As respostas de Lula a Trump e um game com músicas periféricas
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 “A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei.” Esta foi a resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump. O Canal MyNews explica que, nas redes sociais, o republicano afirmou que o Brasil está fazendo uma “coisa horrível” com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), alvo do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da trama golpista. Lula não respondeu apenas nas redes. Durante entrevista coletiva no final da Cúpula de Líderes do Brics, ontem, ele afirmou que Trump deve dar “palpite na sua [própria] vida e não na nossa”.
🔸 Falando em Brics… Lula defendeu ampliar o espaço fiscal para investimentos em saúde, saneamento, alimentação, educação e moradia nos países do Sul Global. O presidente defendeu que “não há direito à saúde sem investimento em condições básicas” e criticou desigualdades que determinam quem adoece e morre. Segundo o Congresso em Foco, Lula anunciou ainda que o Brics lançará uma parceria para eliminar doenças socialmente determinadas, com ações em infraestrutura física e digital, além de uma cooperação regulatória em produtos médicos.
🔸 Famílias que vivem em uma ocupação na Avenida 9 de Julho, no centro de São Paulo, estão há dias nas ruas. São cerca de 150 pessoas, incluindo crianças e idosos, em busca de abrigo desde que a prefeitura interditou o prédio ocupado pelas famílias há oito anos. Depois de um incêndio controlado pelos próprios moradores, autoridades da gestão Ricardo Nunes impediram seu retorno ao prédio, alegando risco. A Ponte informa que, com frio de até 12°C, os moradores montaram barracas sob o viaduto e reclamam da falta de solução habitacional. “É frio, é chuva. Nós recebemos doações, só que o que nós queremos é a nossa moradia de volta porque não tem condição de ficar na rua, dormindo na rua com criança pequena, de 7 meses, 1 ano. Nós queremos a nossa moradia”, disse uma moradora.
🔸 A economia tem sido o principal alvo de críticas ao governo Lula, impulsionadas por desinformação. A recente derrubada do aumento do IOF pelo Congresso alimentou os ataques sistemáticos contra o governo nas redes sociais. A Lupa mostra que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é o principal alvo: desde 2023, mensagens de temas como mudanças no Pix ou a taxação de compras alcançaram 4,1 milhões de usuários no WhatsApp e Telegram. O pico ocorreu em junho, depois do anúncio de medidas compensatórias para substituir o decreto do IOF. Entre os boatos já desmentidos sobre a economia, estão o aumento de auxílio-reclusão, “bolsa-travesti”, o transporte de drogas por Haddad e a cobrança de IPVA para bicicletas.
🔸 Falando em desinformação… Em 2018, o assassinato de Marielle Franco inaugurou a primeira campanha viral de mentiras: a checagem feita na época registrou mais de 1 milhão de visualizações em apenas um fim de semana. No governo Bolsonaro, entre 2019 e 2022, o ex-presidente fez 6.685 declarações falsas ou imprecisas. Já 2022 foi o ano recorde em desinformação eleitoral, com 361 checagens. Em seu aniversário de dez anos, o Aos Fatos aponta os temas principais da desinformação na última década: nesse período, 68,8% das checagens foram sobre política, eleições e saúde.
📮 Outras histórias
Em Curitiba, as famílias de baixa renda enfrentam dificuldade para cuidar de crianças durante as férias escolares. A prefeitura não oferece colônias acessíveis para menores de 12 anos. Na rede municipal, há apenas uma opção neste mês, voltada a adolescentes, por R$ 110 a semana. O Plural conta ainda que as colônias privadas custam de R$ 450 a R$ 550 por semana, preço inviável para muitas famílias. No total, sobram de 31 a 35 dias úteis sem atendimento por ano para crianças pequenas. Embora relevante, o tema não foi foco de nenhuma iniciativa na Câmara Municipal em 2025. O Sesc oferece a alternativa mais barata (R$ 95 a R$ 135), mas as vagas são limitadas. Clubes e museus também ofertam atividades, mas com custos elevados ou restrições de idade.
