O salário de Bolsonaro na prisão e um mapa das livrarias de rua de SP
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🔸 O presidente Lula (PT) sancionou ontem a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais. O que chamou a atenção na cerimônia no Palácio do Planalto foi a ausência dos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), o que ilustra a crise entre governo e Congresso. Como forma de sinalizar a insatisfação com a escolha de Lula para o Supremo Tribunal Federal (STF), Alcolumbre decidiu acelerar a sabatina de Jorge Messias para a vaga da Corte. O Jota conta que, ao contrário do que fez com André Mendonça, cuja sabatina foi após três meses da indicação, o senador marcou o rito para 20 dias após o comunicado de Lula, tenta encurtar o tempo de articulação política e, segundo interlocutores, testa tanto a força do governo quanto “cria dificuldade para vender facilidade”.
🔸 Alcolumbre também vai “desenterrar” a pauta que prevê o fim da reeleição, seja para prefeitos, governadores e presidente, além de alterar o tempo de mandato no Legislativo e no Executivo. Segundo a CartaCapital, ressuscitar a Proposta de Emenda à Constituição 12/2022 é mais uma represália do presidente do Senado contra a indicação de Jorge Messias ao STF. Ele está insatisfeito porque defendia a escolha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga no tribunal. A PEC não atingiria especificamente o mandato atual do presidente Lula, já que a vedação de reeleição se aplicaria a governos posteriores. A proposta amplia o mandato no Executivo de quatro para cinco anos e também prevê mandatos de cinco anos para deputados e vereadores. Nos bastidores, Alcolumbre tenta resgatar a ideia de estender o tempo de mandato de senadores de oito para dez anos.
🔸 Com o trânsito em julgado de sua condenação, Jair Bolsonaro (PL) pode perder os R$ 46 mil que recebe de salário como presidente de honra do PL, pago com recursos do Fundo Partidário. Com a sentença, seus direitos políticos ficam suspensos, o que atinge também sua permanência no partido, já que, em 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a suspensão se aplica “não apenas ao direito de votar e ser votado, mas também ao de manter filiação partidária”. O Congresso em Foco lembra que Bolsonaro recebe ainda R$ 41 mil de aposentadoria como ex-deputado e R$ 12 mil de pensão como capitão do Exército, benefício que também está em risco: caberá ao Superior Tribunal Militar decidir se mantém ou não sua patente.
🔸 “O Brasil já teve outros três presidentes presos por tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro, ainda assim, é um caso inédito em nossa história”, afirma Carlos Fico, professor de História na UFRJ e autor de “Utopia Autoritária Brasileira”. Em artigo na revista piauí, ele lembra que o país já teve dez ex-presidentes detidos: Washington Luís deposto em 1930, Hermes da Fonseca, Artur Bernardes e Café Filho envolvidos em tentativas de golpe ou rebeliões, além de prisões arbitrárias na ditadura (como a Juscelino Kubitschek e de Jânio Quadros), condenações recentes por crimes comuns (Lula, Michel Temer e Fernando Collor) e exílios forçados. Em geral, os golpistas foram punidos de forma irregular, por disputas militares, ou acabaram anistiados. Bolsonaro, ao contrário, foi investigado pela Polícia Federal, denunciado pela PGR e condenado pelo STF com amplo direito de defesa.
🔸 Uma criança de 12 anos foi baleada dentro de uma escola e um vendedor foi morto no meio da rua durante uma operação policial no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Segundo o Voz das Comunidades, o estudante foi atingido na perna enquanto estava na Escola Municipal Hélio Smidt, ao lado do 22º Batalhão da Polícia Militar. Já o vendedor de queijo foi atingido na região conhecida como Marrocos 2. Segundo o Fogo Cruzado, até novembro de 2025, pelo menos 11 crianças foram baleadas na Região Metropolitana do Rio. Dessas, duas morreram e nove ficaram feridas. “É um absurdo que um aluno, dentro de uma escola, seja atingido por um tiro. Essa é uma situação inaceitável”, disse o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha.
📮 Outras histórias
Famílias e professores de Porto Alegre protestaram em frente ao Palácio Piratini e caminharam até a Prefeitura do município contra as mudanças na distribuição de turmas do Ensino Fundamental. Um acordo feito pelas pastas estadual e municipal prevê que, a partir de 2026, 12 escolas de Porto Alegre deixarão de oferecer o 6º ano, enquanto dez escolas estaduais extinguirão o 1º ano, invertendo as responsabilidades das duas esferas do Executivo. O Sul21 explica que as distâncias e as condições de deslocamento estão entre os grandes desafios das famílias nesse rearranjo. Além do deslocamento, está a situação dos alunos que precisam de suporte pedagógico. Segundo Sabrina Koetz, seu filho, que tem TDAH, conta com monitor em sala na rede municipal, apoio que não estará disponível na estadual. “Isso só escola municipal proporciona, e ele vai perder tudo isso se for pra estadual. Escola estadual não tem recursos nem suporte para crianças com TDAH, autistas, então vai prejudicar muito mesmo”, diz.
