O redesenho dos partidos no Congresso e as facetas de Leminski na Flip
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🔸 Nesta semana, dois movimentos devem redefinir o cenário partidário para 2026. Duas das maiores legendas do Congresso, PP e União Brasil prometem anunciar amanhã a criação da federação União Progressistas, que vai reunir 14 senadores, 109 deputados e mais de 1.300 prefeitos, além de garantir a maior parcela do fundo eleitoral. Segundo o Congresso em Foco, no mesmo dia, PSDB e Podemos devem decidir sobre sua fusão, planejando futuramente uma federação com PSD ou MDB e uma candidatura própria à Presidência, com Eduardo Leite como nome favorito. Já a federação PP-União Brasil deve inicialmente apoiar o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, para presidente em 2026.
🔸 A propósito: o Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro, sofreu a maior redução de bancada na Câmara dos Deputados nesta legislatura. Levantamento do Metrópoles mostra que o partido, que elegeu 99 deputados em 2022 e formou a maior bancada da Casa, hoje conta com 91 parlamentares. Desde o início do mandato, o PL perdeu dez deputados e recebeu apenas dois. As principais baixas foram para partidos do Centrão: três parlamentares migraram para o Republicanos, dois para o PP e um para o MDB. O Republicanos, aliás, foi o que mais cresceu: aumentou sua bancada em cinco deputados,
🔸 Na última semana, o governo entregou ao Congresso a PEC da Segurança Pública, que propõe integrar as forças de segurança via Sistema Único de Segurança Pública (Susp), dar status constitucional às guardas municipais e ampliar o poder da Polícia Rodoviária Federal. Em entrevista à Alma Preta, o historiador e cofundador da Iniciativa Negra, Dudu Ribeiro afirma que a proposta reforça a lógica militarizada da segurança pública no país e ignora a participação da sociedade civil. “É necessário partir da perspectiva de construir mecanismos que evitem os conflitos, que reduzam o fluxo cruzado que recai sobre a população brasileira e que protejam, prioritariamente, a vida”, diz. Para ele, a PEC não enfrenta o sistema prisional e perpetua práticas repressivas, em vez de construir uma cultura de paz. “O inimigo declarado na fundação do Estado brasileiro tem sido a população negra e os povos originários. Corremos, assim, o risco de ampliar ainda mais o aparato de guerra contra essas populações.”
🔸 Falando em segurança pública… a formação de peritos criminais no Brasil é desigual entre os estados, com cargas horárias que variam de 180 a 1.272 horas. Segundo dossiê do Instituto Vladimir Herzog e da Fundação Friedrich Ebert, em muitos casos, as aulas de armamento e tiro têm mais peso que disciplinas de criminalística. A Ponte detalha o documento e explica que os peritos criminais ajudam a coletar provas materiais e evitar injustiças no esclarecimento de crimes. Estados onde a perícia é independente da Polícia Civil, como Paraná e Santa Catarina, oferecem formações mais sólidas e focadas em ciência. Já São Paulo e Minas Gerais priorizam conteúdos policiais. O dossiê defende a criação de um currículo mínimo nacional, treinamento contínuo e a desvinculação dos institutos de perícia das secretarias de segurança pública.
📮 Outras histórias
“Eu nunca imaginaria que estudar no meu quartinho, com violão e clarinete, durante todos esses anos, fosse me trazer uma oportunidade dessas.” Moradora da Rocinha, Mayara Santana se refere à bolsa de estudos que recebeu para estudar na Southeast Missouri State University, nos Estados Unidos. Aos 22 anos, a musicista começou os estudos quando tinha 10 anos, na Escola de Música da Rocinha, projeto na favela da zona sul do Rio de Janeiro. O Fala Roça narra sua história e conta que, para custear a viagem, ela criou uma campanha online. “O que eu mais espero é me enriquecer com essa troca cultural, conhecer pessoas de várias partes do mundo que também estarão lá. Vai ser uma conexão muito maior do que estou acostumada por aqui, algo realmente internacional. Eu amo essa troca.”