📌 Investigação
O data center que o TikTok pretende instalar em Caucaia (CE) vai consumir em um dia a mesma quantidade de energia gasta por 2,2 milhões de brasileiros em suas casas. Sozinha, a estrutura gastará mais energia do que 99,9% dos municípios brasileiros. O Intercept Brasil teve acesso com exclusividade ao relatório ambiental simplificado do empreendimento e calculou o consumo de energia. Se fosse uma cidade, o data center ocuparia a sétima posição entre as maiores do país, considerando a média nacional de consumo residencial por habitante, de 2,27 kWh por dia. A estrutura representaria sozinha o equivalente a 3,9% de todo o consumo residencial de São Paulo, 12% de Minas Gerais e 13,9% do Rio de Janeiro.
🍂 Meio ambiente
“É muito importante pensarmos nas mudanças climáticas e olharmos as florestas onde haverá estabilidade climática, onde poderíamos deixar muriquis que, mesmo com as mudanças do clima, elas seriam capazes de manter a espécie ali”, afirma o primatólogo Fabiano Melo, do Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB), organização que há 10 anos atua lidera iniciativas em prol do muriqui-do-norte, o maior primata das Américas. Em entrevista a’O Eco, o pesquisador fala sobre o trabalho de preservação da espécie e o manejo pioneiro como estratégia fundamental para sobrevivência do primata. “O MIB conseguiu fazer com que nós tivéssemos mais projetos em áreas onde os muriquis não eram estudados. Nós melhoramos muito o nível de conhecimento das populações.”
📙 Cultura
Desenvolvido por jovens da periferia de São Paulo, o jogo eletrônico “Music Drive: Chase the Beat” mistura ação e combate veicular com inspiração na cultura hip-hop e na estética urbana brasileira. No game, o jogador assume o controle da dupla Tina, uma pilota sagaz da quebrada, e Tunner, um atirador a sangue frio, em uma missão para recuperar fitas K7 roubadas que guardam músicas inéditas. A Alma Preta destaca que o Music Drive é um projeto cultural e social que busca abrir espaço no universo tecnológico para os talentos das periferias, responsáveis pela programação, animação e designer do jogo. Além de personagens negros como protagonistas, o objetivo da iniciativa é transformar os games em uma plataforma de divulgação da música periférica independente.
🎧 Podcast
Ao mesmo tempo que a Semana de Ação Climática de Londres (London Climate Action Week) pressionou por um roteiro para uma transição energética planejada e justa para erradicar o uso de combustíveis fósseis, a Nova Zelândia tem visto suas políticas sobre o tema se dissolverem, e os Estados Unidos diante de decisões de Donald Trump que podem frear as energias renováveis. O “Las Niñas”, produção da Trovão Mídia, analisa os avanços e impasses nas discussões climáticas a pouco mais de cem dias da COP30, em Belém (PA). O episódio traz ainda a nova carta da presidência da conferência e os impactos do calor extremo na Europa.
👩🏾⚕️ Saúde
Devido à criminalização do aborto, emergências encontram barreiras no acesso ao cuidado em saúde, de acordo com Raquel Lustosa, antropóloga e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética. Segundo o Portal Catarinas, um estudo da organização analisou processos judiciais sobre interrupção de gravidez no Brasil entre 2012 e 2022 e revelou graves violações de direitos contra meninas e mulheres, sobretudo em unidades de saúde. Das 104 denúncias que a origem pôde ser identificada, metade delas partiram de profissionais de saúde, indicando a principal violação encontrada na pesquisa: a quebra de sigilo profissional utilizada como instrumento para processar mulheres por aborto. O sigilo médico é uma responsabilidade prescrita tanto no Código de Ética da profissão como no Código Penal, mas não é respeitado dentro das instituições. “Emergências obstétricas passam a ser tratadas como casos de aborto e de polícia, deixando de ser reconhecidas como demandas de cuidado em saúde”, afirma Lustosa.