Os riscos da IA nas eleições e a Copa do Mundo feminina no Brasil
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🔸 Chegou ao Tribunal de Contas da União (TCU) um pedido para que o órgão analise as mudanças na legislação ambiental do Rio Grande do Sul feitas pelo governador Eduardo Leite (PSDB). O subprocurador do Ministério Público Lucas Rocha Furtado quer que o TCU avalie se as alterações nas leis foram “impulsionadoras da catástrofe vivenciada na região”, conta o Sul21. Em 2019, Leite promoveu 480 mudanças desse tipo. Com o novo Código Estadual do Meio Ambiente, liberou, por exemplo, o autolicenciamento ambiental, o que dispensa a análise prévia de projetos e permite a empresários construir apenas a partir de uma declaração de que cumprem requisitos ambientais. “Legislações ambientais não podem ser afrouxadas em prol de supostos benefícios econômicos”, afirma Furtado.
🔸 A propósito: o governo do RS reservou R$ 7,6 milhões para a Defesa Civil em 2024. Segundo a ONG Greenpeace Brasil, o montante equivale a R$ 0,70 por habitante e cai para R$ 0,47 per capita quando se trata de prevenção. Embora não exista um índice apropriado definido, como explica o Matinal, cabe ao estado fazer um levantamento prévio das ações prioritárias que exigem recursos – e desde 2015, sabe-se que o RS sofreria com um aumento de 15% das chuvas. Mesmo assim, de acordo com o Serviço Geológico Brasileiro, menos de 15% das cidades gaúchas mapearam suas áreas de risco.
🔸 “Não faz sentido buscar soluções para Porto Alegre no enorme fracasso dos EUA na reconstrução de New Orleans pós-furacão”, escreve a jornalista Marina Amaral, em artigo na Agência Pública. Ela lembra que a consultoria Alvarez & Marsal (A&M), escolhida pelo prefeito Sebastião Melo (MDB) para a reconstrução da capital, é conhecida no Brasil por empregar o ex-juiz Sergio Moro, “depois de lucrar R$ 65 milhões como administradora judicial de empresas alvo da Lava Jato”. Mas mais que isso: o trabalho que a A&M fez em Nova Orleans depois do furacão Katrina é algo de muitas críticas e “deixou como legado a demissão de mais de 7 mil professores de escolas públicas, a privatização da educação e saúde, o acirramento da violência policial e miliciana (o que ameaça acontecer por aqui) e, por fim, o branqueamento da população da cidade”.
🔸 No fim de semana, a ministra Marina Silva defendeu a criação de um novo órgão para comandar o futuro Plano de Prevenção a Desastres Climáticos. A declaração desagradou servidores da carreira ambiental, como apurou O Eco. Desde outubro do ano passado, eles negociam melhores condições de trabalho e aumento de salário. “Reestruturação da carreira ambiental é a maior ação de combate à crise climática. O mais coerente seria reforçar, estruturar e garantir mais orçamento com concursos para os cargos vagos dos órgãos já existentes do que criar mais um órgão”, afirma Cleberson Zavaski, presidente da Associação Nacional dos Servidores da Carreira Especialista em Meio Ambiente (Ascema).
🔸 Em São Paulo, quatro a cada dez pessoas fazem atividades extras para completar a renda. São mais de 4 milhões de trabalhadores que recorrem principalmente aos “bicos” de serviços gerais, como faxinas e reformas. A Periferia em Movimento detalha os números da pesquisa “Viver em São Paulo: Pobreza e Renda”, divulgada pela Rede Nossa São Paulo. O levantamento mostra que, em 87% dos lares paulistanos, a alimentação é o item que mais impacta o orçamento familiar. Em seguida, estão os gastos saúde e as despesas com moradia e aluguel.
