Os réus dos atos golpistas e um Museu da Memória para o Brasil
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🔸 A extrema direita contra o PL das Fake News. Duas grandes narrativas falsas são coordenadas nas redes sociais por grupos bolsonaristas: uma se baseia na ideia de que o projeto de lei promoveria o monopólio da grande imprensa sobre a comunicação, e a outra defende que “Lula usa tragédias como pretexto para censura”. As duas foram identificadas a partir de publicações no Twitter, WhatsApp, Telegram, Facebook, Instagram, entre outros, por um estudo do Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais (NetLab), da UFRJ. A Agência Pública detalha a pesquisa e conversa com Rose Marie Santini, doutora em Ciência da Informação e uma das autoras do trabalho. Segundo ela, “a extrema direita de alguma forma está alinhada com as big techs por uma desregulamentação”.
🔸 A propósito: o requerimento de urgência da votação do PL das Fake News volta ao Plenário da Câmara amanhã, um ano depois de sua malfadada tentativa de aprovação. Agora, porém, o cenário é mais propício a uma votação, como afirma Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do PL, ao Congresso em Foco: “O viés do atual governo é pró-regulação das redes sociais, o anterior era contrário. Além disso, hoje há a lei dos serviços digitais da União Europeia”. Também o conteúdo do projeto ganhou mais relevância no contexto de agravamento dos discursos de ódio nas plataformas digitais. “Acontecimentos como o 8 de janeiro ou a violência nas escolas alertam a sociedade para os riscos de se manter o modelo legislativo atual”, diz o deputado.
🔸 Já foram substituídos 35% dos funcionários do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Segundo o ministro interino do órgão, Ricardo Cappelli, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu que o processo de renovação seja acelerado, como informa o Metrópoles. Quando voltar de Portugal, Lula irá decidir sobre manter ou não a atual estrutura do GSI, foco de polêmica após gravações de câmeras do Palácio do Planalto mostrarem servidores do órgão dentro do local no dia 8 de janeiro.
🔸 Ainda os ataques golpistas: ontem, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu transformar em réus cem denunciados por participação na invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro. Com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista sobre o assunto, o governo decidiu montar um gabinete de crise no Congresso para acompanhar os trabalhos. Segundo O Antagonista, formado por diversos ministérios, o grupo deverá reunir documentos, escalar membros para apoiar parlamentares e mapear fragilidades nas teses da oposição.
🔸 “Reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o meu Prêmio Camões. Recebo esse prêmio menos como honraria pessoal e mais como desagravo a tantos autores e artistas humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.” Assim disse Chico Buarque ao receber a maior honraria da literatura em língua portuguesa ontem, quatro anos depois de ter sido indicado para o prêmio. A CartaCapital lembra que o escritor e compositor brasileiro venceu o troféu por unanimidade em 2018, mas ainda não havia sido laureado pois Jair Bolsonaro se opôs a assinar o diploma oficial.
📮 Outras histórias
Duas parlamentares do Pará são vítimas de ameaças de morte e ofensas racistas. A Revista Afirmativa relata o que vêm sofrendo Lívia Duarte (PSOL), deputada federal, e Bia Caminha (PT), vereadora de Belém. Os ataques são constantes, conta a primeira, que, na semana passada, recebeu uma ameaça pelo e-mail de trabalho: “Muito criminoso dizendo que eu iria encontrar em breve a Marielle [Franco, vereadora carioca assassinada em 2018]”. A mensagem é semelhante à recebida pela vereadora, que, também por e-mail, leu que seria “eliminada em breve”.
Uma demanda historicamente defendida por grupos de esquerda, a tarifa zero no transporte público entrou no discurso do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Como destaca a Periferia em Movimento, o político busca um marco na gestão para concorrer à reeleição em 2024. O Movimento Passe Livre destaca que “olhar para a proposta de tarifa zero com interesse eleitoral ou como uma política de gestão é, mais uma vez, não olhar para as demandas da população”. Já Elaine Mineiro (PSOL), vereadora pela mandata coletiva Quilombo Periférico, afirma que sua chapa é favorável à medida, mas pondera que é preciso repensar a lógica do transporte na cidade de forma estrutural.
📌 Investigação
Depois das denúncias de trabalho análogo à escravidão, pouca coisa mudou na Serra Gaúcha. A situação na região de Bento Gonçalves (RS), onde foram resgatados mais de 200 trabalhadores em fevereiro, tem um denominador comum – a reforma trabalhista e a lei que liberou a terceirização das atividades-fim, ambas sancionadas pelo ex-presidente Michel Temer (MDB). A Repórter Brasil revela, em parceria com o Headline, que o modo de operação segue o mesmo. Na manhã de 20 de março passado, Aquiles (nome fictício) chegou ao município gaúcho com a esposa sem saber onde trabalhariam: “Quem nos trouxe foi um empreiteiro de colheita”. Trata-se do nome dado a empresas ou indivíduos que ofertam mão de obra às safras, como a Fênix, que prestava serviços para as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton.
