O racismo contra Vini Jr e o consumo das drogas K
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 “Eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui.” O desabafo de Vinícius Jr no Twitter veio depois de ele ser alvo de ofensas racistas pela décima vez em jogo na Espanha. O atleta do Real Madrid ouviu da torcida do Valencia gritos de “negro de merda” e “macaco” e, como informa o Nexo, deu sinais de que pode deixar o país: “Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender”. Carlo Ancelotti, técnico do time, exigiu providências da Liga, e o ministério da Igualdade Racial já afirmou que vai notificar o governo espanhol sobre o episódio.
🔸 Do presidente Lula sobre o caso: “Não é possível que quase no meio do século 21 tenhamos preconceito racial ganhando força em estádio de futebol na Europa. Não é justo que um menino pobre, que venceu na vida, que está se transformando em um dos melhores jogadores do mundo, certamente é o melhor do Real Madrid, é ofendido em cada estádio que ele comparece”. O Esporte News Mundo traz a íntegra da fala de Lula, realizada em coletiva após o encontro com o G7, no Japão.
🔸 Depois de cassar Deltan Dallagnol (Podemos-PR), o Tribunal Superior Eleitoral se volta para Jair Bolsonaro (PL), “com um julgamento que tem tudo para terminar com a retirada, por oito anos, do direito de o ex-presidente voltar a disputar eleição”, como escreve o repórter André Barrocal, em artigo na CartaCapital. A ação é movida pelo PDT desde agosto de 2020, quando a legenda acusou Bolsonaro de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação para pregar contra o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas. Nos bastidores da Corte, “hoje é uma derrota de Bolsonaro por 5 a 2”.
🔸 O caso Marielle Franco: policiais civis do Rio de Janeiro fizeram manobras no inquérito a fim de levar a investigação a caminhos sem saída e também para induzir ao erro, como apurou Guilherme Amado, colunista do Metrópoles. Os achados são da força-tarefa da Polícia Federal que começou a atuar no caso em março deste ano, a pedido do ministro da Justiça, Flávio Dino. Desde o assassinato da vereadora carioca em 14 de março de 2018, cinco delegados da Polícia Civil passaram pelo caso.
🔸 Desde que vieram à tona as denúncias de assédio sexual e moral contra Marcius Melhem, ex-diretor do núcleo de humor da Globo, a emissora sustentou que sua demissão havia ocorrido por “comum acordo”, como comunicou em nota em agosto de 2020. Agora, a revista piauí teve acesso a um documento, de janeiro de 2022, em que a Globo aparece “caminhando sobre o fio da navalha”, nas palavras do jornalista João Batista Jr. “A demissão de Melhem nunca foi fruto de ‘comum acordo’, mas a consequência punitiva dos achados na investigação – e não afirma, em nenhum momento, que o assédio não foi provado.” O repórter narra ainda outro caso dentro da emissora.
🔸 Os algoritmos nas redes sociais ajudam bolsonaristas no debate do PL das Fake News. A política de “bad words” – listas de palavras adotadas pelas plataformas cujo entendimento é de que possam representar uma violação aos termos de uso – é o principal fator. O Congresso em Foco explica que, como o termo “fake news” é listado como uma palavra nociva, as buscas e postagens sobre o PL acabam atingidas. Se o apoiadores do projeto de lei se referem a ele como “PL das Fake News”, os opositores o denominam “PL da Censura”. “É algo muito mais profundo do que um debate apenas sobre fake news. É um projeto que envolve debates sobre as plataformas, sobre os papéis dos algoritmos nas redes sociais. É algo muito mais complexo do que a forma com que o debate vem se desenvolvendo até aqui”, afirma Pedro Barciela, especialista em monitoramento de redes com foco em política.
📮 Outras histórias
“Por trás do discurso de modernização, teve efeitos bem marcados de uma higienização racial dos espaços que eram centrais e valorizados da cidade.” A afirmação é da pesquisadora Vitória Kramer de Oliveira, que investigou os planos urbanísticos de Porto Alegre (RS) a partir de 1914. A pesquisa revela principalmente o processo de embranquecimento da capital gaúcha. Ao Sul21 Vitória relata que esse apagamento físico da memória negra é também um símbolo. “É bem simbólico falar de cultura, de patrimônio, do samba que acontecia na Ilhota [localizada em partes dos atuais bairros centrais Cidade Baixa, Menino Deus e Azenha], de todas as manifestações culturais que aconteciam na cidade e, de um momento para outro, vieram abaixo”, diz.
📌 Investigação
Se depender do portfólio da BlackRock no Brasil, o planeta vai colapsar. Essa é a maior gestora de fundos do mundo, que se vende como mentora de uma revolução em que o mercado financeiro caminhará para a sustentabilidade e baixo carbono. Suas diretrizes para Norte e Sul globais, porém, são bem diferentes. O Joio e O Trigo revela que a carteira de investimentos da BlackRock no país atualmente levaria o planeta a um aumento de temperatura superior a três graus – o necessário para evitar o colapso global é 1,5ºC, segundo a Organização das Nações Unidas. O fundo brasileiro apresenta indicadores piores em praticamente todos os quesitos elencados pela própria empresa, em comparação com os maiores fundos da BlackRock nos Estados Unidos e na Europa. A maior corporação no portfólio da gestora no Brasil é a Vale, mineradora envolvida em grandes desastres socioambientais.
