A queda da superfície de água no país e o antifeminismo nas igrejas
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🔸 A superfície de água no Brasil diminuiu 4% em 2023. A queda ocorreu em dez estados, e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são os dois onde a perda foi maior. Já a Amazônia, que abriga 62% da água do país, sofreu uma seca severa, com redução de 3,3 milhões de hectares. O Projeto Preserva detalha os dados do MapBiomas Água, que reúne informações de 1985 a 2023, e mostra o que está acontecendo em cada bioma brasileiro.O pampa gaúcho, por exemplo, teve em 2023 a menor superfície de água nos reservatórios: 40% abaixo da média.
🔸 O Pantanal foi o bioma que mais secou ao longo da série histórica. A superfície úmida ficou 61% abaixo da média em 2023. Ao Projeto Colabora Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, explica os três fatores que vêm tornando trágica a situação hídrica do Pantanal: “A corrente de água que vem da Amazônia, os chamados rios voadores, está diminuindo por causa do desmatamento na região. Outro problema é que no planalto, no entorno do Pantanal, muitas áreas estão sendo convertidas em pastagem ou em campos de soja. E isso aumentou muito o assoreamento da Bacia do Paraguai, porque está vindo muito sedimento. Tanto que o Pantanal está ficando mais raso. E tem um terceiro problema que é a destruição do pasto natural para ser substituído pelo pasto plantado”.
🔸 Para combater os incêndios no Pantanal, o governo enviou aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) ao bioma. Para especialistas, porém, a ação poderia ter começado antes, inclusive como forma de prevenção. Diversas organizações alertaram, ainda no começo do ano, sobre os riscos das queimadas no mês de junho. O SOS Pantanal, por exemplo, divulgou em fevereiro que 2024 poderia ser o ano mais seco da história do bioma. O Nexo conversa com especialistas para contar o que poderia ter sido feito para não chegar ao estágio atual. Gustavo Figueirôa, biólogo e diretor de comunicação do SOS Pantanal, avalia que faltaram ações de prevenção no começo de 2024: “Queimas controladas, aberturas de aceiros, coletas de ponto de água. [Essas medidas] não evitariam o fogo, mas o cenário de alastramento maior”.
🔸 Enquanto o Pantanal queima, o Rio Grande do Sul ainda tenta se recuperar do recente desastre climático. Nas comunidades pobres do estado, a situação segue dramática, como mostra o Intercept Brasil. Porto Alegre tem cerca de 2 mil desabrigados, com 41 abrigos disponíveis. O bairro do Sarandi, zona norte da capital, foi o mais atingido da cidade, com 26.042 pessoas afetadas. “A grande maioria do Sarandi é a periferia. Este povo se reconstruir sozinho diante de tamanha destruição é praticamente impossível. Só vamos conseguir fazer isso se estivermos juntos, já que a omissão do governo é um fato. Não se tem um olhar fixo do estado pelo Sarandi”, afirma o líder do Quilombo dos Machado, Luis Machado.
📮 Outras histórias
As mulheres rendeiras de Alagoas fazem viver a tradição do bordado de filé. À beira das Lagoas Manguaba e Mundaú, elas usam fios coloridos amarrados em nós que lembram redes de pesca. As “filezeiras” alagoanas têm como marca a escolha por cores vibrantes, inspiradas no viço das casas, dos barcos e dos figurinos das manifestações folclóricas regionais. O Nós, Mulheres da Periferia descreve o trabalho e reúne imagens do bordado que é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do país e também uma importante fonte de renda para as comunidades do Complexo Estuarino das Lagoas Mundaú-Manguaba, envolvendo 15 mil rendeiras, principalmente em Maceió.
📌 Investigação
Menos de meio por cento das pessoas presas no Nordeste estão em cursos do Ensino Superior, mesmo que a educação seja uma das ferramentas de ressocialização mais eficazes. A Agência Tatu destrincha as histórias de detentos que conseguiram acessar a universidade após a prisão. Atualmente em regime semiaberto, J.F.S, de 31 anos, estuda Direito presencialmente em uma faculdade particular de Maceió (AL), um desejo que surgiu durante o cárcere. Ele conta que a decisão pelo curso foi resultado da maneira como entrou no sistema prisional, ao afirmar ter sido preso injustamente. “Nasceu em mim o desejo de lutar pelas pessoas inocentes que se encontram dentro do presídio. Não são poucos os casos de presos que estão lá dentro sem ser os culpados pelos crimes que lhes são imputados”, relata.
🍂 Meio ambiente
“Nem todo resultado das mudanças climáticas é um evento extremo como a gente está vendo no Rio Grande do Sul. Grande parte dos efeitos mais dramáticos não acontecem de uma hora para outra, mas sim lentamente”, afirma o oceanógrafo José Angel Perez, pesquisador da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e autor de um artigo publicado na última semana na revista científica “Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology”. Segundo a Agência Bori, o estudo de Perez analisa os potenciais impactos da crise climática no litoral de Santa Catarina, onde a elevação do nível do mar pode agravar a erosão em praias e causar a perda de biodiversidade em ecossistemas costeiros. A produtividade da pesca, setor importante da economia catarinense, também pode diminuir nesse cenário.
📙 Cultura
Com 287 mil novos postos de trabalho em 2023, a Economia da Cultura e das Indústrias Criativas fechou o ano com 7,8 milhões de trabalhadores ativos. Este foi o maior número de cargos gerados no setor desde 2012. Os dados foram compilados pelo Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do IBGE. O Nonada detalha as informações, que também mostram que, apesar do crescimento geral, o setor editorial apresentou uma queda de 20%, especificamente no que se refere a profissionais criativos, como escritores, editores e revisores. Outro dado significativo foi o aumento da informalidade, que cresceu 5% no mercado da economia criativa, enquanto na economia brasileira em geral a taxa foi de 3%.
🎧 Podcast
“Beber com moderação” e “beber com consciência” não são a mesma coisa. É o que afirmam Monica de Bolle, economista e imunologista brasileira que estudou o consumo de álcool, e Laura Cury, da ACT, ONG voltada à defesa de políticas de saúde pública. O mesacast do “Ciência Suja”, produção da NAV Reportagens, debate a mobilização da indústria do álcool para que os impostos sobre bebidas alcoólicas não aumentem no país – tema que está em pauta na reforma tributária no Congresso. O setor se vale sobretudo da disseminação de argumentos com informações falsas sobre economia e saúde para defender seus interesses.
✊🏽 Raça e gênero
“O antifeminismo é muito evidente nas igrejas neopentecostais, nos discursos de fundamentalistas religiosos, impulsionado pelo medo de confrontar a maneira como a sociedade é estruturada, de entender quem detém o poder e quem não detém”, afirma a socióloga Camila Galetti, que pesquisa antifeminismo e extrema direita. Em entrevista ao Catarinas, a pesquisadora analisa o discurso antifeminista na sociedade e também no Congresso, com a participação de parlamentares mulheres de direita e centro-direita. “As deputadas federais de extrema direita são recompensadas por estarem naquela posição. Primeiro, porque majoritariamente são mulheres brancas, então há uma questão racial muito forte”, explica.