O racismo contra mulheres nas redes e a seca para os indígenas no AM
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🔸 As mulheres são a maior parte das vítimas de racismo na internet. Entre 2010 e 2022, elas foram quase 60% dos alvos nas redes sociais. No mesmo período, as vítimas masculinas correspondem a 18,29% dos casos, e 23,17% não têm gênero identificado, ou seja, o alvo é uma coletividade, e não um indivíduo. Os dados integram a pesquisa "Racismo e Injúria Racial Praticados nas Redes Sociais", coordenada pela Faculdade Baiana de Direito, Jusbrasil e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O Notícia Preta ressalta que as mulheres negras recebem insultos que remetem à sexualidade, higiene e estética com maior frequência do que os homens negros. As ofensas direcionadas a eles, por sua vez, focam na inferiorização social.
🔸 Numa semana marcada pela violência das milícias, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), teve a segurança ampliada, depois de a inteligência da Polícia Civil identificar um plano de atentado contra ele e sua família. A CartaCapital informa que os responsáveis seriam os milicianos do Bonde do Zinho, como é conhecido Luiz Antônio da Silva Braga. Ele é tio de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, morto pela polícia na segunda-feira, o que motivou, em resposta, um incêndio de 35 ônibus e um trem na capital.
🔸 Nas redes: as milícias controlam 74,2% das áreas ocupadas por grupos armados no Rio. Mas esse controle não é recente. No Instagram, o Instituto Fogo Cruzado traz o mapa histórico das milícias na cidade, criado pela organização em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI/UFF). Hoje, três em cada quatro áreas controladas por criminosos no Rio estão sob o domínio de milicianos.
🔸 Em áudio: o Rio de Janeiro é um território em disputa e, para entendê-lo, é preciso mergulhar na história da criminalidade carioca. Um dos principais pesquisadores do tema, Bruno Paes Manso, jornalista e doutor em Ciência Política pela USP, escreveu “A República das Milícias”, livro lançado pela editora Todavia em 2020 e adaptado para podcast pela Globoplay em 2021, com produção da Rádio Novelo. Em oito episódios, Paes Manso apresenta um glossário do crime no Rio de Janeiro enquanto investiga a fundo suas raízes, mas não só: o autor e narrador expõe o poder da violência e do dinheiro no Brasil.
📮 Outras histórias
Débora Carla de Melo trabalhou durante oito anos para fazer da casa onde mora o que sempre quis. Aos 34 anos, ela enfim conseguiu criar um lar confortável e seguro para os dois filhos, de 11 meses e de 10 anos. Agora, porém, terá de deixar a própria casa: ela mora na comunidade Beira Rio, em Recife, que integra o projeto Rio Pina, da prefeitura da capital pernambucana. Parte dos moradores foi realocada para um conjunto habitacional. Débora, não. A Marco Zero conta que seus documentos foram perdidos ao longo do processo duas vezes. “Onde eu vou morar com um auxílio de R$ 300? E, outra coisa, sobrou apartamento. Tô pagando por um erro que não é meu”, afirma.
📌 Investigação
A licença de operação do porto de Itaituba (PA) mantido pela gigante do agronegócio Cargill venceu em abril de 2022 e teve prorrogação automática pelo governo do Pará sem a análise técnica da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). O empreendimento funciona na margem direita do Tapajós, um dos mais importantes rios da Amazônia brasileira. A Repórter Brasil revela ainda que a empresa não cumpriu obrigações impostas, como a realização de um estudo de impacto sobre os indígenas Munduruku, que possuem terras na área de influência do terminal. Os moradores da região também denunciam que a violência aumentou com o porto, inclusive o abuso sexual de crianças.
🍂 Meio ambiente
Com o nível mais baixo do Rio Negro em mais de cem anos, os indígenas do Amazonas sofrem com a escassez de suprimentos e com a fumaça das queimadas, além de ficarem isolados em um cenário que parece um deserto. A InfoAmazonia explica que as comunidades utilizam travessias por água para chegar ao médico e à escola, buscar recursos financeiros, visitar parentes e para se alimentar – atividades afetadas pela atual situação da vazante. “Aqui nós somos mais de 3 mil pessoas, 400 e poucas famílias. Estamos sobrevivendo, com dificuldades para beber água e respirar”, conta Tuniel Mura, vice-conselheiro da aldeia Murutinga, do povo Mura.
Quilombolas e indígenas de 26 comunidades do Pará convivem há duas décadas com conflitos causados pelo mineroduto mantido da Paragominas, do grupo da multinacional norueguesa Norsk Hydro. A Defensoria Pública ajuizou uma ação contra a empresa e o governo estadual por uma série de irregularidades no licenciamento ambiental, incluindo a não consulta prévia garantida pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo a Alma Preta, moradores do quilombo Nova Betel denunciam que a companhia adentrou a propriedade com maquinários e que um igarapé teve a proteção rompida em razão da obra. A comunidade nem sequer está no plano de emergência apresentado pela empresa no licenciamento de 2011.
📙 Cultura
O tombamento de quilombos e terreiros pode ser uma estratégia contra o avanço de conflitos fundiários nos territórios, como especulação imobiliária, grilagem e expansão agropecuária. Segundo a legislação brasileira, esses locais podem ser tombados desde 1937, sendo reconhecidos e preservados como patrimônio cultural. O Nonada destaca, porém, que apenas duas das 3.638 comunidades quilombolas reconhecidas são oficialmente tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), incluindo o Quilombo dos Palmares. Entre todos os terreiros do país, atualmente, apenas 11 são considerados patrimônio cultural.
Dois nomes do modernismo brasileiro, Mário de Andrade e Rodrigo Melo Franco de Andrade trocavam cartas desde o final dos anos 1920 em que compartilhavam discussões sobre a preservação do patrimônio cultural brasileiro. A Quatro Cinco Um resenha a obra “Mário de Andrade/Rodrigo M. F. de Andrade: Correspondência Anotada”, material organizado por Maria de Andrade e comenta o teor do trabalho conjunto dos dois escritores na participação do projeto que seria o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), que mais tarde se tornaria o atual Iphan.
🎧 Podcast
“Vejo território como o lugar onde a gente se reconhece e reconhece os nossos. É importante pela conexão que você faz com as pessoas”, afirma Rose Dorea, ao lado de Gabriela Graça. As duas são mulheres periféricas que lutam para fomentar a arte, a cultura e a comunicação existentes na zona sul de São Paulo por meio de eventos, saraus e atividades. O Manda Notícias recebe as duas para narrar suas trajetórias nas quebradas da região e o papel de resistência da cultura nesses locais.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“As mulheres são rotineiramente envergonhadas e punidas por expressar desejo sexual e porque o desejo nem sempre está prontamente acessível para nós.” A escritora britânica Katherine Angel é especialista em História da Psiquiatria e Sexualidade e acaba de publicar no Brasil o livro “Amanhã o Sexo Será Bom Novamente”, em que analisa que as relações sexuais são atravessadas por dinâmicas de poder. Ao Portal Catarinas ela aponta que a obra questiona as noções liberais de consentimento e explica que o sexo consentido também pode ser doloroso, humilhante, perturbador ou simplesmente ruim. “O sexo é uma área de vulnerabilidade e risco para qualquer pessoa”, diz.