📮 Outras histórias
Aprovado em concurso para pessoas com deficiência, Lucas Antonio Ferreira de Oliveira não pode assumir o cargo. Deficiente visual, ele prestou a prova no ano passado, para uma vaga na prefeitura de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Convocado neste ano, não passou na perícia – foi considerado inapto para a vaga justamente pela deficiência, narra o Plural. “O cargo de agente educacional não contempla, em suas atribuições, nenhuma atividade inacessível aos cegos, sobretudo por ser um cargo burocrático e não exigir nenhum trabalho físico”, escreveu ao Ministério Público do Paraná. Ele próprio já é concursado e trabalha na Assistência Social da prefeitura de Contenda. “Exerço meu trabalho com todo apoio e tranquilidade, todo mundo é atendido sem problema nenhum. Não tem justificativa eu não poder assumir o cargo de agente educacional.”
📌 Investigação
O uso de inteligência artificial para criar campanhas desinformativas e manipular a opinião pública, sobretudo nas eleições municipais deste ano, é uma das principais preocupações dos pesquisadores que atuam no campo de tecnologia e desinformação. É o que informa o relatório “Election Integrity in the Digital Age: Online Risks and Recommendations for the Brazilian Municipal Elections” (“Integridade Eleitoral na Era digital: Riscos e Recomendações Online para as Eleições Municipais Brasileiras”), obtido com exclusividade pela Lupa. O documento também aponta que a IA também tem potencial para combater narrativas falsas e recomenda que as plataformas digitais implementem ferramentas avançadas para detectar e sinalizar a desinformação nas eleições.
🍂 Meio ambiente
Criação e fortalecimento da governança climática local, análise de emissões de gases de efeito estufa, avaliação de riscos e vulnerabilidades climáticas e construção colaborativa de ações e metas com base no contexto socioambiental e climático local. Estas são as quatro etapas básicas para a construção de um Plano Local de Ação Climática (PLAC), segundo pesquisadores do ICLEI – uma rede global de governos locais pela sustentabilidade. O Projeto Preserva detalha o passo a passo da elaboração de um documento desse tipo e mostra o que deve ser feito por municípios em curto, médio e longo prazo para a adaptação aos eventos climáticos extremos.
📙 Cultura
“Eu quis tentar fazer um exercício de criação de camadas de sentido para a história, de forma que a interação entre essas camadas pudessem gerar leituras diferentes e pudessem enriquecer a leitura”, afirma a quadrinista Aline Zouvi, sobre sua primeira HQ longa, “Pigmento”. Em entrevista à revista O Grito!, a artista detalha o processo de criação da obra, o uso do universo da tatuagem ligado ao estudo de símbolos pelo psicanalista Carl Jung e a presença de um romance entre mulheres. “É muito difícil separar completamente a história da nossa vivência, mesmo para obras de ficção. Então, com certeza a questão da tatuagem é algo muito pessoal pra mim. Até o fato das personagens serem sáficas, pois é algo que me interessa dar visibilidade a essas personagens.”
🎧 Podcast
Com o poder de moldar crenças, valores e práticas sociais, a cultura é um direito capaz de preservar memórias e identidades coletivas, um elemento que a torna uma ferramenta política. O Manda Notícias recebe o escritor e ativista Luan Luando e a produtora cultural e dançarina Melinka, ambos com uma larga trajetória na luta pela defesa da cultura na zona sul de São Paulo. “Se você olhar a zona sul de 20 anos atrás e agora, tem uma mobilização cultural muito bacana, mas isso está sendo mantido muito arduamente nas costas dos artistas, que não são remunerados”, afirma Luando.
🏃🏾♀️ Esporte
O Brasil vai sediar a Copa do Mundo Feminina de futebol de 2027, a décima edição da competição e a primeira a ser disputada na América do Sul. O anúncio feito pela Fifa na semana passada é um passo importante para a visibilidade do futebol feminino no país dentro e fora de campo. O Nexo conversa com a jornalista e pesquisadora Lu Castro sobre o campeonato. Para ela, é uma oportunidade da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se dedicar de forma mais efetiva no combate ao machismo e LGBTfobia no esporte. “Costumo dizer que o futebol de mulheres no Brasil vive uma eterna briga de puxar a corda. É quase recorrente avançarmos em questões básicas e, na sequência, perdermos pontos importantes dessas conquistas”, afirma.