O saldo do leilão do petróleo e as Paradas do Orgulho no interior do país
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🔸 Sob críticas e ações judiciais, o governo leiloou ontem blocos de petróleo na Foz do Amazonas. Dos 47 blocos ofertados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) na bacia, 19 foram arrematados, o que representa 40% do total. Segundo o Colabora, dois consórcios formados pelas empresas Petrobras e ExxonMobil Brasil e outro por de Chevron Brasil e CNPC Brasil compraram o equivalente a 16 mil quilômetros quadrados da Foz do Amazonas. “É alarmante que mais de 40% dos blocos ofertados na Bacia da Foz do Amazonas tenham sido arrematados neste leilão da ANP. Ao assumir 10 blocos em consórcio com a ExxonMobil Brasil, a Petrobras se coloca como protagonista de um projeto político arriscado que está cavando um buraco na credibilidade ambiental do Brasil”, avalia a porta-voz de Oceanos do Greenpeace Brasil, Mariana Andrade.
🔸 “Foi uma derrota. Nós esperávamos que não tivesse nenhum bloco arrematado, porque esses blocos estão com uma sensibilidade jurídica, sem as análises adequadas que deveriam constar, sem embasamento jurídico, então, esperávamos que as empresas fossem ter um pouco menos de apetite ao risco.” A afirmação é de Nicole Oliveira, diretora executiva do Instituto Internacional Arayara, que vai manter as Ações Civis Públicas pedindo a retirada dos blocos do leilão. O Eco destaca que a judicialização também é a via apontada pelo Observatório do Clima, rede que reúne mais de cem organizações da sociedade civil. Para Ricardo Fujii, especialista em conservação e líder de transição energética do WWF-Brasil, a exploração dos blocos “é uma aposta perigosa em ativos fósseis que só terão retorno se o mundo fracassar na luta contra o colapso climático”. Isso porque até 85% da extração de petróleo planejada pela Petrobras pode não ser lucrativa se o aquecimento global for limitado a 1,5 °C, como acordado internacionalmente.
🔸 O governo, por sua vez, comemora o resultado financeiro: o leilão arrecadou R$ 989 milhões, valor recorde para a modalidade de Oferta Permanente por Concessão. Em um momento de pressão sobre o orçamento federal, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o montante “vai ajudar na melhoria das contas públicas”. A Eixos informa que quase todo o valor veio dos 19 blocos leiloados na Foz do Amazonas, que renderam R$ 845 milhões – 85% do total. Os demais blocos, localizados nas bacias de Santos, Pelotas e Parecis, arrecadaram juntos menos de R$ 145 milhões.
🔸 Enquanto a Parada do Orgulho de São Paulo se prepara para ocupar a avenida Paulista no domingo, cidades menores mantêm suas próprias manifestações. A Agência Diadorim conta que, apesar de recursos escassos e de boicotes locais, as paradas LGBTQIA+ no interior resistem. Em Petrolina (PE), por exemplo, o evento começou em 2011 com apoio da prefeitura, mas desde 2019 é organizado de forma independente pela ONG Cores. Neste ano, porém, a parada foi cancelada por falta de verba e substituída por uma semana de atividades. “Há tentativas de invisibilizar a parada. Mantê-la viva é um esforço coletivo e constante”, diz Alzyr Brasileiro, presidenta da Cores. No Acre, a Parada de Rio Branco nasceu em 2004 após denúncias de violência policial contra travestis e mulheres trans. “Elas eram expulsas das ruas com bombas, presas e colocadas nuas em celas com outros homens”, lembra Germano Marino, fundador da Associação de Homossexuais do Acre. Já em Sertãozinho (SP), a Parada surgiu da articulação da ONG Primavera e levou 12 mil pessoas às ruas já na primeira edição, em 2007. Hoje atrai até 40 mil pessoas e movimenta a economia local.
📮 Outras histórias
Em Sergipe, clubes do livro vêm resgatando leitores em contextos de precariedade e sobrecarga. “Com 26 anos de idade, li a minha primeira obra literária. Aí foi ali que eu percebi que existia outro mundo possível, e ali eu decidi que ia me dedicar a estudar, a buscar o conhecimento. E foi o que eu fiz. Quando eu completei 29 anos, já estava concursado como professor”, conta Leosmar Simplício, que fundou o Clube Antonio Carlos Viana em 2018. O grupo, no município de Nossa Senhora da Glória, acolhe leitores com liberdade de escolha e promove debates terapêuticos. A Mangue reúne histórias de clubes de leitura em Sergipe, entre eles o “Entre Romances”, criado pela advogada Diana Keila, que encontrou nos livros alívio do burnout. Já o “Oxe, Leitor”, em Aracaju, aposta em encontros presenciais e incentiva os leitores a frequentarem bibliotecas públicas.
