A reação ao boicote do Carrefour e a força da ‘bancada do cocar’
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🔸 O boicote do Carrefour às carnes produzidas no Mercosul gerou reações não só de frigoríficos brasileiros, mas também do Congresso. As manifestações são respostas ao CEO global da rede de supermercados, Alexandre Bompard. Na semana passada, ele prometeu interromper a importação de carne de países do Mercosul para as unidades francesas. Ele alega que os agricultores franceses estariam em “desespero” com a proximidade da assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Disse ainda que “a carne [do Mercosul] não atende às exigências e normas” do mercado francês. O Nexo informa que JBS, Marfrig e Masterboi deixaram de fornecer produtos aos supermercados do Carrefour no Brasil. Os frigoríficos têm o apoio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro: “A França compra carne do Brasil há 40 anos, só agora que ele foi detectar isso? Então é um absurdo, ainda mais querer fazer barreira comercial (…) Eu estou feliz com a atitude dos nossos fornecedores”, afirmou.
🔸 Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cobrou retratação e afirmou que vai dar andamento a um projeto de lei de reciprocidade em ações protecionistas no Legislativo. O texto foi apresentado há meses, ainda em abril, e Lira prometeu levá-lo à pauta ainda nesta semana. O Congresso em Foco traz a íntegra do projeto e destaca que a proposta proíbe o Brasil de assinar acordos internacionais que resultem em restrições à exportação de produtos brasileiros, quando os outros países ou blocos signatários não adotarem medidas de proteção ambiental equivalentes.
🔸 Com salário de R$ 35 mil, um dos cinco militares acusados de matar Rubens Paiva na ditadura vive em Brasília e tem a patente de marechal, considerada uma honraria concedida apenas a oficiais do Exército que tiveram “atuação excepcional” em período de guerras. O Metrópoles conta que o general José Antônio Nogueira Belham foi comandante do Destacamento de Operações e Informações (DOI) do 1º Exército, na zona norte do Rio, onde o ex-deputado teria morrido. Paiva “desapareceu” no regime militar e é personagem central do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, interpretado por Selton Mello. Em 2014, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou militares por homicídio e ocultação do cadáver do então deputado, mas o processo não avançou.
🔸 A propósito, em áudio: Quando criança, Jair Bolsonaro invejava os filhos de Rubens Paiva. Eles compravam picolés da Kibon na praça da cidade de Eldorado, onde cresceu o ex-presidente. Mais tarde, quando já era deputado, Bolsonaro deu uma cusparada no busto recém-inaugurado de Rubens Paiva. No “Retrato Narrado”, podcast da revista piauí e da Rádio Novelo, a jornalista Carol Pires descreve como a obsessão do ex-presidente pelo político torturado e morto pela ditadura se estendeu ao longo de décadas.
🔸 O aumento do consumo de ultraprocessados no Brasil gera um custo bilionário aos cofres públicos. O país perde R$ 10,4 bilhões por ano com mortes e doenças agravadas pela ingestão contínua de ultraprocessados. O Joio e O Trigo detalha os dados do mais recente relatório da ACT Promoção da Saúde, organização que trabalha na defesa de políticas de saúde pública. Dos R$ 10,4 bilhões perdidos, R$ 9,2 bilhões se referem à morte prematura de pessoas em idade produtiva, o que leva à redução da força de trabalho, e R$ 1 bilhão é gasto no Sistema Único de Saúde (SUS) com hospitalizações e medicamentos. Em tempo: o consumo de alimentos ultraprocessados aumentou 5,5% na última década, especialmente em regiões mais pobres do país.
📮 Outras histórias
Alagoas é o estado brasileiro onde jovens negros estão em maior risco de assassinato em relação a brancos. Se a taxa nacional de letalidade contra jovens negros é alarmante – de 3,2 mais vezes do que a de jovens brancos –, o índice em Alagoas é muito maior: de 26,9 vezes mais. A Mídia Caeté lembra que os dados fragilizam as frequentes propagandas do governo alagoano sobre a diminuição dos índices de violência no estado. Além disso, não existe um plano de prevenção para mitigar as mortes de jovens negros, e o governo estadual nem sequer aderiu ao Plano Juventude Negra Viva, do Ministério da Igualdade Racial.
📌 Investigação
Descendentes de escravizadores na época dos períodos colonial e imperial, ao menos seis políticos em exercício fazem parte de clãs familiares que controlam e influenciam politicamente suas regiões há 200 anos. O Projeto Escravizadores, especial da Agência Pública, revela que a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), e os senadores Cid Gomes (PSB-CE), Ciro Nogueira (PP-PI), Efraim Filho (União Brasil-PB), Tereza Cristina (PP-MS) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) vêm de famílias antigas com representantes na política local e nacional. O levantamento destrincha os documentos históricos que apontam essa relação.
🍂 Meio ambiente
A um ano da COP30, na Amazônia, o governo de Rondônia reduz a participação social nas políticas climáticas. A Secretaria de Desenvolvimento Ambiental aboliu o Conselho Gestor do Fundo Estadual de Governança Climática (FunClima) e concedeu a si própria toda a autonomia para decidir como aplicar os R$ 4 milhões atualmente em caixa. O Varadouro explica que a decisão traz riscos de retrocessos, falta de transparência e insegurança jurídica na gestão das políticas públicas direcionadas ao enfrentamento das mudanças climáticas no estado.
📙 Cultura
A música e a poesia são um caminho do Quilombo do Abacatal, na Região Metropolitana de Belém, no Pará, para reivindicar seus direitos. Nas batidas da banda Toró-Açu, estão a origem e as heranças culturais da comunidade, que ainda luta para acessar direitos básicos. “O Toró-Açu é uma banda que carrega vários sentimentos, uma ferramenta de luta principalmente para dar visibilidade a todas as violências, violação dos direitos humanos e racismo ambiental que acontece no território e [mostrar] como diariamente os moradores do Abacatal, infelizmente, precisam estar em luta”, conta Elis Tarcila, integrante do grupo. A Amazônia Latitude resgata a história do quilombo, que conta com mais de 500 moradores, às margens do Igarapé Uriboquinha, um dos braços do rio Guamá.
🎧 Podcast
A “bancada do cocar”, frente parlamentar formada por mulheres indígenas no Congresso a partir das eleições de 2022, representa a luta de mais de 1,7 milhão de indígenas no Brasil e inspira que mulheres de diversas etnias ocupem espaços de poder. A série “Mulheres de Luta: do Território ao Parlamento”, do “Guilhotina”, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil, narra as trajetórias de Jackeline Tukano (Rede-AM), eleita neste ano vereadora de São Gabriel da Cachoeira (AM), e Marinete Xakriabá, ex-presidente da Associação Indígena Xakriabá Aldeia Riacho do Buritis e Adjacências (Aixarba), que atua pela preservação da cultura e do meio ambiente no Cerrado.
👩🏾🏫 Educação
Após 21 anos da promulgação da lei que torna obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas, foi feito o primeiro “Diagnóstico de Monitoramento de Equidade Racial na Educação” pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), do Ministério da Educação (MEC). A ferramenta, voltada para a observação de como a legislação vem sendo implementada, obteve participação de todas as secretarias estaduais de Educação e de 97,8% dos órgãos da rede municipal. O Porvir destaca que a necessidade de formação contínua da equipe escolar sobre educação antirracista é uma das principais considerações levantadas pelo diagnóstico.