O rascunho golpista e os milhões no cartão corporativo de Bolsonaro
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Uma minuta de um decreto para anular o resultado das eleições foi encontrada na casa de Anderson Torres, aliado de Jair Bolsonaro (PL) e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. O documento foi apreendido pela Polícia Federal ao cumprir mandado na residência de Torres, que também teve a prisão decretada após os ataques criminosos em Brasília no último domingo. O rascunho de teor golpista escrito à mão por ele, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro, seria usado para instaurar estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um instrumento para casos extremos de instabilidade ou calamidade pública. O Congresso em Foco informa que o objetivo do documento seria investigar hipotéticos casos de abuso de poder, suspeição de medidas ilegais da presidência do TSE antes, durante e depois do processo eleitoral.
🔸 Vai se fechando o cerco em torno dos financiadores dos crimes nos Três Poderes. A Advocacia-Geral da União (AGU) identificou e pediu o bloqueio de bens de pelo menos 52 pessoas e sete empresas que atuaram no financiamento de transportes dos criminosos que atacaram a Praça dos Três Poderes. O valor do bloqueio é de R$ 6,5 milhões, que poderiam ser usados para reparar os estragos no Congresso Nacional, no Supremo Tribunal Federal e no Palácio do Planalto. O Metrópoles lista os nomes dos alvos do pedido da AGU.
🔸 “Estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse, porque não tem porta quebrada. Ou seja, significa que alguém facilitou a entrada deles aqui.” O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vê conivência da Polícia Militar nos atentados em Brasília. Além de relembrar a relação dos militares com a democracia, o Nexo ouve especialistas que apontam para o envolvimento deles na situação atual. Para a especialista em Justiça Militar, a cientista política Erika Kubik, “houve conivência de toda a cadeia de comando com a manutenção dos acampamentos e com tudo o que foi acontecendo ao longo do tempo”. Como saída, ela defende, para além da responsabilização no campo jurídico, que o governo Lula desfaça a militarização estabelecida no “espaço da política”, exonerando os milhares de militares em cargos de governo.
🔸 Mais de R$ 62 mil num só dia na mesma lanchonete. O gasto aparece no cartão corporativo de Bolsonaro. Dados como este eram mantidos em sigilo pelo ex-presidente e começam a vir a público agora. No especial “Caixa-preta do Bolsonaro”, a Agência Pública detalha a fatura do cartão, que é pago com dinheiro público. No dia dos gastos na lanchonete, 15 de abril de 2022, Bolsonaro comandava a segunda edição da motociata “Acelera para Cristo”, que cumpriu trajeto entre São Paulo e Americana, a 130 km da capital. Ainda no especial, outra reportagem mostra que foram pagos mais de R$ 13 milhões em hospedagens durante o mandato do ex-capitão. Os gastos eram solicitados pela imprensa há anos e foram agora divulgados pelo governo Lula.
🔸 Garantir a ocupação de pelo menos 30% de negros nos mais altos postos do funcionalismo público. A ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, quer aprovar um decreto com esse objetivo, mirando os chamados cargos de confiança do governo. Em entrevista à Alma Preta, ela afirma que, além de novas políticas afirmativas voltadas para a população negra olhar para questões atuais, não abandonará pautas históricas como a segurança pública dos negros e vai propor uma revisão da Lei de Cotas. “Queremos garantir e fortalecer a lei de Ensino Superior. Eu sou fruto desta lei desde 2012, quando entrei na UERJ e agora o nosso papel é fortalecer. Ela vai ser revisada, enquanto política, mas a lei vai seguir vigente”, diz a ministra.
📮 Outras histórias
Mais de 150 famílias ficaram desabrigadas em Curitiba. Elas viviam na ocupação Povo Sem Medo e foram alvo de uma ação de reintegração de posse pela Polícia Militar do Paraná. A operação ocorreu na terça pela manhã, e os moradores passaram quase um dia sem ter para onde ir até que, na madrugada de quarta-feira, conseguiram espaços para se abrigar em garagens, vans, quartos emprestados e outras cinco ocupações da capital paranaense. O Plural explica que as equipes da Fundação de Ação Social (FAS) deram apenas uma alternativa à população: as famílias tinham a opção de ir para o acolhimento, mas seriam separadas. Foi então que organizações da sociedade civil se articularam para que as famílias não ficassem nas ruas.
