A redução das famílias segundo o Censo e as bets nas periferias
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🔸 Num ato com 12 mil pessoas na Avenida Paulista ontem, Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o 8 de janeiro de 2023 foi “um movimento orquestrado pela esquerda” e chamou o processo por tentativa de golpe de Estado de “fumaça de golpe”. Com o slogan “Justiça Já”, contra os julgamentos de bolsonaristas no Supremo Tribunal Federal (STF), a manifestação foi a sexta convocada por Bolsonaro desde que deixou a Presidência da República – e a com menor número de apoiadores, informa o Metrópoles. Ao lado de políticos aliados, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-presidente voltou a criticar o STF e o Tribunal Superior Eleitoral.
🔸 Com famílias menores e mulheres adiando ou abrindo mão da maternidade, o Brasil entrou em uma nova fase da transição demográfica. Resultados do Censo Demográfico 2022 mostram que essa transição, iniciada no fim do século 20, vem se acelerando nos últimos 12 anos. O Congresso em Foco destaca que a taxa de fecundidade caiu para 1,55 filho por mulher, abaixo do nível de reposição populacional (2,1). Em 1980, eram mais de quatro filhos por mulher. A idade média ao ter o primeiro filho subiu de 26 e 27 anos (2010) para 29 anos (2022). O adiamento segue uma tendência mundial: as mulheres passaram a priorizar a educação, a independência financeira e o desenvolvimento profissional antes da maternidade. O Censo mostra que a escolaridade impacta fortemente a fecundidade: mulheres com Ensino Superior têm média de 1,09 filho, enquanto as sem instrução ou com Ensino Fundamental incompleto têm 2,61 filhos.
🔸 Um mapa interativo: o IBGE também divulgou novos dados sobre fluxos migratórios dentro do país. Segundo o Censo, 49,2% da população brasileira mora no mesmo estado em que nasceu. O Nexo mostra, município a município, a distribuição de pessoas nascidas no próprio estado, além de comparações com os censos de 2000 e 2010. As capitais com maior porcentagem de moradores locais são Salvador (94,8%), Belo Horizonte (93,1%) e Fortaleza (92,9%). Já Brasília registra apenas 57,7% de naturais do Distrito Federal. Municípios como Morro do Pilar (MG) e Arroio do Padre (RS) têm quase todos os habitantes nascidos localmente (99,8%).
🔸 “O direito ao voto é o que consolida a cidadania. No caso das pessoas migrantes, é uma forma de reconhecimento político por sua contribuição à sociedade. Elas vivem, trabalham, pagam impostos, participam da vida comunitária – mas continuam excluídas das decisões políticas que afetam diretamente suas vidas”, afirma Paulo Illes, coordenador da Rede Sem Fronteira. Em entrevista ao MigraMundo, ele defende a retomada urgente do debate sobre o direito ao voto para pessoas migrantes no Brasil. Ele considera que, após anos de foco em políticas assistenciais, o momento político atual é propício para avançar na luta por direitos políticos, sobretudo com o histórico de participação social dos governos Lula. Illes destaca a PEC 347, que propõe direito pleno de votar e ser votado em todos os níveis para migrantes com dois anos de residência, critica propostas que limitam o voto apenas ao nível municipal e lembra que em outros países latino-americanos, como Argentina e Paraguai, migrantes já têm direito ao voto nacional.
🔸 Considerada uma pré-COP, a Cúpula do Clima de Bonn terminou sem consensos e expôs desafios que o Brasil enfrentará como anfitrião da COP30 em Belém. Segundo O Eco, a diplomacia brasileira avalia como positivo o saldo do encontro, com progressos em quase todos os 49 itens da agenda. Houve pouco consenso, porém, em temas-chave. É o caso do Balanço Global de Emissões (GST), uma avaliação sobre o estado atual da ação global de enfrentamento às mudanças climáticas. Países como Arábia Saudita, China e Índia emperraram as conversas sobre o tema. Houve avanços na Transição Justa e em Metas de Adaptação, reconhecendo os saberes indígenas como a “melhor ciência”. Mas, para as organizações da sociedade civil, um longo caminho ainda precisa ser percorrido para que a COP30 seja bem sucedida.
📮 Outras histórias
Em quase 60 anos, o Festival de Parintins se firmou na rivalidade entre os bois Garantido e Caprichoso e, a um só tempo, tornou-se um espetáculo de arte que defende a floresta, denuncia sua devastação e enaltece a vida amazônica. O Varadouro lembra que, desde os anos 80, toadas já falavam sobre mudanças climáticas, como em “Maromba” (1988), do Caprichoso, que descreve o impacto das cheias. “Oh, brilho do sol, não deixe os Andes chorar. Não deixe, não. Quando os Andes choram, vai ter cheia grande. Aí, o povo vai penar”, dizia a letra. Em 1989, o Garantido homenageou Chico Mendes, morto no ano anterior. “Sou a árvore, a esperança, sou a estrela maior, sou a própria natureza”, escreveu à época o compositor Fred Góes, 77 anos, nome histórico no festival e na integração dele com a Amazônia. Atual presidente do Garantido, ele ajudou a transformar a festa ao inserir instrumentos de corda e temáticas indígenas e ambientais.