🍂 Meio ambiente
O que resta da Mata Atlântica está vulnerável pelo efeito dominó. O desmatamento no sul da Bahia altera o ecossistema floresta adentro, com árvores mais baixas e finas, com espaços mais abertos, mais quente e com menor produção e qualidade de frutos. A consequência é a simplificação das cadeias, como o avanço de populações de espécies generalistas de habitat (aquelas com menores exigências). Segundo O Eco, um estudo da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), na Bahia, assinado por 15 pesquisadores e publicado na revista científica “Biological Conservation” mostra como a perda florestal mudou a estrutura, composição e funcionamento das áreas remanescentes da Mata Atlântica.
Jaulas vazias ou com apenas um único animal solitário: esta é a situação do minizoológico do Parque 13 de Maio, no Recife (PE). A Marco Zero visitou o local, que, embora esteja limpo, com água e alimento, é desconfortável: em uma das jaulas há um pavão sozinho, porque perdeu a companheira há alguns anos. Em outra, pequenos patos, sem nenhuma mãe à vista. Há também galinhas amontoadas e enjauladas. Movimentos de defesa dos direitos dos animais pedem há décadas que eles sejam retirados do centro da cidade. “São animais silvestres obrigados a viver em uma área urbana, com grande movimentação de ônibus, carros e pessoas. À noite, animais diurnos não conseguem dormir por conta da claridade da luz dos postes, do barulho dos carros. Há poluição sonora e ambiental.”, denuncia o ambientalista Marcelo Tabosa, da Associação de Defesa de Meio Ambiente de Pernambuco (Adema-PE).
📙 Cultura
A Cinemateca Brasileira exibe pela primeira vez mais de 40 filmes recém-digitalizados. A mostra “Cinelimite” resgata o cinema feito por pessoas LGBTQIA+, racializadas e mulheres, além de produções realizadas fora do eixo Rio-São Paulo. O Le Monde Diplomatique Brasil lembra que a iniciativa busca enfrentar a realidade da história do cinema brasileiro – sem uma política de Estado voltada para a preservação e a restauração, inúmeros rolos de filme se perdem a cada ano, principalmente os produzidos por grupos minoritários. “Nosso objetivo com esse programa é chamar atenção para o fato de que mulheres cineastas sempre estiveram aí fazendo filmes, a nossa história só não deu conta, esqueceu ou negligenciou muitas delas”, afirma Matheus Pestana, diretor associado da Cinelimite. As sessões vão até o dia 28 de maio na sede da Cinemateca, em São Paulo.
Gênero musical brasileiro mais ouvido no exterior em 2022, o funk carioca é fonte de renda e lazer nas favelas. No conjunto da Maré, que abrange 16 favelas na zona norte do Rio de Janeiro, os bailes funks, que acontecem desde a década de 1980, fazem parte da economia das comunidades. Já em 2009, o ritmo gerava mais de R$ 10 milhões por mês para o estado do Rio, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Maré de Notícias narra sua importância cultural, mesmo que ainda seja criminalizado. “O funk segue sendo perseguido pelo Estado, apesar de algumas iniciativas de incentivo e valorização já estarem ocorrendo. Em geral, ele é tratado com violência, como caso de polícia e não como movimento cultural. O mais interessante nisso tudo é como a favela resiste”, explica Taisa Machado, diretora artística do #estudeofunk, programa desenvolvido pela Fundição Progresso.
🎧 Podcast
Para gerar vitalidade e bem-estar, a opoterapia ganhou o Brasil no começo do século 20. O suposto tratamento foi idealizado pelo médico legista brasileiro Leonídio Ribeiro, que acreditava estar trabalhando para “regenerar a raça humana”. O “Ciência Suja”, produção da Rádio Guarda-Chuva, explica como essa prática eugênica se tornou popular na época e utilizava pessoas LGBTQIA+, mulheres que não se enquadravam nos costumes e indivíduos pobres como cobaias de experimentos com inúmeros tipos de tecido animal. Até mesmo crianças poderiam ser tratadas para “prevenir pecados”. Leonídio chegou a ser elogiado pelo ditador italiano fascista Benito Mussolini pelo método.
🧑🏽⚕️ Saúde
Aumentou o número de casos de intoxicação pelas drogas K em São Paulo. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foram registradas 245 ocorrências suspeitas apenas nos primeiros meses deste ano. Durante o ano todo de 2022, foram 98. Batizada de K2, K4, K9, e spice, a substância ficou conhecida erroneamente como “maconha sintética”. Ao contrário da maconha natural, os canabinóides sintéticos podem evoluir para uma overdose e intoxicação aguda. Psicóloga no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Caps IJ) Piração, no Jardim Novo Horizonte, no Grajaú, extremo sul da capital paulista, Gabriela Galvão relata o aumento recente de adolescentes que chegam à unidade com problemas causados pela droga, mas alerta para a estigmatização dos usuários. A Periferia em Movimento reúne informações sobre redução de danos e quais serviços procurar.