🍂 Meio ambiente
Megaempreendimento avança sobre a Área de Proteção Ambiental (APA) de Maricá, no Rio de Janeiro. No centro de uma batalha judicial há mais dez anos, o Projeto Maraey, do grupo espanhol à frente da empresa IDB Brasil, amanheceu no dia 17 de abril com um de seus canteiros de obras em um “embargo simbólico” – um protesto feito por um grupo da comunidade Mata Verde Bonita, onde vivem indígenas Guarani, contra o estabelecimento de um resort na unidade de conservação. Segundo O Eco, além dos indígenas, organizações ambientalistas de defesa à vegetação de restinga da região também alertam que o empreendimento é um risco devido à importância do bioma para a pesca artesanal e para a proteção da biodiversidade local, com presença de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção.
Os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados. A conclusão é do relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM) das Nações Unidas, que também revela que o aumento do nível do mar e o aquecimento dos oceanos atingiram novos patamares inéditos. Um dos alertas emitidos pelo órgão se volta para a multiplicação de eventos climáticos extremos, como secas mais longas, inundações e ondas de calor que ocorreram ao longo do ano passado. O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, afirmou ainda que cerca de cem países atualmente não possuem serviços meteorológicos adequados para que haja avisos prévios de desastres. O Projeto Colabora compila as informações do documento.
📙 Cultura
Margareth Menezes quer que o Brasil tenha um Museu da Memória. A ideia foi defendida durante a viagem com a comitiva do presidente Lula em Portugal, depois de a ministra da Cultura visitar o Museu do Aljube Resistência e Liberdade, em Lisboa, espaço dedicado à memória do combate à ditadura salazarista. A Escotilha analisa como a experiência de vizinhos latino-americanos pode ajudar a construir uma instituição no Brasil que abrigue a defesa da democracia e reúna material associado à resistência durante o período da ditadura. Pesquisador do tema na América Latina, Bruno Silveira Carvalho explica que, no continente, esses museus têm caráter educativo, com o objetivo de estimular a participação popular e a diversidade de pontos de vista.
Sons cubanos marcam a noite de Recife há 30 anos. O Encontro da Família Cubana é uma das festas mais tradicionais da capital pernambucana com ritmos afro-caribenhos e afro-latinoamericanos. O DJ Valdir Português, de 78 anos, comanda o evento há três décadas. Ele lembra que teve o primeiro contato com a música cubana aos 12 anos, na década de 1950, período em que as sonoridades caribenhas começaram a soar nas rádios recifenses. A revista O Grito! mergulha na festa popular e descreve como diversos gêneros de Cuba foram alvo de preconceito. A pesquisadora Maria Lúcia Paulino Mendes conta que o Comando de Caça aos Comunistas, grupo clandestino criado durante a ditadura, invadia os espaços onde se escutavam canções cubanas.
🎧 Podcast
“Enquanto escrevia ‘Torto Arado’, percebi que não daria conta de tudo o que tinha para falar sobre a relação de homens e mulheres com a terra.” O escritor Itamar Vieira Junior lançou recentemente o romance “Salvar O Fogo”, com uma narrativa que chega às margens do rio Paraguaçu, no Recôncavo baiano. O novo episódio do “451 Mhz”, produção da Quatro Cinco Um, conversa com o autor sobre a obra recém-lançada e suas conexões com o premiado título anterior, “Torto Arado”. “O Recôncavo é uma área com forte presença negra. Foi a primeira área a ser colonizada e explorada”, afirma.
🧑🏽🏫 Educação
Poucos jovens das favelas do Rio de Janeiro vão às faculdades. O menor índice de pessoas (com idade entre 18 e 24 anos) que frequentam ou concluíram o ensino superior na capital fluminense é do Complexo do Alemão (3,89%). Embora a comunidade esteja em último lugar, o acesso às universidades também é restrito para moradores de outras favelas. O número não chega a 10% em lugares como Rocinha, Maré, Jacarezinho e Cidade de Deus. Os dados são do Instituto Pereira Passos da Prefeitura do Rio de Janeiro. O Voz das Comunidades informa a taxa de acesso às universidades em 32 regiões administrativas. A média municipal é de 32,6%, e a primeira colocação ficou com o bairro de Botafogo (68,69%), na zona sul da capital fluminense.