O racismo ambiental na sede da COP30 e os roubos no Museu Britânico
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🔸 Uma das maiores favelas de palafitas da América Latina, a Vila da Barca, em Belém (PA), já sofre o impacto da COP30, a Conferência do Clima das Nações Unidas, marcada para novembro, na capital do Pará. A comunidade é vizinha de bairros ricos da cidade. É o caso do Reduto, às margens do canal da Doca, onde os apartamentos chegam a R$ 13 milhões. Segundo a Alma Preta, as obras de modernização do local são a aposta do governo estadual para o megaevento. Mas quem ficará com a conta é a favela: o esgoto do comércio e das residências do bairro nobre será despejado na Vila da Barca, que já sofre com a falta de saneamento básico e de água potável. Os entulhos das obras já vêm sendo descartados na comunidade, e os moradores reclamam do aumento de poeira, de doenças respiratórias e da proliferação de pragas. “O que a gente está vivendo na Vila da Barca é um caso de racismo ambiental”, denuncia Suane Barreirinhas, liderança da comunidade.
🔸 Falando em COP30… Depois de conferências anteriores em países com restrições a protestos, lideranças amazônicas e movimentos sociais se articulam para garantir a participação da sociedade civil na conferência em Belém. A Sumaúma ouviu diplomatas dos povos da floresta que defendem “amazonizar” a agenda global e mudar a dinâmica de forças das mesas de negociação. As lideranças contam que a Cúpula dos Povos pretende reunir cerca de 30 mil pessoas na programação paralela à oficial. Povos indígenas reivindicam maior espaço na governança climática, enquanto a COP das Baixadas busca dar visibilidade às periferias de Belém. O desafio em comum é evitar que a Amazônia seja um mero cenário e garantir que os “sem-parte” tenham voz real no evento.
🔸 Quando envolverem deepfake, os crimes de violência psicológica contra mulheres terão pena maior. É o que diz o projeto de lei aprovado ontem pelo Senado. De autoria de Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o PL 370/2024 prevê que a pena será ampliada pela metade caso o crime seja cometido com o uso de inteligência artificial ou tecnologia para alterar imagem ou som da vítima. O Mobile Time destaca que a proposta, que agora segue para sanção presidencial, foi motivada pelo aumento de casos de deepfake com conteúdo sexual. Outro projeto, o PL 38/2024, em tramitação no Senado, busca punir o compartilhamento de material manipulado por IA.
🔸 O Banco Central elevou a taxa Selic para 14,25% ao ano, mesmo nível registrado em 2016, no governo Dilma Rousseff. Mas os cenários econômicos daquele momento e de agora são diferentes. O Nexo explica que a decisão busca conter a inflação, que está em 5,06% em 12 meses, acima da meta de 4,5%. O Brasil teve crescimento de 3,4% em 2024, impulsionado pelo consumo das famílias e pelos setores de indústria e serviços. O Banco Central teme pressões inflacionárias devido ao aquecimento da economia e incertezas externas, como a guerra comercial causada por Donald Trump.
📮 Outras histórias
“Há um ano e três meses, me senti acolhida como se tivesse encontrado um espaço de cuidado, proteção e apoio, não apenas emocional, mas também afetivo.” Blandina Neder, de 64 anos, fala sobre o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) III Maria do Socorro Santos, na Rocinha. A unidade na favela da zona sul do Rio de Janeiro atende mais de 700 pessoas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O Fala Roça conversa com pacientes e profissionais de saúde mental sobre os desafios do trabalho. “A convivência com os usuários, moradores da Rocinha e suas famílias é a parte mais gratificante. No entanto, lidar com a burocracia e os números é desafiador”, diz Thiago Ferreira, diretor da unidade.
