O racismo na polícia de SP e as crianças da Amazônia sob risco climático
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Guilherme Dias dos Santos Ferreira corria para alcançar o ônibus quando foi alvejado na cabeça por um policial militar na zona sul de São Paulo. Na última sexta-feira, o jovem negro de 26 anos havia terminado o expediente e pegaria a condução de volta para casa. Levava consigo apenas uma marmita, talheres, uma bíblia e o uniforme de trabalho. O policial Fábio Anderson Pereira de Almeida, que disparou contra ele, estava de folga e, segundo a Secretaria de Segurança Pública, reagiu a uma tentativa de assalto: foi abordado por um grupo que tentou levar sua moto e disparou contra Guilherme. Segundo o Notícia Preta, o policial foi preso em flagrante por homicídio culposo – e solto depois de pagar fiança de R$ 6.500. Vai responder em liberdade. Ontem, a Polícia Militar de São Paulo o afastou de suas funções.
🔸 A morte do jovem reabriu o debate sobre o impeachment de Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo. A Alma Preta informa que deputados do PSOL reforçaram o pedido protocolado em dezembro de 2024 por 26 parlamentares, que acusam Derrite de omissão diante do aumento da letalidade policial e dos abusos cometidos por policiais nos últimos dois anos. Em nota, o Ministério da Igualdade Racial destacou o racismo sistêmico nas abordagens policiais: “É recorrente que, quando a pessoa é negra, objetos como um guarda-chuva sejam erroneamente identificados como fuzil, ou um celular seja confundido com uma arma, ou que alguém correndo, independentemente do motivo, seja automaticamente considerado uma ameaça, resultando em disparos antes mesmo de qualquer averiguação adequada”.
🔸 A propósito: enquanto a letalidade policial em SP cresce mês a mês, a secretaria de Derrite repete a mesma nota para a imprensa: “A Polícia Militar ressalta que é uma instituição legalista e não compactua com desvios de conduta de seus agentes”. Foi essa a resposta do órgão quando procurado para comentar o fato de maio de 2025 ter sido o mais letal dos últimos cinco anos. Em artigo na Ponte, Jessica Santos questiona: “Se estão as duas instituições [PM e secretaria] cumprindo seu papel, por que ainda noticiamos PMs matando jovens e crianças e batendo em idosas? E não só isso: todo mês vem um novo aumento desses casos”. Ela lembra que, em 2026, completam-se 20 anos dos Crimes de Maio, quando 425 pessoas foram mortas em SP, e destaca que 64% dos mortos pela PM em SP são negros, repetindo mensalmente o padrão de jovens periféricos como alvos.
🔸 No Rio Grande do Sul, um adolescente de 16 anos entrou numa escola munido de uma faca, invadiu uma sala de aula e atacou alunos e a professora. Uma criança de 9 anos morreu. O caso aconteceu no município de Estação, que tem cerca de seis mil habitantes. O Sul21 conta que o adolescente entrou no local com a justificativa de que iria entregar um currículo e usou bombinhas para assustar alunos pouco antes do ataque. Algumas crianças fugiram pelo portão da escola. A Prefeitura de Estação suspendeu as aulas da rede municipal por tempo indeterminado. Este é o segundo caso de violência escolar no estado em 2025.
📮 Outras histórias
Em tempos de São João, o termo “forró” foi o mais buscado na internet em seis dos nove estados do Nordeste. É o que mostra levantamento da Agência Tatu que comparou os termos “forró”, “funk”, “sertanejo” e “samba” nas buscas do YouTube Brasil, entre os dias 30 de maio e 30 de junho. Ceará e Bahia foram os estados que registraram os maiores percentuais de busca pelo gênero musical que movimenta as festas de São João. Mas em Pernambuco, Alagoas e Maranhão, o funk superou o forró. “O funk, seus artistas e público parecem estar mais ‘presentes’ e/ou conectados em certas plataformas digitais como o YouTube. Por outro lado, tradicionalmente, o forró tem uma sazonalidade muito específica dessa época do ano no Nordeste, devido às festas juninas (o que traz interesse do público pelo gênero), mas que não necessariamente se converte em interesse nas plataformas”, avalia Victor Pires, professor da Universidade Federal de Alagoas e especialista em estudos da música e plataformização da cultura.