📌 Investigação
Enquanto as redes sociais falham na moderação de conteúdos, tutoriais de como aplicar golpes se espalham nas plataformas, circulam livremente e somam milhares de visualizações. A Lupa identificou dicas que vão desde ofertas “agressivas” – como suplementos alimentares com promessas sem comprovação de eficácia ou segurança – até golpes elaborados, como criar sites falsos para a venda de camisas de futebol. Esses conteúdos, que alimentam a engrenagem do chamado “marketing black” ou “marketing antiético”, usam também ferramentas para driblar sistemas de moderação, criar identidades falsas e dificultar o rastreamento por plataformas e autoridades.
🍂 Meio ambiente
O Brasil vive um “deserto de informações” públicas sobre crimes e conflitos socioambientais. A maioria das secretarias de segurança pública não classifica a violência contra povos tradicionais como crime ambiental, o que compromete a análise e o enfrentamento desse cenário. Os números também não consideram os impactos gerados por ações legalizadas, como abertura de estradas, mineração autorizada, desmatamento para agropecuária e grandes empreendimentos. A Marco Zero reúne as principais informações sobre o boletim “Além da Floresta”, lançado ontem pela Rede de Observatórios da Segurança. “Não é possível, em pleno avanço da destruição ambiental no Brasil, que não tenhamos dados rigorosos sobre os impactos sobre quilombolas, indígenas, ribeirinhos e outras comunidades”, afirma a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da organização.
📙 Cultura
Pandeirista, cantor e compositor, Ubirajara Félix do Nascimento, o Bira Presidente, foi uma das figuras centrais para a história do samba. Um dos fundadores da Cacique de Ramos, cujas rodas às quartas-feiras deram origem às inovações instrumentais do samba-pagode, Bira inspirou artistas, como Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra e Arlindo Cruz, e fez parte da criação do Fundo de Quintal, um dos grupos mais importantes do gênero. Na Escotilha, o jornalista Alejandro Mercado resgata o legado do artista: “Além de sua arte, Bira era um articulador social. Sob sua liderança, o Cacique conquistou reconhecimento oficial como patrimônio imaterial do Estado (Lei 10.562/23), da cidade do Rio e a quadra da Rua Uranos se firmou como espaço de sociabilidade, lazer e cultura popular”. Bira Presidente morreu no sábado, aos 88 anos, no Rio de Janeiro, vítima de complicações do câncer de próstata.
🎧 Podcast
Em meio ao crescimento do mercado pet, os animais de estimação estão expostos a produtos ultraprocessados – comprovadamente nocivos aos humanos – de baixa qualidade e composição nutricional que muitas vezes contêm subprodutos de baixo valor e aditivos. O “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, mergulha na relação humano-animais, que vem se transformando nos últimos anos, debate o avanço da indústria de ração e como cães e gatos podem sofrer os impactos do consumo desses produtos, apresentando as alternativas da alimentação natural a eles e seus desafios. “Enquanto cachorros e gatos se alimentarem de ultraprocessados, não tem como querermos que eles sejam saudáveis”, afirma Sylvia Angélico, médica veterinária pós-graduada em nutrição animal.
👩🏾⚕️ Saúde
Tratáveis apenas por meio de cirurgia, as hérnias abdominais prejudicam populações periféricas e de baixa renda, que dependem do SUS para o procedimento cirúrgico. Essa condição ocorre quando um órgão se desloca por um orifício na parede da barriga, deformando o abdômen. A Agência Mural explica que, embora não sejam consideradas como urgentes pelo sistema de saúde, as hérnias responderam sozinhas por 3% dos benefícios por incapacidade temporária em 2024, segundo dados da Previdência Social, além de impactarem diretamente a qualidade de vida. “Minha barriga caiu sobre a coxa. Não conseguia ir ao mercado ou fazer docinhos que ajudavam a pagar a faculdade da minha filha. Tive depressão”, relata Iracema Campolongo, que viveu uma saga por hospitais de São Paulo e Itapecerica da Serra para conseguir atendimento adequado.