📌 Investigação
Na ausência de Bolsonaro, a Jovem Pan assumiu o papel de definir os discursos adotados por bolsonaristas para atentar contra o resultado das eleições e as instituições democráticas. O Aos Fatos apurou que a emissora antecipou as justificativas que seriam usadas pelos golpistas para os ataques aos prédios dos Três Poderes em Brasília. No momento da invasão, apenas a empresa tinha repórteres para cobrir o episódio e permaneceu entre os criminosos até depois das 18h no domingo, com imagens exclusivas, enquanto jornalistas de diversos veículos foram agredidos e tiveram os equipamentos roubados.
🍂 Meio ambiente
Considerado peça-chave dos atos golpistas, Ramiro Alves Da Rocha Cruz Junior, conhecido como Ramiro dos Caminhoneiros, publicou nota negando ter fornecido milhares de ônibus para levar bolsonaristas a Brasília e apontou que seria o “Maggi, empresário do AGRO (sic) da Amazônia” que forneceria 3 mil ônibus”. O InfoAmazonia lembra que Alípio Maggi, citado na nota de Ramiro, é primo de Blairo Maggi, produtor de soja, ex-senador e ex-ministro da Agricultura nos governos Lula e Temer. Alípio, por sua vez, é sócio da Maggi Alimentos Agroindustrial.
O rompimento da barragem de rejeitos da mina do Córrego do Feijão em janeiro de 2019 em Brumadinho (MG) liberou 12 milhões de metros cúbicos de lama, composta especialmente por minério de ferro, no ambiente. O material chegou até o Rio Paraopeba, cuja bacia abastece a maior parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A revista piauí conta que estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), publicado na revista científica “Science of the Total Environment”, descobriu que as bactérias presentes no Paraopeba, quatro meses após a tragédia, tornaram-se mais resistentes a vários antibióticos utilizados para tratar infecções em humanos.
📙 Cultura
A Unesco, órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), anunciou ontem que apoiará o governo federal no processo de reparação do patrimônio depredado no domingo. Representante da entidade no país, Marlova Noleto afirma que serão convocados profissionais brasileiros especialistas na reconstrução de obras de arte, móveis e das construções físicas. O Notícia Preta relata que se formou uma força-tarefa no Ministério da Cultura para concluir as demandas relacionadas ao reparo do patrimônio destruído.
A partir da fotografia, das artes visuais, da escultura e da performance, arte e saúde mental estão conectadas há bastante tempo – basta lembrar de Van Gogh no século 19. No entanto, a psiquiatra Silvana Ferreira aponta, em artigo publicado na “Revista Observatório Itaú Cultural", que o tema voltou a ter destaque no século 21. Para refletir sobre os mundos e linhas entre arte e saúde mental, o Nonada traz oito trabalhos artísticos que bebem nessa fonte, seja atravessando a vida dos próprios retratados, a exemplo da fotógrafa Isabella Lanave, ou como pesquisa e reflexão histórica, social e política a partir da psicanálise e da arte, tal qual a escritora Grada Kilomba.
🎧 Podcast
A editora Maria Stockler Carvalhosa ganhou na loteria. Existem menos de 200 cães-guia, enquanto são 6 milhões de pessoas com deficiência visual severa no Brasil. Poucos têm a oportunidade de conseguir um cachorro treinado, isso porque o processo precisa conferir também a compatibilidade de personalidade e estilo de vida da pessoa e do animal. No novo episódio do Rádio Novelo Apresenta, produção da Rádio Novelo, ela narra a história que mudou sua vida: quando recebeu a notícia do Instituto Magnus de que havia sido selecionada para viver com Café, um labrador treinado.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Essa é uma das principais características do extremismo de direita. Você não tem uma hierarquia e não há quase nunca uma filiação formal a um grupo terrorista ou com uma organização extremista. É fluido. Há muitas pessoas que se radicalizaram que saíram do anonimato por meio das redes, das plataformas. E elas foram aumentando essa radicalização, criando um público, e a cada vez que elas postam algo radical, ganham muitos likes e muitos PIX, porque também tem a parte financeira do negócio do extremismo.” Em entrevista ao Canal Meio, a pesquisadora Michele Prado, autora de “Tempestade Ideológica”, afirma que Bolsonaro é “um avatar desse amálgama de correntes extremistas e radicais de direita que formaram a nova direita brasileira” e que poderá ser substituído por outro líder ainda mais radical, e defende a produção de “contra-narrativas eficazes, para resgatar de volta as pessoas para o campo democrático”.