📌 Investigação
Na Amazônia, um quarto da população que vive em áreas de risco de eventos hidrogeológicos, como inundação, alagamentos, deslizamentos e erosão, tem menos de 14 anos, revela a InfoAmazonia, na série “Vulneráveis do Clima”, em parceria com Voz da Terra. As crianças são vulneráveis às mudanças climáticas não apenas pelos desastres em si, mas pelas consequências ao desenvolvimento infantil, como a evasão escolar, a insegurança alimentar e os efeitos psicológicos. “Foi muito assustador. Eu estava com medo da canoa virar”, conta Gabriel Felipe, de 11 anos, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA). Quando o rio transborda, é preciso ir à escola de canoa, situação que o deixa em pânico. Neste ano, por causa da cheia do rio Madeira, em Porto Velho (RO), Gabriel não foi às aulas por dias.
🍂 Meio ambiente
Marco de uma década de esforços para diminuir o uso de pesticidas e promover a agricultura sustentável, o lançamento do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara) na semana passada ainda representa um passo pequeno diante da resistência da indústria do agro à política. Em 2024, por exemplo, a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária negou novamente a incorporação do Pronara ao Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), o que atrasou o lançamento até este ano. A Repórter Brasil explica que, embora o decreto presidencial seja essencial para a política ambiental e de saúde pública, na mesma semana, o governo concedeu 115 novos registros de agrotóxicos, além de garantir isenções fiscais bilionárias concedidas ao setor de defensivos agrícolas.
📙 Cultura
“A gente tenta tirar os adolescentes das ruas, das drogas, e trazer pro grupo. Através do boi, eles aprendem percussão, cenografia, a fazer figurino, a se apresentar. O que antes era só uma brincadeira de rua, hoje virou uma formação. A gente forma músicos, artistas, pessoas que querem aprender e crescer”, afirma Durval Neto, idealizador do Boi Anaconda, quando ainda era pré-adolescente. O projeto nasceu em 2002 com um grupo de adolescentes da periferia de Maceió como forma de ocupar as ruas com arte e pertencimento a partir do bumba meu boi, uma das expressões mais conhecidas da cultura popular nordestina. Em entrevista à Revista Alagoana, ele relembra as origens do grupo, o papel da iniciativa atualmente e os desafios para manter a brincadeira viva. “Hoje em dia a gente tem um pouco mais de apoio. Mas é tudo muito caro. Fazer boi hoje virou uma coisa muito profissional. A gente paga a pessoa que fica embaixo do boi, paga os músicos, paga quem trabalha na estrutura, na decoração. É um investimento grande.”
🎧 Podcast
“Tem uma relação super próxima entre o que acontece na internet e o que acontece fora dela.” Pesquisadora e autora do livro “Misoginia na Internet”, Mariana Valente explica como os conteúdos misóginos ganharam terreno fértil nas redes sociais e têm alcançado um público cada vez maior nos últimos anos. No “Fio da Meada”, produção da Rádio Novelo, a pesquisadora analisa como a arquitetura das plataformas ajuda a disseminar esse tipo de conteúdo e a lucrar com a misoginia: “Elas não estão só armazenando o conteúdo do usuário e disponibilizando. Elas têm ações próprias, e essas ações se expressam nas arquiteturas, nos algoritmos de recomendação e nas formas de monetização. Na maioria das vezes, era uma ferramenta nativa do próprio YouTube. O anúncio e o programa de parcerias fazem os criadores ganharem dinheiro diretamente do YouTube. Em outros casos, eram vendas de produtos, venda de cursos, possibilidade de doação”.
📲 Tecnologia
O ChatGPT é o aplicativo que registra a maior receita mensal nas lojas de aplicativos App Store e Google Play no Brasil pelo terceiro mês consecutivo. Segundo a estimativa feita pela AppMagic, o app de inteligência artificial faturou US$ 5,2 milhões no país apenas em junho. O Brasil é o sexto país que mais gera receita para o ChatGPT nas lojas de apps, atrás de Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, Alemanha e Suíça. No ranking mundial, a plataforma ficou em terceiro lugar no mês passado, perdendo para o TikTok e o Google One. O Mobile Time destaca que os números levam em conta somente receitas que passam pelo billing das referidas lojas de aplicativos – em geral, assinatura das versões premium.