O racismo ambiental na infância e uma rede de influência pró-vapes
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🔸 Em 2023, empregadores flagrados com trabalhadores em situação análoga à escravidão pagaram uma média de R$ 4.115,89 por pessoa escravizada em verbas rescisórias. O valor da violação dos direitos humanos e da negação à dignidade humana equivale a um pouco mais de três salários mínimos, como revela o Intercept Brasil. Além da rescisão, os trabalhadores resgatados têm direito a três parcelas de seguro-desemprego, pagos pelo Ministério do Trabalho, no valor de um salário mínimo. “Por que esses trabalhadores têm que ter como base dos seus direitos um salário mínimo?”, questiona Gildásio Silva Meireles. Ele foi submetido a condições degradantes de trabalho em uma fazenda no Maranhão, em 2005. Segundo os dados do Ministério do Trabalho e Emprego, a agropecuária é a atividade econômica com mais casos de resgate de trabalhadores em situação análoga à escravidão.
🔸 A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou ontem que a Meta suspenda a coleta de dados de publicações de brasileiros no Facebook e no Instagram com o objetivo de treinar modelos de inteligência artificial. Segundo o Aos Fatos, o órgão indicou que as medidas aplicadas à empresa também poderão ser aplicadas a outras big techs. “A LGPD não é contrária à inteligência artificial, não é uma lei anti-inovação. O que nós desejamos é uma inovação responsável, com respeito aos direitos”, afirmou a diretora da ANPD, Miriam Wimm. A autarquia afirmou ainda que a Meta já foi informada sobre a decisão e tem cinco dias úteis para demonstrar que suspendeu o uso de dados para o treinamento de IA.
🔸 Durante a tragédia climática no Rio Grande do Sul, crianças foram expostas com a circulação de suas imagens nas redes sociais tidas como “Desaparecido (a)”. A situação gerou ainda mais pânico em um contexto já desolador e nem sempre correspondia à realidade, o que atrapalhou a atuação da Defensoria Pública do Estado. “Todas as famílias que buscavam por suas crianças faziam um cadastro junto ao Conselho Tutelar e essa lista era compartilhada entre as instituições. A partir daí, se promoviam buscas ativas pelos abrigos da cidade e das cidades vizinhas”, explica a defensora Paula Simões Dutra de Oliveira, dirigente do Núcleo de Defesa da Criança e do Adolescente, ao Sul21. “Os casos de crianças que não tiveram seus familiares/representantes encontrados foram muito reduzidos. A demanda foi muito mais no sentido de busca por crianças do que crianças desaparecidas.”
🔸 O racismo ambiental é um obstáculo para o desenvolvimento de crianças negras na primeira infância. É o que mostra pesquisa recente da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. Entre as crianças de 0 a 6 anos no país, 7,2 milhões (35%) não têm acesso à rede de esgoto, sendo 64% delas negras. Cerca de 618 mil pessoas (3%) não têm acesso à água canalizada, 81% desse público é formado por crianças negras. A Alma Preta explica que essa condição, somada ao contexto de insegurança alimentar, pode levar a um maior risco de “doenças evitáveis, desnutrição crônica, mortalidade infantil, e atrasos no desenvolvimento emocional, cognitivo e de linguagem durante esta etapa da vida que vai até os seis anos de idade”.
📮 Outras histórias
Dono de uma venda no Poço da Panela, zona norte de Recife (PE), Vital José de Barros, o Seu Vital, de 84 anos, não tem wifi, nem WhatsApp e nem mesmo Pix, mas a maioria dos moradores da região o considera quase como uma figura folclórica e frequenta seu comércio. Além de receber os músicos da banda Regente Joaquim há 18 anos para o forró, a venda também foi palco do nascimento de um bloco de Carnaval. A Marco Zero narra a história de Seu Vital, entrelaçada ao ambiente, considerado um oásis de outros tempos. “Ele é o ponto central do Poço, tudo gira ao redor dele. É a coisa mais importante que existe ali, acho que mais do que a igreja porque a frequência das pessoas lá diariamente e no forró é muito grande. É impressionante e resiste ao tempo”, afirma o artista plástico Cavani Rosas.
📌 Investigação
A empresa paraguaia Agatres ignorou a legislação brasileira e criou uma rede de influência com artistas, modelos e páginas de festas no Instagram, no TikTok e no YouTube para promover sua marca de cigarros eletrônicos, a Nikbar. O Núcleo identificou que os vapes da empresa foram divulgados pelo cantor de funk Kevinho, o trapper Kawe, os sertanejos Zé Felipe e Matheuzinho e pelo menos outros 25 influenciadores. A reportagem também encontrou 12 festas que foram patrocinadas pela Nikbar e tiveram desde sorteio do produto até a distribuição de cigarros eletrônicos, além de dois podcasts e cinco videoclipes de trap que fizeram o posicionamento da marca.
🍂 Meio ambiente
Iniciativas de restauração de corais ainda não possuem eficácia comprovada. É o que afirma Miguel Mies, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) e coordenador do Projeto Coral Vivo. O Correio Sabiá ressalta que, segundo Mies, é necessário investir no desenvolvimento de pesquisas sobre práticas de restauração para avançar nesse campo de conhecimento, mas com testes em ambiente controlado para evitar impactos negativos ao meio ambiente, ao contrário do que propõe um processo utilizado em larga escala no Havaí. “Não houve até agora um único programa de restauração com sucesso. E se [o programa] não for bem feito pode até contribuir para impactos [negativos]”, explica.
📙 Cultura
“Os municípios têm que ter biblioteca, mas também tem que ter bibliotecário. Tem que ter museus com museólogos, e com profissionais específicos dentro dos espaços culturais. Ter uma expertise instalada dentro das secretarias de cultura é fundamental para a gente”, afirma Deryk Santana, diretor de Políticas Para os Trabalhadores da Cultura, sobre a estruturação dos órgãos de gestão da cultura em todo o país. Ao Nonada ele fala também sobre a elaboração do Novo Estatuto do Trabalho para incluir mais trabalhadores culturais, grupo que tem se mobilizado por direitos trabalhistas e previdenciários. A pasta está desenvolvendo uma pesquisa com o IPEA para atualizar a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), do Ministério do Trabalho e Emprego, para gerar dados mais precisos sobre a atuação dos profissionais do setor.
🎧 Podcast
Os moradores do território quilombola de Gurupá, no interior do Pará, quebram a cabeça para entender a linguagem e termos usados por empresas que comercializam o ar e prometem muito dinheiro às comunidades – que precisam abrir mão de seus modos de vida tradicionais em seus territórios. O “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, traz algumas cláusulas dos contratos utilizados por empresas do mercado de carbono e questionamentos sobre o que acontece se uma comunidade, que tem direito coletivo ao território, quebrar os acordos, feitos sem a inclusão de órgãos públicos.
🏃🏽♀️ Esporte
Enquanto pessoas trans enfrentam regras restritivas para competir em diversos campeonatos, iniciativas tentam aproximar crianças trans do esporte com um ambiente mais acolhedor, em que possam participar e se desenvolver sem a discriminação. O Colabora detalha a participação infantil sem distinção de gênero e lembra que os argumentos para banir pessoas trans de diversas modalidades não estão baseados em evidências científicas. “É importante quando o esporte inclui pessoas ditas fora do padrão, já que ele é excludente de modo geral, por separar o feminino do masculino, como se as pessoas não fossem únicas e excepcionais por elas mesmas”, afirma Juliana Araújo, mãe de Elis, que participa das atividades do IMBB, organização de futebol voltada para pessoas trans e travestis.