📌 Investigação
Embora a produtora de grãos SLC tenha uma política de desmatamento zero em 2021, a empresa arrenda parte da Fazenda Cosmos, no sul do Piauí, desde agosto de 2024. A outra metade da propriedade, no entanto, teve desmatamento de 3,7 mil hectares de vegetação nativa entre julho de 2024 e fevereiro deste ano. Em parceria com O Joio e O Trigo, a Repórter Brasil detalha que parte da supressão teria ocorrido dentro da Reserva Legal da fazenda, onde, segundo a legislação, é obrigatória a manutenção da vegetação nativa. O perímetro desmatado é próximo ao território ocupado pela comunidade tradicional de Melancias, que trava há mais de dez anos uma disputa judicial com os proprietários da Fazenda Cosmos. Os membros da comunidade afirmam que os donos da fazenda grilaram terras de áreas tradicionalmente ocupadas pelas famílias do grupo para incorporar à propriedade.
🍂 Meio ambiente
“Nós fazemos parte da agricultura familiar e queremos também investimento para que os nossos agricultores possam preservar a floresta e viver, viver na floresta que é importante para o mundo inteiro”, afirma Raimundo Rodrigues Xavier, que há 30 anos participa do movimento pela agricultura familiar e defende a produção de comida mais saudável e a floresta em pé, mesmo sem incentivos e políticas públicas. Ele participou da Marcha Global pelo Clima em Belém durante a COP30. O Varadouro narra a resistência dos pequenos agricultores, responsáveis pelos alimentos que chegam à mesa de milhões de brasileiros, frente ao espaço e poder que o agronegócio teve institucionalmente na Conferência do Clima.
📙 Cultura
Em um cenário totalmente adverso, as livrarias de rua voltaram a se espalhar pela cidade de São Paulo. A estimativa é que existam mais de cem delas, que crescem nas brechas do mercado livreiro e também oferta escassa de espaços de convivência e encontros na metrópole. Entre as estratégias de sobrevivência, estão a especialização temática, a curadoria e a promoção de atividades culturais nas suas comunidades. O Le Monde Diplomatique Brasil destaca o lançamento do Mapa de Livrarias de Rua de São Paulo, disponível impresso e online, com endereços e informações das 37 livrarias que aderiram à ideia. Esse esforço coletivo nasceu quando algumas livrarias de rua de São Paulo passaram a se reunir nos últimos dois anos para compartilhar ideias e criar ações para fortalecer a atividade e o ecossistema editorial como um todo.
🎧 Podcast
“Minha mãe construiu uma família para a gente. Minha referência de família são as pessoas com quem você escolhe atravessar a vida.” A atriz, diretora e produtora Leandra Leal teve contato precoce com a morte: perdeu o pai e outras figuras familiares na infância devido à primeira onda de Aids. Foram esses traumas que moldaram sua maturidade e perspectiva sobre a vida. No “Isso Não É Uma Sessão de Análise”, produção da Trovão Mídia, ela revisita suas experiências e relações familiares que a levaram à construção de sua própria família, que atravessa a adoção de sua filha.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“O pré-natal das mulheres negras tem mais erros de condução e de diagnóstico. É um reflexo do racismo que estrutura o cuidado e define quem é prioridade”, afirma a ginecologista e obstetra Larissa Cassiano. Uma das evidências da condução equivocada é o alto número de mulheres negras gestantes com sífilis congênita – 68% dos diagnósticos. “O ideal é que o teste seja feito em três momentos: na primeira consulta do pré-natal, no terceiro trimestre e no parto. Quando isso não acontece, o diagnóstico só aparece durante a internação para o parto, o que reduz as chances de prevenção. Se a sífilis for diagnosticada e tratada antes, as chances de o bebê não nascer com a doença é de quase 100%”, explica em entrevista à Gênero e Número. Quando esse protocolo não é seguido o diagnóstico é feito tardiamente, geralmente durante a internação para o parto. “Acredito que o diagnóstico não é feito nessas mulheres pelo racismo. Não vejo outro motivo. O teste é simples, faz parte da rotina de qualquer pré-natal.”




