A queda na produção de ouro dos garimpos e uma romaria no Ceará
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🔸 A produção de ouro em garimpos na Amazônia caiu 84% entre janeiro e julho de 2024, em relação ao mesmo período de 2022. Segundo relatório do Instituto Escolhas, a redução é atribuída às medidas adotadas em 2023 para combater a mineração ilegal, depois da crise humanitária dos Yanomami. O Colabora destaca que as principais mudanças foram a exigência de notas fiscais eletrônicas e o fim da presunção de boa-fé nas transações com ouro. “Se, antes, o metal era facilmente ‘esquentado’ e exportado como ‘legal’, agora a história mudou e aumentaram os custos e o risco das operações ilícitas”, explica Larissa Rodrigues, diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas. Para ela, embora importantes, as medidas são apenas os primeiros passos para transformar de fato o cenário. “Combater a extração ilegal deve ser uma prioridade, porque ela provoca danos ambientais e sociais enormes e de difícil reversão”, afirma.
🔸 As cidades que mais queimam no Amazonas são as que mais produzem carne bovina. Os principais produtores do estado – Lábrea (652,3 mil cabeças), Boca do Acre (475 mil cabeças), Apuí (293 mil cabeças), Manicoré (179,4 mil cabeças) e Novo Aripuanã (95,6 mil cabeças) – também figuram na lista dos municípios que mais concentram focos de incêndio. O Amazonas Atual explica que a criação de gado muitas vezes exige a conversão de florestas em pastagens. Para isso, é comum que fazendeiros recorram às queimadas. O aumento do rebanho no Amazonas foi de 348 mil cabeças em 2023, um crescimento de 17,16% em relação a 2022.
🔸 A propósito: a pecuária com queimada ilegal está entre as práticas que mais ameaçam a Amazônia, ao lado da grilagem de terras, exploração ilícita de madeira e mineração de ouro, segundo estudo do Instituto Igarapé que analisou 144 operações da Polícia Federal em 2022. O Nexo detalha o trabalho e destaca que os crimes não ocorrem isoladamente: são movidos por uma engrenagem que envolve fraude (em 30% das ações), lavagem de dinheiro (20%), posse ilegal de armas (18%) e crimes violentos (5%).
🔸 Morto a tiros, o jovem Guarani Kaiowá Neri Ramos não estava armado. A afirmação de lideranças da Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, em Antônio João (MS), contradiz a versão da Polícia Militar, segundo a qual o jovem teria sido vítima fatal de uma troca de tiros na semana passada. Há acusações de que a cena do crime teria sido adulterada. A Repórter Brasil retoma o caso desde o início e lembra que, ainda no dia 12 de setembro, uma ação da polícia já havia deixado três indígenas feridos. Eles lutam para retomar um território ancestral na Fazenda Barra. No último dia 18, quando Neri Ramos foi morto, os indígenas foram alvo de repressão pela PM depois que os donos da propriedade obtiveram uma decisão na Justiça garantindo acesso à sede da fazenda. A área foi homologada como terra indígena em 2005, mas o processo foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal.
🔸 No Nordeste do Pará, a mobilização de indígenas também enfrenta resistência policial. Mas lá, na região do Vale do Acará, as lideranças conseguiram impedir os agentes de impor as obras da multinacional norueguesa Norsk Hydro em territórios quilombolas, segundo a Alma Preta. Mais de cem indígenas vêm bloqueando, há mais de uma semana, um trecho da estrada de acesso à empresa. A Justiça autorizou o uso do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Pará para furar o bloqueio. Mas, segundo o cacique Turiwara, Paulo Portilho, não existe mandado judicial contra os indígenas. “Só vamos permitir a liberação da obra quando tiver diálogo com as comunidades”, diz ele.
📮 Outras histórias
Espaço histórico da Maré, o Campo da Paty é um ícone para o futebol e a história do complexo de favelas na zona norte do Rio de Janeiro. Localizado na Nova Holanda, o campo desempenha desde os anos 1960 papel crucial no lazer e no desenvolvimento de gerações de atletas mareenses. O Maré de Notícias conversa com moradores e narra a história do campo cujo nome atual tem origem na proximidade com a antiga fábrica de macarrão Paty, que empregava grande parte dos moradores da região. Cria da Nova Holanda, o ex-jogador do Flamengo Léo Oliveira lembra que viu ali grandes nomes, como Dudu Carioca, Berg e Tonzinho, que chegaram a clubes como Cruzeiro, América e Flamengo: “Às vezes, eu ia para o Campo da Paty pra ver eles jogarem, e eu botava na minha cabeça: ‘Um dia eu quero jogar igual ao Berg’”.
