A rainha, os tratores e as ofensas às candidatas
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Após sete décadas de reinado, morreu ontem a rainha Elizabeth II, aos 96 anos. Quando a monarca mais longeva do Reino Unido foi coroada, o império britânico tinha mais de 70 territórios no mundo. O Notícia Preta lembrou um episódio de racismo dentro da monarquia comandada por ela. Em 2021, Meghan Markle, companheira do Príncipe Harry, revelou no programa de Oprah Winfrey que sofreu preconceito por ser uma mulher afro-americana. Segundo a atriz, os nobres se ‘preocuparam’ com a cor da pele de seu filho, o ‘quão escura’ seria.
🔸 Quem bancou o desfile de tratores em Brasília no 7 de Setembro? São produtores rurais, grandes empresários de maquinários agrícolas e representantes de sindicatos regionais do agro. A Agência Pública identificou quem são os proprietários de 24 dos 28 veículos que participaram do evento e investiram de R$ 4 mil a R$ 15 mil para garantir a presença de suas colheitadeiras e tratores no desfile, apropriado por Bolsonaro como um ato de campanha.
🔸 No máximo, uma multa. É o mais realista a se esperar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em resposta às ações que questionam o uso feito por Bolsonaro da máquina pública no 7 de Setembro para impulsionar sua campanha. Como escreve Felipe Recondo, em artigo no Jota, “qualquer expectativa de decisão de maior impacto sobre a campanha de Bolsonaro parece irreal, especialmente a semanas do primeiro turno das eleições”.
🔸 Em menos de um mês, R$ 30 milhões foram gastos por candidatos para impulsionar conteúdos nas redes sociais. O Núcleo no Observatório de Impulsionamento Eleitoral analisou dados do TSE e mostra ainda que despesas de candidatos que incluem Facebook na descrição ou como fornecedor já somam R$19 milhões na campanha – 65% do total.
🔸 O combo branquitude e misoginia: candidatos homens brancos têm uma média de bens estimados em R$ 2,1 milhões, a maior entre os grupos segmentados por gênero e raça. O Alma Preta mostra que esse valor é nove vezes superior à média do que declaram as mulheres pretas (R$ 222 mil). O valor mais baixo é o declarado pelas mulheres indígenas, com R$ 181 mil.
📌 Investigação
Louca, doida, maluca, desequilibrada, histérica e descontrolada. Foram 518 aparições de termos do tipo em referência às candidatas nas redes sociais, só na primeira semana de campanha. Os dados foram compilados pelo MonitorA 2022, projeto da revista AzMina em parceria com InternetLab e Núcleo Jornalismo, para monitorar o discurso de ódio contra candidatas. No Twitter, também na primeira semana de campanha, foram 4,5 mil ataques e/ou insultos a 97 mulheres que disputam as eleições deste ano. A revista AzMina detalha os dados e mostra que a histórica atribuição de estereótipos de loucura e histeria segue como uma das principais ferramentas de tentativas de controle sexista.
📮 Outras histórias
Na periferia de São Paulo, jovens eleitores nutrem expectativas quanto às propostas de educação dos candidatos. A Agência Mural conversou com adolescentes em Pirituba, Perus, Jaraguá e outras regiões periféricas da capital para ouvir o que eles esperam. Atividades extracurriculares e melhora da infraestrutura das escolas estão no radar.
Fome (e solidariedade) em Curitiba. As filas para receber as Marmitas da Terra, distribuídas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Curitiba, só aumentam. O Plural narra um dia da distribuição de alimentos do projeto que começou em abril de 2020 e atingiu ontem a marca de 151 mil marmitas partilhadas.
📋 Checagem
Grandes estrelas no show de boatos das eleições, as urnas eletrônicas são usadas desde 2002. De lá para cá, foram 10 eleições totalmente automatizadas, sem nenhum indício comprovado de fraude. Depois de produzir, além de reportagens, 168 checagens de boatos envolvendo o equipamento, a Lupa explica desde o teste de integridade, na véspera das eleições, até como elas funcionam depois do pleito.
🍂 Meio ambiente
Enquanto a Amazônia queima… O Ibama usou apenas 37% do orçamento autorizado para a prevenção e controle de incêndios na floresta em 2022. O dado coincide com o fato de o número de queimadas em agosto passado ter sido o pior em 11 anos. O Eco mostra também que o Ibama gastou menos recursos ainda quando se trata das verbas destinadas para fiscalização ambiental. Até anteontem, o órgão havia usado 32% dos mais de R$ 175 milhões autorizados para essa finalidade.
E o fogo deve aumentar em setembro, período crítico de incêndios no Brasil. As comunidades tradicionais são as que melhor sabem do comportamento dos incêndios e usam estratégias que guiam o chamado Manejo Integrado do Fogo (MIF). Um programa piloto do MIF no Parque Nacional da Chapada das Mesas, no Parque Estadual do Jalapão e na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, em 2014, diminuiu até 57% da área queimada por incêndios, em três anos. A Agência Envolverde discorre sobre a importância de transformar tais estratégias em política pública.
📙 Cultura
“Há uma escassez de trabalhos audiovisuais de indígenas com narrativas construídas, filmadas e trabalhadas pelos próprios indígenas, e isso é necessário para aparecer no meio artístico nacional, que é um ambiente extremamente colonial e anti-indígena”, afirma a cantora e compositora Kaê Guajajara. A Revista O Grito entrevistou a artista, que acaba de lançar o primeiro álbum visual estrelado por uma indígena.
🎧 Podcast
Um mundo mais quente é um desastre para o agronegócio – e a conta já começou a chegar. Produção da Trovão Mídia, o episódio “Prato do dia: agro ao forno”, do podcast A Terra é Redonda (mesmo), apresenta os desafios para se plantar e comer em meio à emergência climática.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Como os candidatos à Presidência tratam temas como fome e alimentação? Enquanto Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet têm consenso sobre o fortalecimento da agricultura familiar com crédito, compras públicas e estoques reguladores, Bolsonaro cita a palavra “fome” em seu programa apenas uma vez. Reportagem d'O Joio e o Trigo detalha o que está nos planos de governo de cada um dos candidatos.
E a cultura? Como aparece nos programas dos presidenciáveis? O Le Monde Diplomatique Brasil responde. Ciro não menciona o drama do setor cultural brasileiro, mas faz propostas específicas, como a recriação do Ministério da Cultura. Lula coloca a cultura no mesmo patamar que os direitos humanos e propõe a implantação do Sistema Nacional de Cultura. Segundo o Le Monde Diplomatique, o programa de Bolsonaro para a cultura é “meramente protocolar”.