📌 Investigação
Galões de agrotóxicos que caíram no rio Tocantins foram encontrados no Pará. Os materiais estavam a 300 km de onde desabou uma ponte que ligava Maranhão e Tocantins, em dezembro de 2024, derrubando três caminhões. Um deles transportava mais de 25 mil litros de pesticidas à base de 2,4-D – altamente tóxico e considerado cancerígeno –, picloram e acetamiprido. A Repórter Brasil mostra que, até o dia 9 de janeiro, apenas 29 dos cerca de 1.300 galões haviam sido retirados pelas equipes do Ibama, da Marinha e do Corpo de Bombeiros do Tocantins. A ação, no entanto, foi paralisada devido ao aumento das chuvas. Embora o rio seja essencial às comunidades locais, o monitoramento das águas só tem sido feito em três pontos, e a análise não é divulgada publicamente desde janeiro.
🍂 Meio ambiente
“Hoje em dia, ser mineiro é enfrentar a mineração. É defender o território, defender as serras, você mesma, a água e os seus”, afirma a comunicadora Carolina de Moura, que relembra o tempo em que era possível caminhar e fazer trilhas na Serra do Curral, em Belo Horizonte. “Foi onde tudo começou. Eu subia a Serra do Curral fazendo trilha. A gente fazia a crista até descer pelo cabo, ou do outro lado. Desde essa época eu já via a mineração lá. A mina Águas Claras é antiga. É uma referência. Essa serra é onde eu despertei.” O Projeto Preserva resgata o vínculo afetivo de moradores de Minas Gerais com a região que tenta resistir à exploração mineral ilegal e aos projetos que pretendem legalizar a destruição do postal belorizontino.
📙 Cultura
“Desde criança o audiovisual faz parte de mim. Sempre fui apaixonado por novelas – me via nelas, me imaginava atuando. Com o tempo, essa paixão foi crescendo, virei pesquisador das artes. Mesmo não tendo formação em cinema, mas sim em artes dramáticas, nunca me vi fazendo outra coisa. Sempre sonhei em atuar, dirigir, escrever minhas próprias histórias”, afirma Matheus Cabral, idealizador e diretor de “Amor é Amor”. O filme narra a história de um jovem gay interiorano que se muda para a capital em busca de novas possibilidades. Em entrevista à Revista Alagoana, o cineasta fala sobre o processo criativo da obra, que se insere em um movimento de abordar a vivência LGBTQIA+ com sensibilidade e profundidade. “O audiovisual me permite contar histórias, mas também criar empatia. Muitos jovens LGBT vão se ver nesse filme, vão se reconhecer.” A estreia está prevista para junho, mês do Orgulho LGBTQIA+.
🎧 Podcast
Um dos poetas brasileiros mais conhecidos, Paulo Leminski é o homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) justamente por sua popularidade, abrindo espaço para conversas mais diversas que vão além de sua obra. “Ele tinha uma postura de fazer com que a literatura chegasse às pessoas, de tirar o encastelamento da poesia como uma coisa difícil, hermética, feita para iniciados, e fazer chegar na camiseta, na pichação de muro”, afirma Ana Lima Cecilio, curadora da Flip. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, ela explica por que escolheu o poeta curitibano e como sua poesia segue viva até hoje, inspirando artistas contemporâneos, devido ao seu estilo próprio, com versos cheios de trocadilhos, ditados populares e gírias.
👩🏽🏫 Educação
Apesar de o Brasil ter mais de 62 mil alunos com alguma deficiência auditiva matriculados na educação básica, existem apenas 64 escolas públicas bilíngues para surdos. Aprender a Língua Brasileiras de Sinais (Libras) como língua principal e ter o ensino das outras disciplinas traduzidos é um direito legal, e o português escrito como segunda língua. O Lunetas destaca que as escolas bilíngues são essenciais para que estudantes surdos desenvolvam suas habilidades e proporcionam uma experiência de convivência entre eles. “A escola bilíngue é muito importante até porque é bastante comum receber alunos surdos com outras deficiências. Ou seja, é uma educação especial dentro da educação especial. Tem um olhar ainda mais sensível para deficiências como o transtorno do espectro autista, paralisia cerebral, síndrome de Down, deficiência mental”, afirma Felipe Venâncio Barbosa, professor de Linguística da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador em Língua de Sinais e Cognição.