📌 Investigação
Candidatos de diversas regiões do país estão promovendo anúncios no Facebook e no Instagram de conteúdos que se opõem à obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 em crianças, disseminando informações falsas de que a imunização seria prejudicial à saúde. A Agência Lupa apurou que, até a manhã de sexta, as publicações somadas já tinham alcançado mais de 600 mil usuários. Esse tipo de anúncio é proibido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O candidato a vereador Douglas França da Silva (PSD), da cidade de Gaspar (SC), foi um dos políticos que impulsionou um vídeo com desinformação sobre a imunização em crianças. O anúncio teve um alcance estimado em 100 mil usuários.
🍂 Meio ambiente
“Estamos numa rota de crise sistêmica hídrica e energética por conta da escassez de água. Os rios do Cerrado já perderam mais de 15% da sua vazão, a projeção é perder entre 30% a 40% entre os anos de 2040 e 2050.” O alerta do diretor do Instituto Cerrados, Yuri Salmona, vem na esteira dos dados alarmantes sobre a devastação do bioma que, em agosto, registrou a maior área queimada do país. O Reset explica como o desmatamento e o fogo comprometem a segurança hídrica, energética, alimentar e a biodiversidade do país. “Todos os setores da economia são fortemente impactados pela redução da água, mas eu destacaria o agropecuário: a irrigação da agricultura consome mais de 50% da água do país, e justamente no período de seca”, completa Salmona.
📙 Cultura
Há 24 anos, o mês de setembro marca a luta pela memória e pela terra no Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, a 38 km do Crato, no Ceará. Lá, acontece uma romaria para lembrar que, há cerca de 90 anos, a comunidade produzia diversos cultivos em grande quantidade. Não havia fome, tampouco faltava água, e a população era liderada pelo beato paraibano José Lourenço Gomes da Silva, filho de escravos alforriados. A forma de vida da comunidade foi vista como “extremista” e, por isso, os moradores foram expulsos do território ou mortos pela repressão do Estado. O Farofafá conta que mais de duas mil pessoas se reuniram no Caldeirão da Santa Cruz do Deserto no último domingo. “Nós temos o Caldeirão como a memória da democratização da terra, como a memória da reforma agrária, do uso adequado da terra e da socialização disso”, diz Angelita Maciel, do movimento de romaria em Juazeiro do Norte, ligada à pastoral da Basílica Nossa Senhora das Dores.
🎧 Podcast
“Quando pautamos o acesso a políticas públicas pelo acesso à Justiça, tendemos a causar um grande mal, porque beneficiamos as pessoas que têm mais dinheiro, mais informação”, afirma Edilson Vitorelli, desembargador do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6). Ele é relator do Anteprojeto de Lei do Processo Estrutural, em tramitação no Senado, que propõe o processo como um meio de mitigar conflitos relacionados a casos que atingem toda uma população. O “Sem Precedentes”, produção do Jota, conversa com Vitorelli e explica o funcionamento dessa ferramenta processual, que pode ser direcionada a questões como vagas em creches, a situação da população carcerária, dos indígenas isolados, dos segurados do INSS, das pessoas que precisam de medicamentos e até mesmo do combate a incêndios.
🧑🏽🏫 Educação
Apesar da tradição oral das línguas indígenas, professores e pesquisadores buscam documentá-las por meio de materiais didáticos e da literatura para preservação da memória e do patrimônio cultural. Segundo o Lunetas, as escolas indígenas são as principais responsáveis pela produção desse acervo. Para o coordenador pedagógico da Escola Estadual Tapi Itãwa, no Mato Grosso, Nivaldo Tapirapé, ainda faltam políticas para o incentivo, a preservação e a difusão da literatura produzida pelos povos indígenas. Ele defende que é preciso formar educadores que entendam as especificidades da educação indígena. Sua própria alfabetização aconteceu por meio do material “Dos Rituais às Guerras”, produzido pelos indígenas, para contar sua história.