📌 Investigação
A Via Direta Telecomunicações, revendedora brasileira da Starlink – empresa de Elon Musk –, fechou contratos milionários com o governo do Amazonas e consegue, aos poucos, estender e aumentar o valor desses acordos. Nos primeiros meses deste ano, o estado alterou um contrato de R$ 42,9 milhões 34 vezes. A Agência Pública revela que a Via Direta já havia conseguido ao menos 27 alterações num terceiro contrato de mais de R$ 18 milhões, assinado em 2015. O Tribunal de Contas do Estado já havia indicado “suspeita de ilegalidades” no termo, que também foi alvo de uma ação civil de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal do Amazonas em 2020. O dono da empresa é conhecido da política amazonense: Ronaldo Lázaro Tiradentes, ex-deputado estadual do Amazonas (PPR), ex-secretário de Comunicação do governo de Amazonino Mendes (PPR) e dono do grupo de rádio e TV Tiradentes.
🍂 Meio ambiente
Desde o começo do ano, pesquisadores do Projeto Tamar registraram ataques de cães a nove tartarugas marinhas no litoral do Sergipe, principal área de desova da tartaruga-oliva no Brasil, espécie ameaçada de extinção. Todas morreram. Segundo o Conexão Planeta, as fêmeas estão em época de desova e ficam altamente vulneráveis. Os ataques ocorrem durante a noite por cães abandonados e domésticos, cujos tutores ainda não foram identificados. Um dos principais desafios é a destinação de animais de rua. Na costa sergipana, acontecem cerca de 8 mil desovas por ano, com o nascimento de 600 mil filhotes de tartarugas marinhas. Estima-se, porém, que a cada mil filhotes nascidos, apenas um ou dois chegam à idade adulta.
📙 Cultura
Em meio às pressões para que devolva os artefatos roubados de outros países, o Museu Britânico também lida com roubos internos: durante anos o curador Peter Higgs teria furtado centenas de objetos do acervo da instituição. A revista piauí conta que o caso só veio à tona pelos esforços do colecionador e negociante de antiguidades dinamarquês Ittai Gradel. Por meio do eBay, Gradel se deparou com várias peças que reconheceu como parte do acervo do Museu Britânico e iniciou uma investigação própria. No fim de 2023, a instituição publicou os resultados de uma análise interna e anunciou que toda a sua coleção passaria por uma nova documentação e digitalização para “eliminar quaisquer bolsões de objetos não registrados”. Dos cerca de 2 mil objetos desaparecidos ou danificados, cerca de 600 foram recuperados até agora – a maioria deles com a ajuda de Gradel.
🎧 Podcast
A partir do blog que mantém desde 2010 como um espaço de experimentação literária, a poeta, escritora e professora de teoria literária Paloma Vidal lançou o livro “Lugares Onde Eu Não Estou”, que reúne poemas e textos em prosa publicados originalmente entre 2010 e 2017 e reflete a escrita como uma “obra em progresso”. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, a autora fala sobre as diferenças entre o ato de escrever no espaço virtual e em uma publicação impressa. “O blog tem essa coisa meio pública, meio privada. Sei que tudo que coloco ali pode ter um leitor, mas ao mesmo tempo, é um espaço mais íntimo, que não depende de uma mediação editorial”, conta.
✊🏽 Direitos humanos
“A privatização da água e do esgoto tem sido objeto de muita crítica por várias razões. Não só no Brasil, mas em várias partes do mundo, muitos acadêmicos têm discutido os riscos da privatização, por exemplo, para cumprir com a obrigação dos direitos humanos à água e ao saneamento”, afirma Leo Heller, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Minas Gerais e ex-relator da ONU para Águas e Saneamento. Em entrevista à Marco Zero, o especialista critica o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nesse processo. “Quando se privatiza, as empresas investem muito pouco com recursos próprios. Quando elas investem, investem com recursos das tarifas pagas pelos usuários. Ou de empréstimos dos bancos públicos, muitas vezes empréstimos subsidiados. Então, o BNDES tem também cumprido esse papel de financiar as empresas privadas com juros baixos, o que me parece uma distorção.”
https://fritzfreud.substack.com/p/cop30-open-letter-to-ambassador-andre