📌 Investigação
Para aumentar o número de apostadores, casas de apostas tentam adentrar as favelas. Além da promoção de eventos nas comunidades e a expansão para o futebol de várzea, as bets têm procurado influenciadores do território para motivar a aposta do público. “Depois da primeira divulgação, eu não quis mais. Pensei duas vezes e fiquei imaginando: um pai de família pode perder o dinheiro do café da manhã dos filhos ou do aluguel em apostas. Porque, querendo ou não, o influenciador influencia”, afirma Joy Santos, morador de Paraisópolis, maior favela de São Paulo. Com vídeos de humor e quase 200 mil seguidores, Joy aceitou fazer uma publicidade de apostas há três anos e, desde então, resiste ao assédio das plataformas. A Agência Mural revela a estratégia das bets para conquistar o público das periferias, ao mesmo tempo que essa população depende da estrutura do SUS para tratar a dependência em jogos – ainda pouco preparado para atuar nesse nicho de transtorno.
🍂 Meio ambiente
“A gente tinha a nossa plantação, mas era pouca coisa, só dava pra gente comer, mas meu pai começou a plantar mandioca pra fazer farinha, porque ele via que vendia bem no mercado de Garanhuns”, diz Pedro da Silva, 71 anos, que, aos 5, já acompanhava a rotina do pai na produção de farinha de mandioca. O trabalho garantiu que a família tivesse melhora na qualidade de vida, com reformas na casa, acesso à educação e segurança alimentar. O Joio e O Trigo narra o cotidiano de agricultores familiares da zona rural de Jupi, no Agreste de Pernambuco, para a produção de farinha. Com 10 hectares de propriedade, a família de Gabriel Souza, vizinho de Pedro, planta feijão, melancia, abacaxi, maracujá e principalmente mandioca. “A gente acabou de colher cinco toneladas”, conta. A mandioca arrancada foi plantada, maniva a maniva, em setembro do ano passado, sem adição de agrotóxicos ou fertilizantes.
📙 Cultura
“Tenho muito orgulho de ser nordestino. Na quadrilha esse orgulho pode ser vivido em arte, e isso é fascinante. É a possibilidade de mostrar ao mundo nossa potência, nossa verdade, nos mostrar como somos e como queremos ser vistos”, afirma Anderson Andrade, diretor artístico da Quadrilha Origem Nordestina. Nascida da adaptação das danças de salão das cortes europeias com elementos de influência indígena e africana, as quadrilhas, fundamentais nas festas juninas do Nordeste, começaram como uma brincadeira de família e hoje reúnem centenas de pessoas. A revista O Grito! narra a história e o poder da força comunitária na construção dessa cultura. “A força do coletivo é o que mais me encanta. É incrível como conseguimos juntar tanta gente diferente em torno de um objetivo, há 30 anos, com espetáculos inéditos e investimento dos próprios quadrilheiros”, conta Leila Nascimento, diretora artística e coreógrafa da Quadrilha Junina Raio de Sol. Ela participa das atividades da iniciativa desde a fundação, em 1996.
🎧 Podcast
Pensada para garantir o acesso de camponeses, povos indígenas e comunidades tradicionais ao Ensino Superior sem abrir mão de seus territórios, a Licenciatura em Educação do Campo enfrenta a lógica do agronegócio, baseada na monocultura e destruição ambiental. A partir das histórias das professoras Magdielly Lima, de Santa Catarina, e Maria Sales, do Maranhão, o “Narrando Utopias”, produção do Portal Catarinas, conta o papel do curso na promoção da agroecologia, na abordagem das mudanças climáticas e no incentivo à justiça social. A formação adotou a pedagogia da alternância, que articula atividades teóricas na universidade e a aplicação dos conhecimentos nos territórios, com desenvolvimento de projetos, diagnósticos e práticas que fortalecem a realidade local.
✊🏾 Direitos humanos
O fim da Cracolândia em São Paulo depende de atuação para além da segurança pública e deve incluir em sua política eixos como assistência social, saúde, trabalho, moradia, combate ao racismo, educação e cultura. É a conclusão do grupo de trabalho da Câmara Municipal de São Paulo que se dedica à região no centro da capital. A Ponte detalha o que diz o relatório lançado na última semana pelo grupo. Segundo o documento, a estratégia de deslocamentos forçados por policiais prejudica o atendimento social das pessoas e cria novas cenas de uso aberto de drogas, já que os usuários voltam a se agrupar em outros espaços. “Relatou-se que há falhas graves de articulação entre serviços públicos de saúde e assistência, fator que agrava a fragmentação do território e impede o trabalho de reinserção social das pessoas com uso problemático de álcool e outras drogas”, informa o texto.