de fake news às condutas que podem resultar em crime de responsabilidade. A Lupa disseca o texto do projeto de lei, de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e destrincha as reações no Congresso. Não são poucas: o PL já acumula 66 emendas. Uma delas quer remover na íntegra qualquer sanção a quem disseminar informações falsas. Foi apresentada pelo líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).
🔸 Em São Paulo, a greve de trabalhadores do transporte sobre trilhos em conjunto com servidores da Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp), levou a bancada feminista do PSOL a apresentar um projeto de plebiscito na assembleia legislativa. A ideia é debater as privatizações de serviços propostas por Tarcísio de Freitas (Republicanos). À Alma Preta a deputada Simone Nascimento afirmou que a greve é legítima já que o governador “quer privatizar três grandes empresas públicas do estado sem sequer abrir o debate”.
🔸 Em áudio: a privatização do transporte em São Paulo pode representar lucro para as empresas, mas precariedade para trabalhadores e passageiros. A partir dessa perspectiva, o “Cena Rápida”, podcast do Desenrola e Não me Enrola, debate o tema com Lucas Dametto, do Comitê CPTM, e Sandro Oliveira, cientista social e pesquisador do Centro de Estudos Periféricos.
📮 Outras histórias
Heloísa Helena Moraes tem 62 anos, é moradora da Rocinha há 38 anos e foi a mais votada para o conselho tutelar 13, na região da favela na zona sul do Rio de Janeiro. Será seu terceiro mandato. O Fala Roça narra a trajetória da assistente social formada pela PUC-RJ e que começou a construir seu ativismo na comunidade ainda nos anos 1980. “Eu tinha uma preocupação, em relação à vida das crianças que saiam das creches, que eram integrais, [e agora], elas ficavam sem os cuidados”, conta a conselheira, eleita para o trabalho pela primeira vez em 1996.
📌 Investigação
O racismo na ditadura. No Festival Internacional da Canção, em 1970, ocupavam os holofotes Chico Buarque, Geraldo Vandré e Tony Tornado. Este último estava na mira dos militares do regime. Relatórios obtidos pelo Intercept Brasil revelam que, para os agentes, o cantor disseminava a ideia de uma “suposta discriminação racial” no Brasil e era preciso impedir que ele fizesse “o gesto-símbolo do ‘poder negro’, representado pelo punho direito cerrado, braço estendido para o alto”. Com o crescimento dos movimentos sociais contra as estruturas racistas do país nos anos 1970, vieram os bailes de música soul – que logo se tornaram alvo da ditadura. Os documentos mostram que o regime negava o racismo, valendo-se de ideias de Gilberto Freyre sobre miscigenação, e culpava os próprios movimentos sociais por “importarem” o racismo para o país.
🍂 Meio ambiente
Acaba hoje o prazo para que o governo federal se posicione sobre o possível uso de terras da União por um megaprojeto turístico-imobiliário privado na ilha de Boipeba, na Bahia. O Eco lembra que o local é uma das porções mais preservadas da Mata Atlântica brasileira e abrigo de comunidades tradicionais. Há pelo menos quatro quilombos na ilha, três deles reconhecidos pela Fundação Palmares: a Comunidade de Boipeba, no último dia 20 de setembro, a Moreré, há um mês, e Monte Alegre, desde 2006. A comunidade de Cova da Onça ainda não reivindicou seu título.
Em áudio: trinta e três novas Áreas de Importância para Mamíferos Marinhos foram mapeadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Todas estão no Oceano Atlântico Sul Ocidental, margeando a costa brasileira, a bacia da plataforma continental argentina e os arredores de ilhas oceânicas. O mapa inclui regiões como Abrolhos (BA) e Albardão (RS), onde vivem baleias e golfinhos ameaçados de extinção. O “Silvestres”, produção do Fauna News, conversa com José Truda Palazzo Júnior, ambientalista e integrante do Instituto Baleia Jubarte, para explicar a atuação da IUCN e a importância da medida.
📙 Cultura
Quatro jovens indígenas, de diferentes etnias, carregam seus saberes e tradições em uma viagem a bordo de uma canoa pelo rio Amazonas em busca das sementes do arco-íris. Essa é a premissa do livro “Cada Remada uma História”, de Tiago Hakiy, Daniel Munduruku, Cristino Wapichana e Roni Wasiry. A obra mergulha nas diferenças e na alteridade das personagens. Na Quatro Cinco Um, a escritora Carola Saavedra sugere que, embora a obra seja classificada como literatura infantojuvenil, para sua leitura, é preciso se “despir de todo tipo de ideia preconcebida sobre o que deve ou não ser a literatura, e inclusive sobre gêneros como literatura adulta, infantil ou juvenil”.
Em áudio: a escritora Rita Carelli narra tradições e culturas amazônicas originárias para o público infantil. Sua obra mais recente “Menina Mandioca” vem de sua vivência em terras indígenas durante a infância, como conta ao “LatitudeCast”, podcast da Amazônia Latitude. “Eu não acho que cabe a mim contar simplesmente as lendas, os mitos indígenas. Acho que os indígenas têm que fazer isso e estão fazendo cada vez mais para o público não indígena. Então, eu sempre uso um pouco dessa camada, que é o que é ter sido uma menina branca na aldeia, o que eu pude aprender, conhecer”, diz.
🎧 Podcast
Os mistérios e encantos da Amazônia se entrelaçam às tradições e histórias de seus povos. O jornalista Maickson Serrão percorreu a mata, rios e diversas comunidades para adentrar um universo amazônico ainda desconhecido. A segunda temporada do “Pavulagem”, produção da Trovão Mídia, traz 12 novos episódios com contadores de histórias que são guardiões da sabedoria ancestral e revelam as profundezas místicas da floresta, entre desaparecidos que se tornaram fantasmas, bichos traiçoeiros e seres mágicos.
✊🏽 Direitos humanos
“A gente é uma associação de autistas, de pais, mães e de autistas também, mas sempre buscamos lutar pelos direitos de todas as pessoas com deficiência”, afirma Ester Cristina, mãe de Heitor, uma criança diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O Coar Notícias conta que Ester é presidente da Associação de Familiares e Amigos de pessoas com Autismo de Imperatriz (AFAGAI), um grupo que luta pela inclusão de pessoas neurodivergentes, principalmente as que estão em situação de vulnerabilidade.